terça-feira, junho 04, 2024

Em depoimento, Rivaldo diz que não conhecia irmãos Brazão e que Lessa citou seu nome por desejo de vingança

Rivaldo Barbosa, preso na investigação da morte de Marielle, em imagem de abril de 2018 — Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa disse em depoimento à Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (3) que não conhece os irmãos Brazão e que não participou de nenhuma trama para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL).

Rivaldo afirmou ainda que Ronnie Lessa o implicou na investigação com o objetivo de se vingar por ter sido preso, segundo fontes que acompanham o caso.

O depoimento de Rivaldo foi marcado após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e depois de o delegado escrever um bilhete, na cadeia, implorando para ser ouvido pela PF.

O interrogatório foi acompanhado por dois policiais federais, um delegado, dois advogados e um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Segundo fontes próximas ao caso, não há possibilidade no momento de Rivaldo colaborar com a investigação. Isso porque ele afirma ser vítima de uma armação de Ronnie Lessa — ex-policial militar que confessou ter assassinado a vereadora e o motorista Anderson Gomes.

O ex-chefe da Polícia Civil foi preso em 24 de março, no Rio de Janeiro, e enviado para a Penitenciária Federal de Brasília. Ele é suspeito de planejar o crime e de atrapalhar o andamento das investigações.

O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, também foram presos naquele dia.

Os irmãos Brazão são suspeitos de serem os mandantes do assassinato da ex-vereadora e do motorista Anderson Gomes.

Tanto Rivaldo quanto os irmãos Brazão foram citados por Ronnie Lessa, que confessou ser o autor dos disparos contra Mariellle em delação premiada homologada pelo STF em março.

Lessa disse em delação que Rivaldo atuou para tentar proteger ele e os irmãos Brazão da investigação depois do assassinato.

"Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: 'ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso'. Então, ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar", relatou Lessa.

Ascensão um dia antes do assassinato

Rivaldo Barbosa se tornou chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson.

No dia seguinte ao assassinato, Rivaldo nomeou o delegado Giniton Lajes para comandar a Delegacia de Homicídios.

No relatório da investigação, a Polícia Federal afirma que a escolha de um homem de confiança serviu para que os trabalhos de sabotagem se iniciassem no momento mais sensível da apuração do crime.

Os investigadores dizem ainda que Rivaldo e o delegado escolhido por ele só prenderam os executores por pressão imposta pela sociedade e pela mídia — e para preservar os autores intelectuais.

A defesa de Giniton Lajes chamou a acusação contra ele de "infâmia grosseira". Disse que ele é o responsável por descobrir a autoria do crime e não a Polícia Federal.

'Marielle confiava nele', diz mãe

Marinete Silva, mãe de Marielle, lembrou que o ex-chefe da polícia, que antes esteve à frente da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), conhecia a vereadora, que chegou a colaborar com ele. E que se encontrou com Rivaldo após o crime.

"A minha filha confiava nele e no trabalho dele. E ele falou que era questão de honra dele elucidar [a morte da vereadora]", disse Marinete Silva, mãe de Marielle, neste domingo, à GloboNews.

"Além dele confiar, a Marielle garantiu a entrada do doutor Rivaldo no Complexo da Maré depois de uma chacina para ele entrar e sair com a integridade física garantida".

A viúva de Anderson Gomes, motorista de Marielle que também foi morto a tiros no atentado contra a vereadora, afirmou que a suspeita contra Barbosa é um "tapa na cara".


Rivaldo Barbosa, então chefe de Polícia Civil em reunião com os pais de Marielle Franco, em 16 de abril de 2018, pouco mais de um mês após o assassinato da vereadora. À dir, Marcelo Freixo, então deputado estadual pelo PSOL, mesmo partido de Marielle — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo

Por César Tralli, TV Globo e GloboNews — São Paulo

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