terça-feira, maio 21, 2024

Preso, Ronnie Lessa faz redação com crítica a frase de ex-ministro Paulo Guedes, sobre fome no Brasil: ‘Espanto e indignação’


O ex-policial militar Ronnie Lessa participou do 7º concurso de redação da Defensoria Pública da União (DPU), com o tema “Prato feito: alimentação de qualidade é sinal de dignidade”. O texto produzido por ele aborda uma declaração do ex-ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, em setembro de 2022, de que considerava impossível que existam 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil.


A redação foi enviada na semana passada pelo diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ao juiz corregedor da unidade, onde Lessa está preso preventivamente pelos homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes e cumpre pena por outros crimes.

No ofício ao magistrado, é informado que os 96 participantes do concurso poderão receber 12 horas de atividades de leitura e escrita para fins de remição da pena. Como O GLOBO mostrou, o ex-PM elabora mensalmente resenhas de livros sobre coaching, biografia militar e até história de guerra.

No texto, de 30 linhas, Lessa discorre sobre a fala de Guedes, afirmando que ele contrariou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de outros “respeitados institutos de pesquisa”. Na ocasião, o então ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse, em um evento da Federação da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave):

— O consumo dos mais frágeis está garantido com os programas de transferência de renda. Por isso, é impossível ter 33 milhões de pessoas passando fome.
A redação escrita pelo ex-policial militar Ronnie Lessa — Foto: Reprodução

Na redação, o ex-PM destaca que “foi com espanto e indignação” que ele, “como cidadão brasileiro”, leu essa notícia, na época.

“Todos sabem que a fome é e foi através dos tempos um dos maiores e mais impactantes motivadores de guerras e mortes causadas à humanidade. Sabemos que em todo o globo a fome foi utilizada de maneira extremamente cruel como o mais sombrio instrumento de guerra”, escreveu.

Lessa continua relatando exemplos. “Podemos citar fatídicos exemplos na história moderna de como ela foi utilizada para atingir obscuros objetivos, tanto territoriais e políticos quanto étnicos e ideológicos, como a provocada durante e imposta durante a Revolução Russa, em que vitimou principalmente os camponeses que tinha 100% de suas safras confiscadas, os mesmos que produziam os alimentos que sustentavam as tropas revolucionárias. Um triste e impiedoso contrassenso”.

No final do texto, o ex-PM ainda pondera: “Sabemos que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas não nos falta alimento. Nos falta vontade, nos falta decência. A fome não mata apenas o corpo. Ela mata os costumes, a cidadania, a dignidade. Alimentar a população com qualidade é alimentar sonhos, é despertar a prosperidade, é resgatar a dignidade”.

Por Paolla Serra — Brasília

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