Em pauta a substituição dos combustíveis fósseis por energia limpa, uma vez que os hidrocarbonetos do carvão, gás natural e petróleo, são os principais geradores de gases de efeito estufa (foto: Nikolay Doychinov/AFP)
No ano mais quente dos últimos 1,2 mil séculos - o cálculo é do Serviço Meteorológico Europeu - duas semanas cruciais podem definir a habitabilidade futura da Terra. Cientistas e especialistas em mudanças climáticas alertam que a janela para as metas do Acordo de Paris serem atingidas está quase fechada. Há tempo, ainda, predizem modelos matemáticos. Por isso, a 28ª Conferência do Clima (COP28), que começa na quinta-feira e vão até 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes, é considerada a mais importante desde 2009, quando o pacto climático foi costurado, na capital francesa.
No centro das negociações de 196 países, está a substituição dos combustíveis fósseis por energia limpa. Os hidrocarbonetos do carvão, gás natural e petróleo, são os principais geradores de gases de efeito estufa. Acumulados na atmosfera, eles impedem que parte da radiação solar escape para o espaço, um mecanismo essencial para garantir a vida no planeta. Porém, em excesso, também podem ser os responsáveis por acabar com ela.
Elaborado há 15 anos, o Acordo de Paris tem por objetivo garantir que a temperatura global não suba mais que 2ºC em comparação ao século 19 — quando a atividade industrial nos países desenvolvidos começou a despejar toneladas de CO2 e outros gases de efeito estufa na atmosfera. Preferencialmente, diz o documento internacional, o aumento deve se limitar a 1,5ºC até 2100, porque esse parece o limiar suportável para a saúde humana e os sistemas naturais.
Para que a meta dos 1,5ºC seja possível, os cálculos indicam a necessidade de reduzir as emissões em 45% até 2030 em comparação a 2010, atingindo a neutralidade — quando se captura o tanto de CO2 que se lança — em 2050. O problema é que, em vez de cortar, os países aumentaram a produção dos gases de efeito estufa e, segundo a Coalização Rede Zero da Organização das Nações Unidas, no ritmo atual, em sete anos haverá 9% mais hidrocarbonetos impedindo que o calor escape da Terra.
As projeções são feitas usando as contribuições nacionalmente determinadas (NDC, sigla em inglês), metas individuais com as quais os países se comprometeram. Periodicamente, os signatários do acordo enviam relatórios para mostrar o que foi feito e, até agora, os balanços são negativos. O último, publicado em 2022 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a dizer que o mundo está no caminho de uma catástrofe climática.
As declarações de Guterres sobre o desempenho dos países no acordo climático costumam ser enfáticas — é dele a expressão "ebulição global", para definir o estágio atual do aquecimento do planeta. Porém, a ciência mostra que não há exageros nas falas do português. Mesmo se, numericamente, aumentos decimais na temperatura pareçam pequenos, na prática, eles significam mais mortes por calor, menos solo para a agricultura e mais eventos extremos, como os incêndios florestais, as enchentes e os ciclones observados no Brasil e no mundo em 2023.
Autodestruição
"A civilização global está no caminho da autodestruição e precisamos urgentemente de uma verdadeira liderança, e não apenas de ajustes", destaca James Renwick, professor de geografia física da Universidade Victoria, em Wellington, na Nova Zelândia. "Precisamos de compromissos mais fortes para reduzir as emissões, e a hora de reduções sérias de emissões é agora", diz. Ele reforça que os eventos climáticos de 2023 não podem ser ignorados no debate. "Levando-se em conta os recentes acontecimentos extremos e as temperaturas elevadas recorde, a pressão é realmente grande e seria útil ver declarações realmente honestas sobre a questão, à medida que os governos trabalham para suas novas NDCs para 2025."
Wilson, diretor do Instituto de Saúde Ambiental Aplicada de Maryland, nos Estados Unidos, defende que o maior emissor mundial de gases de efeito estufa tome frente no combate à intensificação das mudanças climáticas. "Já passou da hora de os Estados Unidos desempenharem o seu papel para travar uma crise que alimenta um sofrimento imenso e que afeta desproporcionalmente a maioria global. Na COP28, o presidente (Joe) Biden deve trabalhar para garantir que a ciência interseccional e a justiça climática estejam na vanguarda."
Por Correio Braziliense.
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