quinta-feira, março 23, 2023

Ex-membro de facção jurado de morte entregou à PF plano para matar Moro

 Foto: Stephanie Rodrigues/g1

A operação da Polícia Federal que prendeu nove integrantes da maior facção criminosa do país por planejar um atentado contra o promotor Lincoln Gakiya, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, e outras autoridades foi baseada no relato de um ex-membro da organização criminosa que se converteu em testemunha protegida depois de ser ameaçado de morte por um de seus líderes.

Foi essa testemunha quem contou a integrantes do Ministério Público de São Paulo que havia um plano em curso para promover um atentado e que forneceu as provas que a polícia incluiu no pedido à Justiça. Elas foram mencionadas pela juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro na Operação Lava-Jato em 2019, no despacho que determinou a realização da operação.

Segundo o despacho, que teve o acesso liberado ao público nesta tarde, o atentado seria cometido por uma ala específica da facção criminosa conhecida como "restrita". A testemunha forneceu quatro números de telefones aos policiais e também endereços de emails.

No despacho, a juíza deixa claro que a análise de uma conta de e-mail analisada pela Polícia Federal, identificada a partir dos contatos telefônicos fornecidos"foram verificados elementos que indicam a real existência de um plano de sequestro que envolve o senador Sergio Moro (União-PR).
Um dos celulares monitorados cabia guardar os códigos usados pela facção para se referir à operação de sequestro (Flamengo), ação (Fluminense) e Moro (Tokio).

“Os fatos investigados são de extrema gravidade, sendo que o êxito da empreitada criminosa comprometerá a paz pública e o próprio funcionamento do Estado”, observou a juíza Gabriela Hardt.

A magistrada também ressaltou que os investigados tinham grande influência dentro da facção criminosa, “reconhecidos pelo uso de meios violentos para consecução de seus interesses”, justificando a prisão temporária dos envolvidos para evitar “a destruição de provas, coação e até mesmo homicídio de testemunhas, bem como a impedir a fuga dos envolvidos, além de auxiliar a colheita de provas e interromper a continuidade das práticas delitivas.”

As mensagens interceptadas na investigação também detectaram que um dos contatos monitorados fez um “relato detalhado” de um clube chamado Duque de Caxias, localizado no bairro Bacacheri, em Curitiba - onde está situada a seção eleitoral de Moro.

Para Hardt, restou claro “que foi cogitada alguma ação contra ele na data do segundo turno da eleição presidencial de 2022”, ocorrido no dia 30 de outubro.

A PF chegou a usar drones para monitorar os imóveis alugados pela facção criminosa em Curitiba para servir como base de planejamento do sequestro de Moro - uma delas, segundo Hardt, “ainda utilizada pela organização”.

“Ademais, com a utilização de um drone, foi possível verificar que existiam roupas masculinas no varal da casa dos fundos e toalhas estendidas na sala da casa da frente, ambas alugadas pelo grupo criminoso”, assinalou a juíza.

"Portanto, que as provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento na Cidade de Curitiba/PR há pelo menos seis meses, contando com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro", afirmou Hardt no despacho

Por Malu Gaspar, Johanns Eller e Rafael Moraes Moura


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