segunda-feira, maio 22, 2023

Exposição "Feel it" do artista plástico e médico Aislan Pankararu em Londres mostra importância da retomada da narrativa indígena

Aislan Pankararu (Foto: Arquivo pessoal in UnB Notícias)
Foto: Nicole Angel/g1 (Exposição de Aislan na UnB em 2020)

Avesso a rótulos, o artista plástico brasileiro Aislan Pankararu garante que não se encaixa em conceitos prontos. Nem poderia. Aos 33 anos, parece ter vivido muitas vidas. Nascido em Petrolândia, na Caatinga, em Pernambuco, na aldeia onde ainda vivem oito mil índios Pankararu, ele começou a vida cedo. Avesso a rótulos, o artista plástico brasileiro Aislan Pankararu garante que não se encaixa em conceitos prontos. Nem poderia. Aos 33 anos, parece ter vivido muitas vidas. Nascido em Petrolândia, na Caatinga, em Pernambuco, na aldeia onde ainda vivem oito mil índios Pankararu, ele começou a vida cedo.

Aislan Pankararu começou a trabalhar antes de completar os estudos, para ajudar os pais. Saiu de casa, formou-se médico em Brasília, mudou-se para o interior e depois para a capital de São Paulo, onde é clínico geral. Por mais que o desenraizamento tenha sido necessário, as raízes são mais fortes. Ele se abre em um sorriso quando finalmente encontra a expressão que o define: uma raiz flutuante.

Suas origens são, aliás, o principal motor do seu trabalho e seu vínculo com a ancestralidade. E isso fica muito claro nas imagens que acaba de concluir para mostrar em sua primeira exposição autoral em Londres. Nada está ali por acaso. Desde a opção das cores à escolha da tela de linho cru. Esta última reflete os tons de terra, da pele e do papel kraft, o meio com o qual começou a trabalhar. Dá contraste ao branco, a cor que se repete em sua obra e se inspira dos desenhos que os Pankararu fazem nos próprios corpos. É com esse contraste que quer dar visibilidade ao seu povo.

"É complicado você se definir. Eu sou Aislan Pankararu, sou de um povo indígena e eu estou no mundo. Meu processo é esse. É de fazer as coisas como eu vejo o mundo, com a minha relação, com o que eu carrego na minha bagagem, com o que eu sinto hoje. É um mix de tudo, se você for parar para pensar", conta à RFI.

Esta é também a primeira vez que Aislan viaja para o exterior. Ele veio para a capital britânica para um mês de residência artística a convite da People's Palace Projects, um centro de arte e pesquisa para justiça social e climática baseado na Queen Mary University de Londres. As obras em exibição foram todas concebidas no estúdio em North Greenwich. Parte delas o conecta com a Inglaterra e o grande evento britânico tão distante de suas origens e que viveu de perto: a coração do rei Charles III, que aconteceu no último dia 6. Os complexos e grandiosos ritos da cerimônia foram motivo de reflexão para o artista, que resolveu representar o que viu em duas de suas telas. Em uma delas, estampou a coroação da Caatinga, com a coroa-de-frade, um cacto típico da região, a "joia" que usou para enaltecer este bioma único do Brasil. Na outra, ele desenhou uma nova bandeira para este reino, com uma crítica social ao colonialismo.

O que faz é arte contemporânea e indígena?

"É de uma violência absurda querer definir, determinar isso, aquilo, sabe? Porque eu sei mais, você se encaixa aqui. É um artista contemporâneo? É um artista contemporâneo indígena? Eu já estou me libertando disso", afirma.

Mas Aislan defende a importância da retomada da narrativa indígena, que vive um dos seus momentos mais importantes em diversos segmentos da sociedade.

"Tem a gente para falar da gente mesmo. É o que está acontecendo em ministérios, em espaços de museu, no ambiente da arte, na saúde, na educação. A gente tem que estar nos espaços. A gente tem a nossa bagagem para contribuir. Não tem por que pessoas que têm outro olhar e outro tipo de experiência falarem da gente", diz.

Aislan desbravou mundos muito distantes da aldeia em que nasceu, mas garante que é para lá que voltará um dia. Ele ainda é médico e adora o que faz, mas precisou dar um tempo para cuidar de si. Trabalhava 40 horas em uma unidade básica de saúde e sobrava pouco tempo para a sua arte e para ele mesmo.

Se no começo da entrevista parecia quieto, talvez quase desconfiado, abriu-se, como faz com a sua arte, e disse que isso é algo que não tem volta, uma vez que se começa a pintar. Talvez essa seja a explicação para que busque cada vez mais as telas para expressar tantos sentimentos e vivências.

Ele conta que teve dois grandes episódios que o encaminharam para a arte. O primeiro foi a vitória em uma gincana na escola, ainda adolescente, em 2005. O segundo, uma mostra que ele próprio organizou no hospital em que trabalhava, em 2019, sem curadoria e sem regras. Desde então, não parou mais.

O artista tem obras no Itaú Cultural e em Inhotim, o olimpo das artes no Brasil, em Minas Gerais. A exposição "Feel it (Para sentir)" está em cartaz na Sala Brasil na Embaixada brasileira na capital britânica.

Por Vivian Oswald, Correspondente RFI em Londres/UOL

Um comentário:

  1. Meus parabéns Dr Felipe você merece Deus te abençoe grandemente sua vida.

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