O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, afirmou em seu acordo de delação premiada que partiu do então presidente Jair Bolsonaro a ordem para confeccionar certificados falsos de vacinas da covid-19.
Em um dos depoimentos prestados por Cid à Polícia Federal, como parte de seu acordo de colaboração, o tenente-coronel admitiu sua participação na realização de fraudes nos certificados de vacina inseridos no sistema do Ministério de Saúde e também vinculou Jair Bolsonaro diretamente ao esquema. A informação foi confirmada ao UOL por três fontes que acompanharam as negociações do acordo.
O relato de Cid contraria a versão que o ex-presidente apresentou à Polícia Federal. Em maio, Bolsonaro declarou que não conhecia nem orientou fraudes em cartão de vacinação para seu uso ou de familiares.
A investigação sobre os certificados falsos de vacina é uma das mais avançadas na Polícia Federal envolvendo o ex-presidente da República. A apuração teve início com a descoberta de diálogos no telefone celular de Mauro Cid que mostravam como o tenente-coronel acionou diversos contatos para solicitar a inserção dos dados falsos de vacina. O objetivo da manobra seria burlar as exigências de comprovação da vacinação para entrada em países estrangeiros
Com base nessas informações, a PF deflagrou em maio a Operação Venire, cumprindo a prisão preventiva de Mauro Cid e outros alvos. O ex-ajudante de ordens só foi solto em setembro, depois que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes homologou seu acordo de delação premiada.
* Em seu depoimento, o tenente-coronel relatou que providenciou os documentos falsos por meio de aliados. Cid afirma, então, que imprimiu os comprovantes falsos em nome de Jair Bolsonaro e de sua filha Laura e entregou os documentos em mãos ao então presidente da República, para que usasse caso achasse conveniente.
* Cid também confirmou à PF os fatos já identificados anteriormente pela investigação. Os dados falsos de vacina de Bolsonaro e Laura foram inseridos por funcionários da Prefeitura de Duque de Caxias no sistema do Ministério da Saúde em 21 de dezembro de 2022. Foram lançadas falsamente, em nome deles, duas doses da vacina Pfizer, por meio da inserção de dados realizada às 18h59 e 19h daquele mesmo dia.
* De acordo com as informações do inquérito da PF, Mauro Cid emitiu certificados de vacinação para Bolsonaro e sua filha no dia seguinte, 22 de dezembro de 2022, às 8h. A PF investiga se foram esses certificados que Cid imprimiu para entregar em mãos a Bolsonaro, como ele disse em seu depoimento.
Crimes sob apuração
A Polícia Federal apura, no caso das fraudes dos certificados de vacina, uma série de crimes possivelmente atribuídos a Mauro Cid e aos demais alvos. Após as informações apresentadas por Cid, a PF ainda realiza diligências para finalizar o caso.
A lista inclui os delitos de descumprimento de medida sanitária preventiva (detenção de um mês a um ano); associação criminosa (reclusão de um a três anos); falsidade ideológica (reclusão de um a cinco anos); inserção de dados falsos em sistemas de informações (pena de reclusão de dois a doze anos) e corrupção de menores (reclusão de um a quatro anos).
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