O governo federal pretende gerar 30 mil empregos e mais que dobrar a produção de óleo diesel na Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco, com mais de US$ 17 bilhões até 2028.
Os anúncios foram feitos nesta quarta-feira (17), véspera de uma visita do presidente Lula (PT) à RNEST. A entrevista coletiva aconteceu na sede da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
A previsão do governo federal e da Petrobras é aumentar a capacidade de processamento de barris de petróleo de 100 milhões para 260 milhões. Isso deve ocorrer em três grandes etapas. A primeira, já em 2025, vai aumentar a capacidade em 30 milhões de barris. As outras, vão acrescentar mais 100 milhões de barris até 2028.
Segundo Mariana Cavassin, gerente executiva de Projetos de Desenvolvimento da Produção da Petrobras, uma das etapas deve começar a operar neste ano: a construção da primeira unidade SNOX do refino brasileiro, que será responsável por transformar óxido de enxofre (SOx) e óxido de nitrogênio (NOx) em um novo produto para comercialização.
“Vamos ter entregas parciais. Quando as unidades mais simples forem concluídas, passam a operar. Vamos ter um pico de atividade em 2025. Esses investimentos vão gerar 10 mil empregos diretos e 30 mil, no total. Vamos acrescentar 13 milhões de litros por dia à capacidade de produção [de diesel] e contribuir para a autossuficiência do país em diesel”, afirmou.
Márcio Maia, gerente geral da RNEST, explicou que atualmente a refinaria responde por 6% da produção nacional de diesel. Com a total ampliação da capacidade, essa parcela deve subir para 10%, aproximadamente.
“É uma refinaria bastante importante, com projeto todo desenvolvido no Brasil, pensada desde o início com o objetivo de ajudar o Brasil a reduzir a importação de diesel. É uma refinaria que, para cada 100 litros de petróleo, converte para 70 litros de diesel. Ela foi pensada para produzir diesel, que é essencial para a circulação de bens e serviços”, afirmou.
Ainda em 2024, segundo a Petrobras, também começam as obras para a ampliação da produção do Trem 1 (Revamp), o que vai proporcionar aumento de carga, melhor escoamento de produtos leves e maior capacidade de processamento de petróleo do pré-sal. A expectativa de conclusão é no primeiro trimestre de 2025.
Outra iniciativa relacionada à RNEST é o Programa Autonomia e Renda, que vai oferecer cursos de capacitação profissional, nas modalidades de formação inicial continuada (FIC) e cursos técnicos, a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
A primeira fase do programa conta com parceria do Sesi e do Senai, bem como Institutos Federais de Tecnologia, Ciência e Inovação.
O objetivo é fazer com que essas pessoas participem das obras e não seja necessário importar mão de obra de outros estados.
“É um programa de R$ 350 milhões em quatro anos, com objetivo de capacitar 7 mil pessoas especificamente em Pernambuco, para criar oportunidades para que as pessoas estejam aptas para processos seletivos das empresas”, declarou Márcio Maia.
Obras paradas desde 2015
As obras da Refinaria Abreu e Lima, no Porto de Suape, em Ipojuca, serão retomadas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O serviço está paralisado desde o início das investigações da Operação Lava Jato, em 2015.
Até então, a refinaria tinha custado US$ 18,9 bilhões à Petrobras, o que, na época, equivalia a R$ 66,5 bilhões. O custo previsto inicialmente era de US$ 2,4 bilhões.
O projeto foi anunciado em 2005, com a presença dos presidentes Lula e do então presidente da Venezuela Hugo Chávez. Confira a cronologia:
Em dezembro de 2005, ano do anúncio da obra, os então presidentes Lula e Hugo Chávez lançaram a pedra fundamental da obra;
Dois anos depois, em 2007, Chávez reclamou do atraso no cronograma, mesmo sem ter enviado recursos financeiros da Venezuela. Em setembro do mesmo ano, Lula foi até Ipojuca para acompanhar a terraplanagem do terreno e a previsão de inauguração era agosto de 2010;
Em 2009, Dilma Roussef (PT), na época ministra-chefe da Casa Civil, visitou o canteiro de obras e anunciou uma nova data de inauguração: o primeiro semestre de 2011;
Em 2010, o Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação dos serviços, pois encontrou indícios de sobrepreço. Já a Petrobras disse que os gastos não eram abusivos;
Em 2013, a Venezuela desistiu da parceria. No final do mesmo ano, a então presidente Dilma Rousseff veio a Pernambuco e garantiu a conclusão da obra em 2014;
Em março de 2014, a Operação Lava Jato começou investigar um esquema de corrupção na Petrobras, atingindo as obras. As construtoras atrasaram os salários de 45 mil operários, houve protestos e várias demissões;
Em dezembro de 2014, a Refinaria Abreu e Lima começou a funcionar parcialmente;
Em 2016, mais de oito anos após o início das obras, apenas uma das duas unidades de refino ficou pronta;
No mesmo ano, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi condenado por fazer parte de organização criminosa e por lavagem de dinheiro, crimes ligados a desvios de recursos na construção da refinaria;
Em março de 2017, a Polícia Federal indiciou o ex-gerente da refinaria, Glauco Legatti, por corrupção passiva. De acordo com o indiciamento, ele recebeu vantagens indevidas para obter benefícios e concessões no âmbito do contrato da Rnest, nos anos de 2013 e 2014.
Por Pedro Alves, Artur Ferraz, g1 PE
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