A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield. Conselho de Segurança vota resolução sobre cessar-fogo em Gaza — Foto: Angela Weiss / AFP
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, nesta segunda-feira, uma proposta de cessar-fogo para o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, com a libertação dos reféns israelenses no enclave palestino e a devolução dos restos mortais dos já tidos como mortos, além da troca de prisioneiros palestinos. A resolução, proposta pelos Estados Unidos e pressionada pela administração Biden, foi aprovada por 14 votos a favor, nenhum contra e com a abstenção da Rússia.
"A proposta diz que se as negociações demorarem mais de seis semanas para a primeira fase, o cessar-fogo continuará enquanto as negociações continuarem", diz a resolução. O texto também rejeita "qualquer tentativa de mudança demográfica ou territorial na Faixa de Gaza, incluindo quaisquer ações que reduzam o território de Gaza".
Segundo a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, o acordo também reitera o compromisso do conselho acerca de uma solução negociada de dois Estados, "onde israelenses e palestinos viver lado a lado e em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, consistentes com o direito internacional e as resoluções relevantes da ONU".
A resolução começou a ser redigida e negociada poucos dias após o presidente americano, Joe Biden, ter anunciado, em 31 de maio, que Israel havia apresentado um acordo de cessar-fogo. A resolução segue a mesma estrutura estabelecida por Biden, segundo Nate Evans, porta-voz da missão dos EUA na ONU. "Este acordo é a forma como alcançaremos o cessar-fogo com a libertação dos reféns”, disse Evans em comunicado no domingo. "Israel aceitou o acordo. Agora é hora do Hamas fazer isso."
Entraves pendentes
Pouco após a votação, o Hamas celebrou a resolução. "Confirmamos a nossa vontade de trabalhar com os nossos irmãos interlocutores para falar indiretamente sobre como implementar estes princípios que coincidem com o nosso povo e as exigências da resistência", disse o Hamas em comunicado.
Israel, porém, ainda não endossou o plano publicamente, sem afirmar se pretende cumprir o acordo. Um dia depois do anúncio de Biden, o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, emitiu uma declaração que parecia minar a proposta, chamando um cessar-fogo permanente de "impossível".
Diplomatas disseram que, durante as negociações, os EUA pediram aos membros do Conselho de Segurança que acreditassem na sua palavra sobre o posicionamento israelense e se recusaram a incorporar uma linguagem clara no texto de que Israel aceitou o acordo.
O documento afirma apenas que Israel aceitou a proposta dos EUA, mas "apela" ao Hamas para aceitar o acordo. A Rússia, a China e a Argélia, o único membro árabe do órgao, afirmaram em negociações nos bastidores que o texto parecia desequilibrado a favor de Israel.
Um dos principais pontos de discórdia é se o acordo permitiria ao Hamas permanecer no controle de Gaza — um cenário que Netanyahu descreve como uma "linha vermelha".
Outra questão diz respeito ao momento preciso e à logística de um cessar-fogo. Netanyahu disse que Israel lutará até que as capacidades governamentais e militares do Hamas sejam destruídas. Mas o Hamas tornou qualquer progresso num acordo de reféns condicionado ao compromisso israelense de um cessar-fogo permanente e da retirada total das suas tropas de Gaza.
Desde que a guerra começou, em outubro passado, o Conselho de Segurança tem estado num impasse sobre como encontrar uma forma de pôr fim ao conflito e cumprir o seu objetivo de defender a paz e a estabilidade internacionais.
Além da política de elaboração de um acordo de cessar-fogo realista ser extraordinariamente complexa, um grande obstáculo tem sido os Estados Unidos, que já vetou três resoluções de cessar-fogo ao longo dos meses, incluindo uma apresentada pelo Brasil. Para ser adotada, uma resolução exige a aprovação de pelo menos nove dos 15 membros do Conselho, mas sem o veto de nenhum dos cinco permanentes (são eles os EUA, Reino Unido, França, Rússia e China).
No mês passado, um responsável dos EUA disse que Washington também planejava vetar um projeto de resolução da Argélia que descrevia Israel como uma "potência ocupante" em Gaza e apelava à cessação imediata da ofensiva militar israelense na cidade de Rafah.
Por O Globo e agências internacionais — Nova York
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.