Plenário da Casa Aureliano de Menezes (Foto: Lúcia Xavier)
Na manhã desta segunda-feira (28/08), a Câmara Municipal de Petrolândia realizou a segunda sessão ordinária do mês, com o marasmo habitual das reuniões da casa. Na leitura da pauta, apenas o cabeçalho dos documentos é lido, sem justificativas para homenagens e indicações, por exemplo, ao contrário do que ocorria em tempos melhores vividos pela Casa Aureliano de Menezes.
A abertura da sessão é surreal. Todos devem "ficar de pé" para ouvir a reprodução do hino da cidade, num suposto respeito ao símbolo oficial. Na verdade, os vereadores deveriam ouvir o Hino de Petrolândia de joelhos sobre a Lei Orgânica, diante da Bandeira de Petrolândia, chorando lágrimas de sangue sobre o Brasão, também símbolos oficiais, já quase esquecidos. E o hino recebe mais aplausos que alguns vereadores. Hoje, por exemplo, somente o hino foi aplaudido.
O clima no plenário poderia ser solene, mas é fúnebre. A maioria dos vereadores permanece em silêncio do início ao fim da sessão, na tentativa de "enterrar logo o defunto" e ir fazer outra coisa. Alguns edis tanto se escondem tanto do microfone que, quando não falam, ninguém sente falta. Talvez devido à alegada "harmonia" reinante na Câmara de Vereadores, um pode pensar - e falar - por todos. No entanto, o escritor Nelson Rodrigues alertava, décadas atrás, que "toda unimidade é burra. Quem pensa com a unimidade, não precisa pensar".
Apenas dois ou três "representantes do povo" fazem revezamento na tribuna, quinzenalmente, para renovar as costumeiras críticas e/ou bajulações, e, apesar de muito ser falado sobre o papel "fiscalizador" dos vereadores, tudo parece artificial, bonito no discurso e distante na prática. Por exemplo, um dos projetos aprovados hoje determina a proibição de fogos de artíficio com estampidos de Petrolândia. É irônico saber que esse é o recurso mais usado em festas, arrastões de campanhas e entregas de obras e equipamentos, além de visitas de autoridades dentro do município. Esperamos que a lei "pegue", para o bem de enfermos, autistas e animais.
A recente reforma no prédio da Câmara, com a construção de mais um "puxadinho", também denota a cegueira corporativa dos vereadores. Não se viu em frente ou próximo à obra uma placa, sequer um papel A4 colado na parede com informações sobre valor, origem de recursos, construtora e licitação ou dispensa dela, nem o nome do engenheiro responsável pelo projeto. O que se viu foi uma longa extensão puxando energia de fora da Câmara para os equipamentos cuja fiação ficava suspensa, com pregos batidos em uma Palmeira Imperial.
É remoto o tempo em que as sessões da Câmara tinham oposição e situação digladiando-se verbalmente, em duelos entuasiasmados e, muitas vezes, bem-humorados e cômicos. Só se conforma com o silêncio sepulcral dos atuais vereadores quem não viu o oposicionista Jorge Viana dizer ao colega Juarez Patriota que o então vereador governista "defendia o indefensável". Mais distante ainda estão as sessões entremeadas por exclamações do finado Joãozinho, dando apoio a seus representantes.
Fazem falta, ainda, os discursos inflamados, mas respeitosos, do ex-vereador Rogério Novaes (atual vice-prefeito), os discursos ponderados e plenos de propriedade do ex-vereador Carlinhos do Banco do Brasil. Hoje, até quem não discursava tão bem durante seus mandatos, como os ex-vereadores Zé Pezão e Eudes Fonseca, foram grandes oradores se comparados à maioria dos atuais ocupantes das cadeiras do Legislativo.
Lúcia Xavier, do Blog de Assis Ramalho