Aislan Pankararu (Foto: Arquivo pessoal in UnB Notícias)
Foto: Nicole Angel/g1 (Exposição de Aislan na UnB em 2020)
Aislan Pankararu começou a trabalhar antes de completar os estudos, para ajudar os pais. Saiu de casa, formou-se médico em Brasília, mudou-se para o interior e depois para a capital de São Paulo, onde é clínico geral. Por mais que o desenraizamento tenha sido necessário, as raízes são mais fortes. Ele se abre em um sorriso quando finalmente encontra a expressão que o define: uma raiz flutuante.
Suas origens são, aliás, o principal motor do seu trabalho e seu vínculo com a ancestralidade. E isso fica muito claro nas imagens que acaba de concluir para mostrar em sua primeira exposição autoral em Londres. Nada está ali por acaso. Desde a opção das cores à escolha da tela de linho cru. Esta última reflete os tons de terra, da pele e do papel kraft, o meio com o qual começou a trabalhar. Dá contraste ao branco, a cor que se repete em sua obra e se inspira dos desenhos que os Pankararu fazem nos próprios corpos. É com esse contraste que quer dar visibilidade ao seu povo.
"É complicado você se definir. Eu sou Aislan Pankararu, sou de um povo indígena e eu estou no mundo. Meu processo é esse. É de fazer as coisas como eu vejo o mundo, com a minha relação, com o que eu carrego na minha bagagem, com o que eu sinto hoje. É um mix de tudo, se você for parar para pensar", conta à RFI.
Esta é também a primeira vez que Aislan viaja para o exterior. Ele veio para a capital britânica para um mês de residência artística a convite da People's Palace Projects, um centro de arte e pesquisa para justiça social e climática baseado na Queen Mary University de Londres. As obras em exibição foram todas concebidas no estúdio em North Greenwich. Parte delas o conecta com a Inglaterra e o grande evento britânico tão distante de suas origens e que viveu de perto: a coração do rei Charles III, que aconteceu no último dia 6. Os complexos e grandiosos ritos da cerimônia foram motivo de reflexão para o artista, que resolveu representar o que viu em duas de suas telas. Em uma delas, estampou a coroação da Caatinga, com a coroa-de-frade, um cacto típico da região, a "joia" que usou para enaltecer este bioma único do Brasil. Na outra, ele desenhou uma nova bandeira para este reino, com uma crítica social ao colonialismo.
O que faz é arte contemporânea e indígena?
"É de uma violência absurda querer definir, determinar isso, aquilo, sabe? Porque eu sei mais, você se encaixa aqui. É um artista contemporâneo? É um artista contemporâneo indígena? Eu já estou me libertando disso", afirma.
Mas Aislan defende a importância da retomada da narrativa indígena, que vive um dos seus momentos mais importantes em diversos segmentos da sociedade.
"Tem a gente para falar da gente mesmo. É o que está acontecendo em ministérios, em espaços de museu, no ambiente da arte, na saúde, na educação. A gente tem que estar nos espaços. A gente tem a nossa bagagem para contribuir. Não tem por que pessoas que têm outro olhar e outro tipo de experiência falarem da gente", diz.
Aislan desbravou mundos muito distantes da aldeia em que nasceu, mas garante que é para lá que voltará um dia. Ele ainda é médico e adora o que faz, mas precisou dar um tempo para cuidar de si. Trabalhava 40 horas em uma unidade básica de saúde e sobrava pouco tempo para a sua arte e para ele mesmo.
Se no começo da entrevista parecia quieto, talvez quase desconfiado, abriu-se, como faz com a sua arte, e disse que isso é algo que não tem volta, uma vez que se começa a pintar. Talvez essa seja a explicação para que busque cada vez mais as telas para expressar tantos sentimentos e vivências.
Ele conta que teve dois grandes episódios que o encaminharam para a arte. O primeiro foi a vitória em uma gincana na escola, ainda adolescente, em 2005. O segundo, uma mostra que ele próprio organizou no hospital em que trabalhava, em 2019, sem curadoria e sem regras. Desde então, não parou mais.
O artista tem obras no Itaú Cultural e em Inhotim, o olimpo das artes no Brasil, em Minas Gerais. A exposição "Feel it (Para sentir)" está em cartaz na Sala Brasil na Embaixada brasileira na capital britânica.
Se no começo da entrevista parecia quieto, talvez quase desconfiado, abriu-se, como faz com a sua arte, e disse que isso é algo que não tem volta, uma vez que se começa a pintar. Talvez essa seja a explicação para que busque cada vez mais as telas para expressar tantos sentimentos e vivências.
Ele conta que teve dois grandes episódios que o encaminharam para a arte. O primeiro foi a vitória em uma gincana na escola, ainda adolescente, em 2005. O segundo, uma mostra que ele próprio organizou no hospital em que trabalhava, em 2019, sem curadoria e sem regras. Desde então, não parou mais.
O artista tem obras no Itaú Cultural e em Inhotim, o olimpo das artes no Brasil, em Minas Gerais. A exposição "Feel it (Para sentir)" está em cartaz na Sala Brasil na Embaixada brasileira na capital britânica.
Por Vivian Oswald, Correspondente RFI em Londres/UOL
Meus parabéns Dr Felipe você merece Deus te abençoe grandemente sua vida.
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