Jair Bolsonaro dentro do avião na volta ao Brasil, nesta quarta-feira (29) - Anna Virginia Balloussier/Folhapress
O ex-presidente Jair Bolsonaro embarcou na noite desta quarta-feira no Aeroporto Internacional de Orlando, na Flórida, para a viagem de volta ao Brasil, após 89 dias nos Estados Unidos. A expectativa é que o desembarque em Brasília ocorra por volta das 7h30 desta quinta-feira. O ex-presidente viaja acompanhado por três seguranças. O trio — Max Guilherme Machado de Moura, Sérgio Rocha Cordeiro e Marcelo Costa Câmara — faz parte da equipe do ex-presidente desde que ele despachava do Palácio do Planalto. Todos são militares.
Na entrada da Imigração ele foi saudado por brasileiros. Vários declararam que votaram nele e pediram para tirar fotos com o presidente. Bolsonaro foi agradável com os turistas, mas não olhou para os repórteres, visivelmente incomodado com a presença da imprensa.
Questionado sobre a expectativa da volta ao Brasil e se pretendia liderar a oposição ele disse que não iria falar com os repórteres.
— Vocês falaram muito de mim nas eleições, (e) agora... — disse sem concluir.
Depois de passar pela Imigração, Bolsonaro ficou numa ala reservada do Plaza Premium Lounge, que fica ao lado da sala de embarque. No local, deu entrevista para a rede de TV CNN (seu assessor Sergio Rocha Cordeiro informou que, por ser “ao vivo” o presidente fala, pois não há risco de distorcerem”) e recebeu pedido de fotos de mais eleitores e brasileiros que trabalham no aeroporto e de companhias aéreas brasileiras que voam para o aeroporto da Flórida.
Na entrevista à CNN ele foi questionado sobre o caso das joias milionárias que recebeu de presente da Arábia Saudita durante seu governo. Ele afirmou que deve entregar até a sexta-feira o terceiro conjunto de joias, avaliado em cerca de R$ 500 mil, que recebeu do regime da Arábia Saudita e ficou em sua posse.
— Está à disposição. Não foi escondido, não foi surrupiado. No máximo depois de amanhã a gente entrega, sem problema. A lei diz que o presidente pode usar item do acervo, ma não pode vender. O TCU diz que esse material eu nem usar poderia. Sem problema nenhum. Pra que vou usar um relógio de mais de R$ 200 mil? Eu jamais usairia — alegou.
Entre as peças estão um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. O ex-mandatário levou consigo a caixa com itens de luxo no fim do ano passado, quando deixou o cargo, e as incorporou em seu acervo pessoal. As informações foram reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Bolsonaro também comentou sobre os outros dois estojos de joias milionárias que recebeu de presente da Arábia Saudita durante seu governo e que entraram ilegalmente no país. O ex-presidente afirmou não enxergava nenhuma ilegalidade nas tentativas do seu governo de liberar o material.
— A gente tentou recuperar por ofício, ninguém tentou recuperar na mão grande. Era tudo pro acervo do presidente da República — alegou, afirmando que não sabia anteriormente que os presentes seriam joias.
O ex-presidente afirmou ainda que gostaria de ficar com as armas que também foram presenteadas pelas autoridades árabes. Sua defesa já entregou à Polícia Federal as pistola e o fuzil que recebeu. Na semana passada, o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU), deu prazo de cinco dias para que as armas fossem devolvidas à Secretaria Geral da Presidência da República.
— Gostaria de não devolver as armas, que é uma coisa pessoal. Mas faz parte da regra — disse Bolsonaro.
Na conversa com a CNN, o ex-chefe do Executivo negou ainda a intenção de comandar a oposição ao governo Lula. Contudo, a expectativa do PL, partido do ex-presidente, é justamente a de que ele atue como principal ativo eleitoral da legenda nos próximos anos. Bolsonaro, inclusive, receberá um salário com nível de ministro no retorno ao Brasil.
— Não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com meu partido como uma pessoa experiente, com 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército. Para colaborar, com aqueles que assim desejarem, sobre como a gente pode se apresentar para manter o que tiver que ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado — disse.
Bolsonaro e seus acompanhantes foram os últimos a entrar no avião. Só entraram depois que todos os demais passageiros já estavam em seus lugares, evitando assim reações de apoio ou crítica. Embora a presença no mesmo voo não tenha sido confirmada, pelo menos um quarto funcionário de Bolsonaro no aeroposto foi constatada. Trata-se de Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor da Presidência apontado como um dos nomes mais ativos do "gabinete do ódio", núcleo bolsonarista dedicado a difundir desinformação e ataques contra adversários desde as eleições de 2018.
Bolsonaro deixou o Brasil ainda presidente da República, no dia 30 de dezembro, desembarcando em solo americano no dia seguinte. A postura discreta e reclusa dos primeiros dias foi gradativamente mudando, com o aumento dos passeios pelo condomínio, com direito a sessão de fotos com apoiadores, presença em eventos e palestra, chegando até a participar da inauguração de uma hamburgueria, em Kissimmee, na Flórida.
O político brasileiro, inclusive, foi um dos destaques do maior evento conservador dos Estados Unidos, a Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC), na qual discursou e foi chamado de "homem muito popular" pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O Globo
Vídeo: Poder 360
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