Fruto de um projeto aprovado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), o livro conta com ensaios assinados por Marcus Joaquim Maciel de Carvalho (“O tráfico de escravos depois de 1831: história e esquecimento no Nordeste insurgente”); Ezequiel David do Amaral Canário (“A escravidão e seus espaços no Recife oitocentista”); Robson Pedrosa Costa (“Escravidão e lugares de memória negra em Olinda”); Marcelo Mac Cord (“Irmandades negras em Pernambuco”); Gabriel Navarro de Barros (“Entre ruas e praças, o Teatro de Santa Isabel e a Faculdade de Direito: lugares de memória do abolicionismo e de lutas judiciais por liberdade no Recife”); Janine Primo Carvalho Meneses (“Quilombro, passado presente”); Ivaldo Marciano de França Lima (“Sambistas, maracatuzeiros e afoxezeiros: entre as memórias e a história, lugares de memória de homens e mulheres que fazem o Carnaval do Recife”); Raphael Souza Lima (“Àgò Iónà: uma breve história dos xangozeiros do Recife”); Rosely Tavares de Souza (“O lugar de memória da escravidão no Recife e os desafios para a implementação da Lei nº 10.639/2003 na Educação Básica”) e de Isabel Cristina Martins Guillen (“O debate sobre a memória da escravidão e do tráfico atlântico de africanos escravizados: lugares de memória na Região Metropolitana do Recife”).
Como um trabalho de história pública, o livro colabora inventariando em Pernambuco lugares de memórias na perspectiva de estimular o debate sobre o apagamento. Apesar do amplo arco de análise, a obra foca, em especial, o pós-Abolição (momento em que houve a queima dos arquivos da escravidão por ordem ministerial) -, avaliando de que forma a escravidão foi tratada historicamente e como se manteve na memória coletiva do Brasil. “O pós-Abolição se constitui num longo período em que o trauma (da escravidão) foi sendo tratado, muitas vezes de maneira enviesada, de acordo com os ditames da época, pautadas sobretudo pelas teorias raciais que inferiorizam os afrodescendentes e pelo ideal de branqueamento da população brasileira”, indica a organizadora.
A história do Recife está mergulhada no sistema escravista. No passado, a cidade foi o quinto maior centro do tráfico de seres humanos do mundo. Chegou a ter 10% de sua população na condição cativa (década de 1880) e as redes de influência política e econômica protegeram fortemente o rentável negócio. Apesar desse cenário, o que se observa na cidade e em sua região metropolitana é o esquecimento dessas memórias. “Caminhando pelas ruas do Recife, lembramos que a cidade foi palco de mais de 300 anos de escravidão. Esta observação, naturalmente, se estende às cidades de Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Igarassu. Onde estão as marcas dessa história nas cidades? Podemos procurar os lugares que lembram esse período, mas não encontraremos com facilidade. Parece que a história da escravidão e da cultura considerada negra, herança da diáspora, permanece invisibilizada na cidade”, afirma Isabel Guillen.
Dessa forma, o livro percorre bairros e cidades, pontua a importância histórica de lugares de encontros e de resistências da cultura negra, suas manifestações artísticas, religiosas, personagens e movimentos contextualizando o papel decisivo na formação da sociedade e na construção de identidades. Estão relacionados na obra locais como a Rua do Bom Jesus (que serviu para quarentena e venda de escravizados), o Pátio do Carmo (onde a cabeça de Zumbi dos Palmares teria sido exposta após assassinado), o Pátio do Terço (que abrigou terreiros e agremiações feitas por negros e onde acontece a Noite dos Tambores Silenciosos), entre outros tantos.
O livro aponta ainda para desafios que se apresentam, como, por exemplo, na educação. Passados 15 anos da implementação da obrigatoriedade do ensino da história e cultura da África e dos afrodescendentes, a temática, como pontua a historiadora Rosely de Souza, não vem sendo atualizada nas salas de aulas de escolas do Recife e região. “Precisamos refletir sobre o que, de fato, consolida-se na formação desses estudantes quando tratamos do tema escravidão e quais foram as proporções desse acontecimento na cidade em que vivem. Infelizmente, poucos conseguem caminhar pela cidade do Recife e estabelecer um sentido entre os lugares que transitam e a escravidão”, assegura.
Sobre os autores:
Ezequiel David do Amaral Canário - Licenciado em História pela UFPE e mestre em História. É autor do livro É mais uma scena da escravidão: suicídio de escravos na cidade do Recife, 1850–1888 e participou da obra História da escravidão em Pernambuco (Ed. Universitária da UFPE, 2012). Atualmente é professor de História da Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes e da Prefeitura Municipal de Igarassu.
Gabriel Navarro de Barros - Licenciado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFPE (2014) e doutor também pelo mesmo Programa (2020). Atualmente, é professor da rede estadual de ensino de Pernambuco.
Isabel Cristina Martins Guillen - Doutora em História pela Universidade de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 2006. Professora titular do Departamento de História da UFPE, do Programa de Pós-Graduação em História da mesma universidade e do Profhistória.
Ivaldo Marciano de França Lima - Doutor em História pela UFF. Professor adjunto da Uneb DEDC II (Alagoinhas/BA), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento (Uneb/UFBA e IFBA) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA). Líder do Grupo de Pesquisa África do Século XX e editor das revistas África(s) e Cadernos de África Contemporânea.
Janine Primo Carvalho de Meneses - Graduada, mestre e doutora em História pela UFPE. Atualmente exerce a função de gestora da Unidade de Educação Patrimonial e Projetos do Patrimônio Cultural na Gerência de Preservação do Patrimônio Cultural da Prefeitura do Recife.
Marcelo Mac Cord - Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); mestre, doutor e pós-doutor em História pela Unicamp; pós-doutor em História pela UFRJ. É professor associado II de História da Educação da Faculdade de Educação da UFF.
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho - Professor titular de História da UFPE. Ph.D. em História pela University of Illinois at Urbana-Champaign. Mestre em História pela UFPE, mestrado em História pela University of Illinois e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE), com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales e estágio pós-doutoral na The Johns Hopkins University.
Raphael Souza Lima - É doutorando em História pela UFF, mestre em História Social pela UFPE e possui Licenciatura em História pela UFRPE. Atualmente é professor de História na rede estadual de Alagoas.
Robson Pedrosa Costa - Professor efetivo do Instituto Federal de Pernambuco (Campus Recife) e docente do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE. Possui doutorado em História pela UFPE e atualmente realiza seu pós-doutorado na Universidade de Lisboa.
Rosely Tavares de Souza - Professora adjunta da UFPE, mestre e doutora em História pela UFPE, especialista em Cultura e História dos Povos Indígenas pela UFRPE e licenciada em História pela UFRPE.
Serviço:
Lançamento do livro Lugares de memória da escravidão e da cultura negra em Pernambuco
Quando: 30 de novembro, quinta-feira
Local: Núcleo da Cultura Afro-brasileira
Endereço: Pátio de São Pedro, 34, São José, Recife.
Hora: 18h
* Evento aberto ao público
Preço do livro: R$ R$ 60,00
Assessoria de Imprensa da Cepe
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