Ronnie Lessa durante delação à PF — Foto: Reprodução/TV Globo
Ronnie Lessa conheceu os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão durante encontros com criadores de passarinhos na casa de um deles, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a sua delação, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), essas reuniões começaram em 1999.
Para a Polícia Federal (PF), essa é uma das situações que comprovam a ligação de Ronnie Lessa com os irmãos Brazão — Chiquinho também criava aves.
O Fantástico deste domingo (26) trouxe com exclusividade detalhes da delação de Ronnie Lessa. Foi a 1ª vez que Lessa admitiu ter praticado o crime que resultou na morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Em 2 horas de depoimento gravado, Lessa fala quem são os mandantes, o que receberia pelo crime e o destino da arma usada em 14 de março de 2018.
‘Curiós e bicudos’
Segundo Lessa, como pagamento pelo atentado, os Brazão ofereceram a ele e um de seus comparsas, o Macalé (apelido do ex-PM Edimilson de Oliveira), loteamentos clandestinos na Zona Oeste do Rio, avaliados em milhões de reais.
“Foi construído um criatório de passarinhos que é uma reprodução de curiós e bicudos na área ali próximo onde seriam os condomínios, na área da Chacrinha. Foi quando eu os conheci”, conta Lessa.
Segundo Lessa, o criadouro ficava na casa de um homem que a PF identificou como Santiago José Geraldo, o Santiago Gordo. A residência, segundo Lessa, era próxima do haras dos irmãos Brazão e dos terrenos prometidos. A informação foi confirmada pela Polícia Federal.
Haras da família Brazão — Foto: Reprodução
Em depoimento na PF, Rosemeri Santos Geraldo, viúva de Santiago, disse que Lessa ia à casa dela para jogar sinuca e beber cerveja com os Brazão.
“Da obra [da casa] do Santiago você via o haras. Então quer dizer, aquele ambiente ali de passarinho, cavalo e mata, porque é um lugar que, se não tivesse favelizado, era um lugar bonito, então aquele ambiente ali era uma coisa bacana até pra respirar. Virou uma frequência”, contou Lessa.
A PF suspeita que Lessa tenha sido levado ao local por Macalé.
Em relatório da CPI das Milícias, de 2008, Macalé foi citado por integrar uma milícia em Osvaldo Cruz que tinha os irmãos Brazão como chefes. Segundo Lessa, Macalé frequentava a casa de Santiago “5 vezes por semana”.
Rosemeri disse na PF que não sabia o que o grupo conversava por não ficar por perto, mas lembrou que o seu cão na época, um rottweiler, não gostava da presença de Macalé. Ela também disse se recordar da relação próxima do marido com Chiquinho Brazão.
Apontado nas investigações como parceiro de Ronnie Lessa, Macalé foi morto em novembro de 2021.Na ocasião, Macalé foi surpreendido por pistoleiros quando colocava gaiolas de passarinho em seu veículo. Até o momento, os autores do crime não foram descobertos pela polícia.
Lessa conta na delação que foi Macalé que trouxe o pedido para matar a vereadora Marielle Franco. O miliciano também foi o intermediário do encontro entre Ronnie Lessa e os irmãos Brazão, em uma rua, próxima a um hotel na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade.
A PF considera que esse hobby de Chiquinho Brazão de criar pássaros explica a proximidade e a ligação com Macalé. Em setembro de 2023, no plenário da Câmara dos Deputados, Chiquinho recebeu representantes da Federação dos Ecos Passarinheiros.
Em seu relatório, a Polícia Federal explicou que não encontrou elementos que comprovem a presença de Domingos Brazão ou de Ronnie Lessa nesses eventos.
O que dizem os citados
O advogado Cléber Lopes, que defende Chiquinho Brazão, explicou que não há elementos de prova “que sustentem a versão do colaborador”:
“Em verdade, há inúmeros elementos e circunstâncias que a desmentem. A versão de Ronnie Lessa é uma desesperada criação mental na busca por benefícios. São muitas as contradições, fragilidades e inverdades, as quais ficam mais claras a cada diligência e serão ponto a ponto demonstradas na defesa que será apresentada”.
Em nota, os advogados Marcio Palma e Roberto Brzezinski, que defendem Domingos Brazão, explicaram que “não existem elementos que sustentem a versão de um assassino confesso”. “O próprio relatório da Polícia Federal, em várias ocasiões, admite não haver provas da narrativa apresentada pelo inidôneo colaborador. A fantasiosa versão de Ronnie Lessa é repleta de contradições e fragilidades que ficarão ainda mais evidentes à medida que forem submetidas à criteriosa análise do STF”.
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