24.fev.2021 - O então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens - Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Aguirre TalentoColunista do UOL
O indiciamento é um ato no qual a autoridade policial imputa a prática de um crime a um investigado. Depois disso, o caso será enviado ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, para análise sobre a eventual apresentação de uma denúncia contra Bolsonaro e seus aliados.
O ex-presidente já foi condenado na esfera eleitoral à inelegibilidade pelo prazo de oito anos, o que o impede de participar da próxima eleição presidencial. Essas investigações da PF são na esfera criminal. Caso ele seja alvo de uma condenação criminal, a depender do nível da sua pena, Bolsonaro poderia até mesmo ser preso.
Essa tentativa de realização de um golpe de Estado, de acordo com os inquéritos em andamento, tem conexão com a atuação das milícias digitais que atacaram as instituições democráticas nos últimos quatro anos e outros fatos.
Os inquéritos das fake news e das milícias digitais abrangem diversas frentes de apuração, como o desvio de joias para venda no exterior e as fraudes nos certificados de vacina. Os investigadores identificam uma conexão entre o cometimento desses delitos e a organização criminosa montada para realizar ataques às instituições democráticas. Para a PF, as milícias digitais também abriram caminho à obtenção de vantagens indevidas do Estado brasileiro pelo grupo do ex-presidente.
Apenas ao fim desse conjunto de investigações é que a PF irá definir quais crimes estão caracterizados. Havia uma expectativa de finalizar essas apurações até o fim do ano, mas o grande volume de provas sob análise atrasou o andamento do caso.
Pelos fatos analisados até agora, há suspeita de delitos como organização criminosa, peculato (desvios de recursos públicos) e atos contra o Estado Democrático de Direito.
* O inquérito das milícias digitais teve início após o arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos. Nessa investigação, a PF passou a se aprofundar na existência de grupos estruturados em redes sociais para atacar as instituições democráticas.
* A PF, agora, busca finalizar as diligências sobre esses temas para identificar quais condutas criminosas serão imputadas a Jair Bolsonaro. Essa apuração inclui a análise das quebras de sigilo bancário, de informações de cooperação internacional com os Estados Unidos e o conteúdo de celulares apreendidos.
Um personagem-chave do bolsonarismo foi essencial para o aprofundamento das investigações: o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Primeiro, a PF conseguiu acessar os diálogos do celular de Mauro Cid através da quebra do sigilo telemático do backup de seus dados. Com isso, a Polícia Federal obteve indícios de desvios de recursos de cartões corporativos, fraudes em cartões de vacina e de atos preparatórios para um golpe de Estado.
Preso no mês de maio, Mauro Cid fez um acordo de delação premiada com a PF, homologado em setembro pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Como revelou o UOL, Cid deu detalhes aos investigadores sobre tratativas para a realização de um golpe de Estado mantidas por Bolsonaro após sua derrota nas eleições do ano passado. Também revelou que a então primeira-dama Michelle e um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo (PL-SP), atuavam como incitadores de um possível golpe.
Jair Bolsonaro e sua defesa têm negado a participação em tentativas golpistas ou outros crimes.
Quando as declarações de Mauro Cid vieram a público, a defesa afirmou que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal".
Bolsonaro também já negou relação com os certificados falsos de vacina e o esquema de venda das joias.
Sobre a inelegibilidade, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já disse publicamente que Bolsonaro foi "perseguido" pelo Tribunal Superior Eleitoral. "Foi perseguido pelo TSE, foi injustiçado. Ele jamais podia ficar inelegível", afirmou, em uma entrevista à "Folha de S.Paulo".
Procurada, a defesa de Jair Bolsonaro ainda não se manifestou
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