Pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro de Maceió - Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Voz progressista dentro dos evangélicos, a teóloga e pastora batista Odja Barros afirma que o PL (projeto de lei) que equipara o aborto ao crime de homicídio repete uma velha máxima usada há séculos: o uso indevido do nome de Deus por homens para manter as mulheres sob seu domínio.
Ela afirma que a Bíblia relata vários casos de histórias onde o jogo de poder usa a vida de mulheres e meninas como uma moeda de troca para obter privilégios e controlar a vida delas.
''É o que está acontecendo agora com esse PL. Ninguém está se importando com a vida das mulheres e meninas. São homens usando o nome de Deus em suas disputas de poder''.
Disse Odja Barros.
Odja é pastora da Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, que historicamente se posicionou ao lado de minorias e grupos vulneráveis. Por causa disso, a igreja chegou a ser expulsa da Convenção Batista Brasileira.
Casamento histórico para igrejas batista ocorreu em dezembro de 2021
Um dos seus campos de estudo e pesquisa é teologia bíblica. Em 2020, lançou um livro sobre leitura feminista na Bíblia. Ela ainda assessora grupos nessa área.
Odja afirma que começou a estudar a Bíblia justamente para rebater o argumento de religiosos fundamentalistas de que a palavra de Deus colocaria a mulher em posição de submissão ao homem.
''Argumentar dizendo 'é bíblico' é terrível. Impede o diálogo, é simplesmente para fechar uma postura conservadora e encerrar a conversa. Eles costumam usar a para impedir o diálogo sem uma visão qualificada do assunto. Eu, ao contrário, me posiciono e discuto a partir dos estudos como especialista na área bíblica''. Diz Odja Barros
Para ela, apesar da cultura patriarcal presente nos escritos bíblicos usados para justificar o domínio dos homens sobre as mulheres, Deus, a fé evangélica e a Bíblia estão do lado das mulheres e meninas vítimas de violência e abuso, não do lado dos estupradores. "Jesus não veio para condenar ou penalizar, mas para salvar", diz Odja Barros
''Usam e abusam da palavra, dizendo que é de Deus, para tentar colocar de novo as mulheres em lugar de submissão e de inferioridade''.
Ela lembra de exemplos dados pelo próprio Jesus nos evangelhos, quando foi trazido a ele uma mulher acusada de adultério para —em nome da lei— ser apedrejada. "Mas Jesus não a condenou e nem penalizou e ainda se colocou em defesa dela, deixando-a ir em paz", destacou.
É importante mostrar como o nome de Deus sempre foi usado para encobrir a violência contra as mulheres na Bíblia. O texto traz a história de Tamar, abusada pelo meio irmão, filho do rei Davi, que abafa o caso, silencia sobre o estupro da própria filha para proteger seu filho homem.
Odja Barros
No sábado, a pastora gravou um vídeo explicando seus argumentos contra o PL do Aborto:
Se aprovado, o PL vai equiparar o aborto após 22 semanas ao crime de homicídio simples, com punição de seis a 20 anos de cadeia —mais, por exemplo, que a pena de estupro (de 8 a 15 anos para estupro de vulnerável). Até mesmo os médicos, que hoje são isentos, poderão ser presos.
''De que espécie de espírito são esses que acendem o altar do sacrifício da morte de meninas e mulheres usando o nome de Deus para acirrar um jogo político de poderes? De que espécie de espírito são esses?''
Odja Barros.
Nesse contexto, cita que grupos religiosos privilegiados desejam retomar com força a supremacia machista branca, mas refuta dizendo que Jesus Cristo foi um dos maiores defensores da causa das mulheres.
''Jesus é a maior inspiração para o feminismo cristão; foi árduo defensor da causa das mulheres. Enfrentou as estruturas machistas e o patriarcado presentes nas estruturas religiosas da época, que tratavam a mulher como um ser de segunda categoria''.
Odja Barros…
Por: Carlos Madeiro Colunista do UOL
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