Esses repasses eram operacionalizados, de acordo com a PF, pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, preso no último dia 3 de maio por suspeita de articular um esquema de fraude em certificados de vacinação.
A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro negou irregularidades e afirmou, em nota, que tem "absoluta convicção que todos os pagamentos referentes ao dia a dia da família eram feitos com recursos próprios (leia abaixo).
O UOL mostrou no sábado os diálogos de Cid com assessoras de Michelle Bolsonaro nos quais ele demonstra preocupação com os pagamentos das despesas da então primeira-dama, porque poderiam resultar em acusações de "rachadinha", e uma orientação para realizar despesas somente em dinheiro vivo.
Em outra reportagem, o UOL revelou que a PF identificou uma empresa com contrato na Codevasf como origem de recursos transferidos a um integrante do Palácio do Planalto responsável pelo pagamento das despesas de Michelle.
Os repasses totalizaram R$ 8.600,00. De acordo com a investigação, os depósitos usavam um método comum nos casos de rachadinha: eram feitos de forma fracionada, em pequenos valores, para impedir o alerta aos órgãos de controle e a identificação de irregularidades..
"Esses depósitos ocorreram predominantemente de forma fracionada, ou seja, o depositante ao invés de utilizar um único envelope com a quantia desejada, fracionou o valor total em dois envelopes distintos, realizando os depósitos de forma sucessiva em curto espaço temporal (minutos)", diz a investigação.
Como os pagamentos foram em dinheiro vivo, não há a identificação da origem dos valores. O inquérito apura se os pagamentos seriam provenientes do desvio de recursos públicos do Palácio do Planalto.
Também foi encontrada uma transferência bancária de R$ 5.000,00, realizada em julho de 2021, feita diretamente da conta de Mauro Cid para a conta de Michelle
Por causa dessas transações, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a quebra do sigilo bancário de Mauro Cid e outros servidores que trabalhavam na Ajudância de Ordens da Presidência. A quebra do sigilo bancário de Cid foi revelada em setembro do ano passado pelo jornal "Folha de S.Paulo". A PF busca identificar outras transações suspeitas envolvendo a primeira-dama e a Ajudância de Ordens.
Boletos do irmão
A hipótese de desvios de recursos da Presidência foi reforçada, na avaliação da PF, com a identificação de pagamentos de boletos para um irmão da ex-primeira-dama.
Disse.Mauro Cid, em resposta a pedido para pagar boleto de irmão de Michelle.
Outra troca de mensagens mostra que o então presidente Jair Bolsonaro orientou Mauro Cid a efetuar o pagamento de um boleto em dinheiro vivo. Tratava-se de uma despesa hospitalar de Maria Helena Braga, tia de Michelle. A investigação não identificou se os recursos para o pagamento do boleto saíram da conta pessoal de Jair Bolsonaro ou dos cofres da Ajudância de Ordens.
"No grupo de WhatsApp da Ajudância de Ordens, Mauro Cid encaminha orientação do Exmo. Sr. Presidente da República, no sentido de o pagamento da GRU ser feita em dinheiro para 'evitar interpretações equivocadas'", diz, em despacho sobre as quebras de sigilo, o ministro Alexandre de Moraes. Em seguida, um dos servidores da sua equipe faz o pagamento do boleto e lhe encaminha o comprovante, sem deixar claro qual teria sido a origem dos recursos.
Procurado, o ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro e advogado da sua equipe de defesa, Fábio Wajngarten, afirmou em nota que os pagamentos referentes aos custos pessoais de Jair e Michelle eram feitos "com recursos próprios", negando o desvio de valores do Palácio do Planalto.
Wajgarten diz ainda, na nota, que "a maneira como as informações são repassadas, o aparecimento de novas 'evidências' e a suspeição permanente evidenciam que o único objetivo de todos os envolvidos é o de tentar macular a imagem do ex-presidente da República. Na falta de fatos concretos, como a devolução de bilhões de reais, como ocorreu na Petrobras, tenta-se criar um escândalo com despesas corriqueiras. A verdade prevalecerá"..
UOL
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