O tenente-coronel do Exército, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro depõe na CPI do 8 de Janeiro - Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
Em mais um depoimento de sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o então presidente da República Jair Bolsonaro queria esconder no Palácio da Alvorada alvos investigados pela Polícia Federal por ataques às instituições democráticas, para impedir que fossem presos. Um deles foi o influencer bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que acabou fugindo para o Paraguai.
Cid disse que o então presidente da República chegou a determinar que Eustáquio, alvo dos inquéritos conduzidos pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, ficasse escondido na sua residência oficial, para evitar que fosse preso. Procurada, a defesa de Bolsonaro negou as acusações e disse que ele não tinha relação próxima com Eustáquio.
Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro também discutiu tomar a mesma iniciativa em relação ao youtuber Bismark Fugazza. As informações foram confirmadas ao UOL por três fontes que acompanharam a delação de Cid.
Em dezembro, Eustáquio chegou a ser recebido no Palácio da Alvorada por Bolsonaro. Um vídeo do jornalista entrando na residência oficial no dia 12 de dezembro circulou nas redes sociais, mas ele negou que a intenção fosse se refugiar lá por causa de uma eventual ordem de prisão.
De acordo com o depoimento, foi o próprio Cid quem dissuadiu Bolsonaro da ideia, sob o argumento de que isso poderia lhe acarretar problemas sérios perante o STF.
O tenente-coronel diz que Bolsonaro autorizou um carro oficial a transportar Eustáquio para outro lugar, para tentar impedir que seu paradeiro fosse rastreado por investigadores.
Eustáquio e Fugazza foram alvos de ordens de prisão expedidas no fim de dezembro pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Eles fugiram para o Paraguai para tentar escapar das autoridades brasileiras. Fugazza foi preso pela polícia paraguaia, mas Eustáquio entrou com um pedido de refúgio e escapou da ordem de prisão.
O ex-ajudante de ordens da Presidência também traçou aos investigadores um panorama da relação de Bolsonaro com militantes radicais, que incentivaram a ruptura com as instituições democráticas, e a atuação do chamada Gabinete do Ódio, grupo de assessores do Palácio do Planalto responsáveis por promover ataques às autoridades públicas e instituições nas redes sociais.
A delação premiada de Mauro Cid foi assinada com a Polícia Federal e homologada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes no início de setembro. Cid estava preso desde maio, por suspeitas de fraudes em certificados de vacina, e foi solto após a homologação do acordo.
O UOL já revelou que o tenente-coronel revelou à PF a atuação de Bolsonaro em um plano golpista para contestar o resultado das eleições e também disse que recebeu ordens do então presidente para confeccionar falsos certificados de vacina em nome de Bolsonaro e de sua filha mais nova, Laura, que é menor de idade.
Influência dos radicais
* Testemunha-chave de reuniões e conversas do ex-presidente da República, Cid revelou à PF os bastidores do relacionamento entre Bolsonaro e seus aliados.
* O tenente-coronel fez um panorama para explicar quem eram os moderados, que incentivavam uma postura conciliatória de Bolsonaro com os demais Poderes, e os radicais que estimulavam ações de ruptura.
* Um dos conselheiros de Bolsonaro envolvido em iniciativa antidemocrática era Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência.
Outro lado
Procurado, o advogado e ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten afirmou que o ex-presidente "nega categoricamente" as acusações. A defesa disse que Bolsonaro nunca se aproximou de Oswaldo Eustáquio e que ele não iria cometer crime por alguém com quem não mantinha relações próximas. Afirmou ainda que seria impossível esconder pessoas no Palácio da Alvorada devido à quantidade de gente que trabalha no local.
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