Após o encontro, em entrevista a jornalistas, Lula disse ainda que as conversas entre países devem visar uma paz duradoura "para que nunca mais aconteça uma ocupação territorial, como fez a Rússia".
A Rússia invadiu o território ucraniano em fevereiro de 2022 e até hoje mantém tropas no país vizinho.
A reunião dos presidentes ocorreu em Nova York (EUA) e durou cerca de uma hora e dez minutos. Tanto Lula quanto Zelensky foram aos Estados Unidos participar da Assembleia-Geral das ONU.
Esse foi o primeiro encontro dos chefes de Estado após meses de opiniões divergentes sobre a guerra no leste europeu, que se arrasta há um ano e sete meses.
No Twitter, Lula disse que teve "uma boa conversa sobre a importância dos caminhos para construção da paz". A mensagem do presidente na rede social também menciona a importância da manutenção constante do diálogo entre os países.
Depois, Lula abordou o tema com jornalistas na saída do hotel. Lula relatou que, na conversa com Zelensky, insistiu nq ideia de um grupo de países neutros intermediar as negociações entre Ucrânia e Rússia. É o chamado "clube da paz", que Lula vem defendendo há meses.
"Disse pra ele a necessidade de encontrar um grupo de países amigos que possam construir uma proposta que não fosse nem de um, nem de outro, dos dois que estão em guerra. E que a negociação numa mesa de diálogo é muito mais barata do que uma guerra, não tem vítimas, não tem mortes e não tem tiro" afirmou Lula.
"Ninguém vai ter 100% numa guerra, ninguém consegue ganhar tudo, ou seja, não é apenas a derrota do inimigo, é a construção de uma paz duradoura para que nunca mais aconteça uma ocupação territorial como fez a Rússia", completou o presidente.
Conversa 'calorosa'
O ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, qualificou a conversa como "calorosa e honesta", na qual cada país entendeu sua posição. Kuleba disse, ainda, que esse foi um momento importante.
Lula aproveitou o compromisso na ONU para realizar uma série de audiências com presidentes e primeiros-ministros de outros países. Antes da agenda com o líder ucraniano, Lula se reuniu com o presidente americano Joe Biden.
Posições divergentes
A reunião entre Lula e Zelensky, que já conversaram por videoconferência, foi tentada em mais de uma oportunidade. Em maio, o ucraniano tentou se encontrar com Lula durante a cúpula do G7, no Japão, mas o governo brasileiro alegou que Zelensky se atrasou e não compareceu à reunião.
Lula tem sido, desde o início do governo, em janeiro de 2023, criticado por países ocidentais e por Zelensky em razão de uma posição considerada leniente com a invasão militar das tropas russas ao território ucraniano.
Lula citou diversas vezes a ideia de criar um grupo de países neutros para negociar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, sugestão que não foi acolhida até o momento
O petista tem criticado a invasão militar feita pela Rússia, mas, ao contrário dos EUA e da União Europeia, não aceitou fornecer armas à Ucrânia
O presidente brasileiro já insinuou que a Ucrânia deveria abrir mão da Crimeia, península ucraniana que a Rússia invadiu e anexou em 2014 – mas Zelensky desiste da região, e já disse que a guerra da Ucrânia "começou e vai terminar na Crimeia"
Lula já afirmou que Zelensky também é responsável pela guerra porque "quando um não quer, dois não brigam". O ucraniano não gostou, e disse que os pensamentos de Lula não precisariam coincidir com os de Vladimir Putin, o presidente da Rússia.
Discursos na ONU
Na véspera da reunião, Lula e Zelensky falaram sobre a guerra em seus discursos na Assembleia Geral da ONU.
O presidente brasileiro optou por não criticar diretamente a Rússia pelo conflito armado. "A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU", disse Lula.
A Rússia é um parceiro estratégico do Brasil, já que os dois países integram o Brics ao lado de China, Índia e África do Sul. Os russos também são importantes fornecedores de fertilizantes para a produção agrícola do Brasil.
Zelensky, por sua vez, afirmou que é preciso se "unir para derrotar o agressor" e reiterou que a proposta de paz da Ucrânia prevê a manutenção territorial e soberania de todos os territórios do país.
O presidente dos EUA, Joe Biden, adotou tom similar ao de Zelensky ao afirmar que o país e aliados "continuarão a apoiar o corajoso povo da Ucrânia na defesa da sua soberania e integridade territorial".
"Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, estará garantida a independência de qualquer nação? A resposta é não", acrescentou Biden.
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