Um médico de 23 anos foi internado na UTI do Hospital Esperança, no Recife, depois de passar mal em um treinamento num batalhão do Exército na capital pernambucana. Segundo a família, ele sofreu fadiga por excesso de esforço, teve comprometimento nos rins e não consegue andar.
O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) investiga o caso. O Exército confirmou que um médico passou mal durante um treinamento no 14° Batalhão de Infantaria Motorizado, em Jaboatão dos Guararapes - subordinado à 10ª Brigada de Infantaria Motorizada, no Curado, na Zona Oeste do Recife.
Em entrevista ao g1, nesta quinta (9), a mãe do médico, Kary Nogueira, contou o que aconteceu. Ela pediu para identificar o filho pelas iniciais F.N.
Kary afirmou que há relatos de “tortura” no treinamento feito pelo filho e por colegas dele. Segundo ela, apenas no aquecimento, F.N. fez 200 polichinelos, exercício usado para alongar braços e pernas.
“Em três quilômetros de corrida, caiu três vezes. Deram tapas nas costas para ele continuar. Na quarta queda, não levantou mais”, declarou Kary.
Na entrevista, a mãe do jovem médico contou que, desde o começo da história, a postura do Exército provocou indignação.
Ela disse que na manhã de quarta (8) recebeu um telefonema do pessoal da 10ª Brigada de Infantaria, onde acontecia o treinamento para futuros oficiais do quadro de profissionais de saúde.
Assim como os colegas de profissão e de treinamento, F.N. foi convocado para se preparar para assumir um cargo de oficial nos quadros de saúde da corporação.
“Por volta das 8h, me ligaram e foram perguntando se meu filho usava drogas ilícitas. Ele estava na UPA [ Unidade de Pronto Atendimento] de Jaboatão Velho, perto do batalhão”, lembrou.
A mulher foi até a unidade de saúde e se deparou com o quadro clínico do filho. “Ele estava amarrado e desorientado. Muito ofegante e com batimentos cardíacos acelerados. Descompensado”, relatou a mãe.
F.N. foi transferido para a UTI do Hospital Esperança, na Ilha do Leite, no Recife. Chegou à unidade de saúde pouco depois do meio-dia de quarta. “Ele estava com quadro de desidratação intensa”, acrescentou Kary.
Depois de vários exames, segundo a mãe da vítima, os médicos constataram que houve uma hipóxia severa, que acontece quando há falta de oxigênio no corpo.
‘Foi fadiga por excesso de exercícios físicos. Além disso, os colegas não tiveram autorização para fazer o socorro dele”, observou.
No fim da tarde desta quinta (9), F.N, segundo mãe, ainda estava na UTI. A cada seis horas, passava por novos exames. “Vai fazer vários testes para saber a evolução”, disse Kary Nogueira.
A mãe do médico internado afirmou ainda que os colegas entraram com representação no Cremepe e também acionaram o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).
"Quando ele melhorar, vamos avaliar quais providências serão tomadas. Isso não pode ficar assim. Alguém tem que ser responsabilizado. isso parece que é rotina lá e não pode se repetir. Ele queria servir e aconteceu isso”, declarou a mãe.
Investigação
Por meio de nota, o Cremepe informou que, na tarde desta quinta, protocolou a denúncia para a instauração de uma sindicância para “apurar o ocorrido”.
“Todos os expedientes correm em sigilo processual, para não comprometer a investigação, e segue o que estabelece o Código de Processo Ético Profissional (CPEP)”, informou o comunicado.
Resposta do Comando Militar do Nordeste
O Comando Militar do Nordeste (CMNE) respondeu, por meio de nota, que o aspirante a oficial "sentiu-se mal durante uma sessão de Treinamento Físico Militar, prevista no contexto do Estágio de Adaptação ao Serviço" e foi "imediatamente socorrido pela equipe médica que acompanhava o treinamento", que decidiu transferi-lo para a unidade de saúde mais próxima, com estrutura para diagnóstico.
"Posteriormente, a pedido da família, foi transferido para um hospital particular. Foi instaurado processo administrativo para apurar as circunstâncias que envolveram o fato e todo o apoio de saúde e assistência social está sendo prestado ao militar e sua família", diz ainda o texto da nota enviada ao g1.
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