Embora cercada de mistério, a retomada do Trem 2 da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), pela Petrobras, traz expectativas de grande impacto positivo na economia de Pernambuco. A petroleira não divulgou o valor do investimento, nem o cronograma do projeto, mas com base nas estimativas de produção e outros dados, especialistas, empresas locais e o governo do estado já conseguem prever os efeitos da conclusão da unidade.
A construção do Trem 2 foi paralisada há 10 anos, durante a execução das obras de infraestrutura. A paralisação se deu em meio à Operação Lavajato, que apurava o escândalo do Petrolão, no qual a refinaria - localizada no Complexo de Suape - figurou como o maior case de corrupção do mundo. Com a implementação, a capacidade de processamento da planta vai passar dos atuais 115 mil para 130 mil barris de petróleo/dia.
"Já na movimentação de cargas, o Trem 2, quando estiver em plena operação, deve agregar 65% a mais em volume sobre os dados de 2022, quando, o porto, entre exportações e importações, somou 24,7 milhões de toneladas. A previsão é que isso aconteça até 2030", acrescenta.
Maurício Laranjeira ressalta impacto da Refinaria Abreu e Lima nas exportações do estado
Foto: Divulgação
“A Refinaria Abreu e Lima tem incrementado nossas exportações. Em 2023, de janeiro a junho, o estado exportou, cerca de US$ 1,2 bilhão. Os produtos da unidade fabril são responsáveis por um pouco mais de um terço desse valor”, analisa o secretário.
“O fuel oil da Rnest é o principal produto exportado por Pernambuco, com US$ 312 milhões destinados a Singapura, hoje nosso maior importador”, acrescenta.
Maurício Laranjeira destaca que esse valor sobe para US$ 430 milhões, no primeiro semestre deste ano, se forem consideradas as exportações de coque de petróleo para a China e de nafta para Singapura. “A própria obra de conclusão, em si, deverá trazer novidades para a nossa balança, com a importação de equipamentos e afins”, ressalta.
Para o secretário, “a conclusão da unidade deve aumentar ainda mais a participação de combustíveis e derivados de petróleo nas exportações do estado”, mas lembra que “isso irá depender da política de mercado da Petrobras, ao definir se irá focar suas vendas no exterior ou no mercado doméstico.”
Jorge Jatobá destaca geração de empregos altamente especializados e com salários elevados
Foto: Ceplan/Divulgação
Refinaria Abreu e Lima e mercado de trabalho
“A conclusão da obra é importante para Pernambuco, em especial para o mercado de trabalho, com a duplicação da capacidade de produção de diesel”, analisa o economista, Jorge Jatobá, sócio na Ceplan Consultoria. “Serão muitos empregos na fase de construção e uma quantidade de vagas bem menor na operação, porém essa mão-de-obra será altamente especializada e com salários elevados”, explica.
João Rogério Filho chama a atenção para novo ciclo de investimentos em Pernambuco
Foto: PPK Consultoria/Divulgação
Crescimento
Economista e sócio da PPK Consultoria, João Rogério Filho, avalia que “a conclusão da refinaria, conjugada com a expectativa pelo ramal pernambucano da Ferrovia Transnordestina e com outros empreendimentos previstos para o estado nos próximos dez anos, trazem uma perspectiva de crescimento para a economia estadual, condizente com o potencial de Pernambuco.”
Sebastião Pontes: setor metal-mecânico tem oportunidade de reduzir ociosidade
Foto: Simmepe/Divulgação
Cadeia produtiva da Refinaria Abreu e Lima
No setor industrial, existe a expectativa de beneficiar as empresas locais tanto na fase de construção do Trem 2, quanto na operação da nova etapa, integrando esses players à cadeia produtiva da Refinaria Abreu e Lima, como aconteceu na implementação do Trem 1.
“Hoje, há ociosidade nas fábricas do setor por falta de demanda. Com a retomada do Trem 2, nosso setor, que sempre foi muito importante para a economia pernambucana, voltará a ser um grande gerador de emprego e renda”, prevê o diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco (Simmepe), Sebastião Pontes.
Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, é mais comedido. “Muitas empresas locais fornecedoras da Petrobras na primeira etapa da Rnest passaram por dificuldades devido à paralisação da obra. Tiveram um grande prejuízo com valores que não foram pagos e com a suspensão de contratos que estavam no planejamento financeiro. Acredito que, dessa vez, os empresários serão mais cautelosos”, detalha.
Segundo ele, a entidade vai atuar visando sinergias entre o parque industrial de Pernambuco e o Trem 2, mas com uma estratégia diferente da que foi executada para o Trem 1. “Graças ao aprendizado da inclusão de indústrias locais no ciclo de grandes investimentos da Petrobras em Suape, nos anos 2000, temos agora a oportunidade de uma atuação mais assertiva. Já conhecemos as demandas, exigências, certificações e o processo licitatório. Na década de 2000, atuamos de uma forma generalista. Agora, podemos ser cirúrgicos”, compara.
Écio Costa faz contraponto: o que é bom para Pernambuco pode não ser bom para o Brasil
Foto: Écio Costa Divulgação
Concentração
Já Écio Costa, professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), faz o contraponto de que “o que é bom para Pernambuco pode não ser bom para a Petrobras e para o Brasil”. “Os impactos da conclusão da Rnest para o estado serão altamente positivos. A questão são os efeitos dessa nova fase de concentração do setor de petróleo e gás numa única companhia e a visão estatizante do novo governo, que controla a empresa”, adverte.
Jorge Jatobá vê esse cenário por um outro prisma. “O Governo Bolsonaro queria restringir a atuação da Petrobras ao núcleo duro, basicamente a produção de petróleo, e privatizar todo o sistema de refino. Houve dificuldades, principalmente políticas, para que isso acontecesse e foi nesse contexto que se decidiu concluir a Refinaria Abreu e Lima, o que se consolida no Governo Lula”, sustenta.
Para o consultor, mesmo com a visão estatizante do governo atual, “a Petrobras vai continuar sendo uma companhia absolutamente forte, saudável, competitiva, uma das maiores empresas do mundo”. “O Brasil tem grandes possibilidades de explorar e continuar explorando o petróleo. Então esse segmento deve prosperar, se consolidar e se ampliar nesses próximos anos. E Pernambuco ganha com isso”, conclui.
Por Fernando Italo
Folha de Pernambuco
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