domingo, dezembro 17, 2023

Desemprego em queda, alta do PIB, inflação: o que os números do fim de 2023 dizem sobre a economia

Foto: Miguel Ângelo/CNI

Com taxa de desemprego em queda, crescimento da atividade econômica e inflação menor, o ano de 2023 deve terminar com um saldo positivo para a economia brasileira, afirmam especialistas consultados pelo g1.

A taxa de desemprego fechou o trimestre móvel terminado em outubro com o menor índice desde fevereiro de 2015, de 7,6%, e deve fechar o ano com média de 8%.

O Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar o ano em 2,9%, enquanto a inflação deve chegar a 4,2% –menor que os 5,6% de 2022. As estimativas são da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Quando se começa a pensar no início do ano, esperávamos menos crescimento e mais inflação. Então, acho que é uma boa notícia”, afirma a coordenadora do Boletim Macro da FGV, Silvia Matos.

"Entendo que os indicadores econômicos em geral mostram uma situação positiva em 2023, inclusive melhor do que nós economistas, em grande maioria, projetávamos para este ano”, declarou o economista-chefe da Warren Investimentos e ex-diretor executivo do Instituto Fiscal Independente, Felipe Salto.

Salto explica que o PIB potencial – ou seja, a capacidade produtiva — está se recuperando depois de cair durante a pandemia de Covid-19.

“O que permite que você tenha uma coisa que parece contraditória, quando olhamos à primeira vista, mas não é: o desemprego em patamares muito baixos e a inflação não pressionada, ao contrário, a inflação em redução, até surpreendendo positivamente a cada resultado mensal”, destacou.

Efeito das commodities

Segundo Matos, da FGV, os fatores para a redução da inflação passam pelo “choque de preços” das commodities -- que aumentaram cerca de 20% em 2022, mas caíram em 2023 --, pela política monetária do Banco Central e pela valorização da moeda nacional.

Matos destaca, contudo, o aumento na oferta de alimentos. A supersafra deste ano teve efeitos tanto na inflação quanto na atividade econômica.

A inflação domiciliar, que afeta principalmente alimentos e tem impacto direto sobre as contas das famílias mais pobres, deve ter uma deflação de 0,8% este ano, segundo Matos. Em 2022, houve inflação de 13,2%.

“Isso é uma coisa muito boa. Sabemos que alimentos são uma base importante, principalmente para famílias de mais baixa renda. [...] Para famílias de baixíssima renda, pensando aí no Bolsa Família, um terço da cesta deles é esse tipo de alimentação. É muito alto”, afirmou.

Além disso, Matos destaca a redução na inflação de bens industriais de 9,5% em 2022 para 1% este ano, segundo estimativa da FGV.


“Uma parte relevante da inflação vem com uma desaceleração e muito mais creditado, não só [porque] teve a política monetária, mas muito efeito desse choque de preços. Não foi só no Brasil, todo mundo foi beneficiado por essa redução de preços industriais, commodities, energia”, declarou.

Atividade econômica

Para Matos, a trajetória do PIB desse ano conta uma história diferente de 2022, apesar de os resultados serem parecidos: 3% em 2022 (valor revisado) e 2,9% este ano.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia.

A diferença entre os dois anos está nos setores que mais contribuíram para a atividade econômica. A maior parte da contribuição com o PIB em 2022 veio da indústria e dos serviços. Já neste ano, o agronegócio e as atividades de extração devem responder por mais da metade do PIB.

“Foi um ano muito bom, sem dúvida, pelo clima. Apesar do Rio Grande do Sul ter tido seca no início do ano, tivemos uma brutal safra de soja, de milho, isso ajudou a baratear ração, ajudou nas carnes”, afirmou.

Já a indústria e os serviços foram afetados pela política monetária, com a manutenção dos juros a taxas mais altas. O ano começou a taxa básica de juros da economia, a Selic, a 13,75%. Na quarta-feira (13), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu a taxa de 12,25% para 11,75%.

Perspectivas para 2024

Segundo Salto, a taxa de crescimento em 2024 deve ser menor, “mas é uma dinâmica que provavelmente vai ser puxada pelo consumo e pelo investimento no ano que vem em razão da redução dos juros que já está acontecendo há algum tempo”.

Já para a inflação, a projeção da Warren é de 3,5% no ano que vem, sem o efeito do El Niño. A meta do governo é de 3%, mas a avaliação é que há uma desaceleração ou controle da inflação.

A FGV projeta uma inflação de 4,1% para 2024. Para Matos, o cenário para a inflação de alimentos deve ser menos animador que em 2023, com elevação nos preços por causa dos fenômenos climáticos no final deste ano.

“Estamos vendo já previsões de uma safra menor e o risco é negativo porque vemos o Centro-Oeste, que produz bastante soja e milho, com chuva irregular, clima bastante quente. Pode ser que tenhamos uma leve queda do agro, depois de crescer (...) esse ano”, afirmou.

O crescimento menor do agronegócio também deve afetar o PIB. A projeção atual da FGV é de um crescimento de 1,4% em 2024 -- quase metade do previsto para 2023.

Por Lais Carregosa, g1 — Brasília

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