quarta-feira, março 13, 2024

Após silêncio na PF, coronel do Exército suspeito de atuar em minuta golpista pede novo depoimento

Advogados pediram nesta quarta (13) ao STF, nova data para oitivaFabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Após ficar em silêncio ao ser intimado a depor na Polícia Federal, o tenente-coronel do Exército Ronald Ferreira de Araújo Júnior solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que seja marcado um novo depoimento. Ele é investigado por supostamente participar de uma organização criminosa e, segundo o inquérito, atuou na elaboração de uma minuta que embasaria um decreto de golpe de Estado.

Lotado no Centro de Comunicação do Exército Brasileiro, Araújo Júnior foi um dos alvos da operação deflagrada pela PF há cerca de um mês, atingindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministros e ex-assessores dele investigados por tentativa de golpe de Estado no país e invalidação das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva.


“A defesa compreende que, após informes pela imprensa de que investigados teriam feito novos relatos, seria importante, mesmo com parcial conhecimento da acusação que há contra ele, esclarecer questionamentos de sua relação com Mauro Cid e os demais investigados, evitando especulações sobre sua participação, negada veemente em qualquer planejamento, ideia ou sugestão a abolição ao estado democrático de Direito”, informaram, em nota, os advogados João Carlos Dalmagro e Lissandro Sampaio.


De acordo com o inquérito, Araújo Júnior teria recebido de Cid, em 27 de novembro de 2022, um arquivo em PDF com os seguintes títulos: “Levantamento de ações do TSE em desfavor do candidato Jair Bolsonaro” e “Levantamento de ações no STF em desfavor do governo federal”. O segundo documento enumera uma série de decisões de ministros da Corte em desfavor do ex-presidente.

As investigações apontam que esse arquivo, que no entendimento de Cid compilaria “práticas de atos ilegais por parte dos tribunais superiores, desvirtuando a ordem constitucional, seria o complemento da “minuta de decretação do estado de exceção, para reverter a ordem jurídica do país”.

“Ressaltamos que a sua vida é iniciada na escola militar desde sua adolescência, é um militar brasileiro por vocação e convicção e que nunca esteve a serviço de um governo, jamais tomou lado por política ou pessoas. Serve ao exército Brasileiro e ao Brasil, sem jamais questionar eleições, candidatos ou decisões políticas e sem colaborar de qualquer forma para reformar poderes estabelecidos na constituição federal”, afirma a defesa de Araújo Júnior.


Além do tenente-coronel, o ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Marcelo Costa Câmara também solicitou que seja marcado um novo depoimento, após ficar em silêncio ao ser intimado. Ele foi preso por suspeita de participar de uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado.

— A intenção é que ele seja ouvido, preste todos os esclarecimentos e demonstre estar contribuindo com a investigação. Se dessa contribuição for verificado, por parte de quem quer que seja, que é o caso de lhe oferecer qualquer tipo de benefício, estamos dispostos a ouvir a proposta que venha eventualmente a ser formulada a partir de suas declarações — explicou o advogado Luiz Eduardo Kuntz.

Para a PF, Câmara teria integrado um núcleo, composto pelo general Augusto Heleno e por Mauro Cid e por Marcelo Câmara “que teria monitorado a agenda, o deslocamento aéreo e a localização” do ministro do STF Alexandre de Moraes, “com o escopo de garantir a captura e a detenção do então chefe do Poder Judiciário Eleitoral nas primeiras horas do início daquele plano”.

As investigações sobre uma suposta trama em que integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL) teriam acompanhado o itinerário, o deslocamento e a localização do magistrado, visando capturá-lo e detê-lo após a assinatura de um decreto de golpe de Estado.

Por Paolla Serra — Brasília

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