segunda-feira, janeiro 02, 2023

Lula recebe faixa de criança, indígena, negro, mulher, operário e pessoa com deficiência em nome do 'povo brasileiro'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu a faixa presidencial do "povo brasileiro", simbolizado nas figuras de uma criança, de um indígena, de um negro, de uma mulher, de um operário e de uma pessoa com deficiência.

Acompanharam Lula na subida da rampa e na passagem da faixa o cacique Raoni Metuktire, o jovem Francisco, 10, a catadora Aline Sousa, o metalúrgico Weslley Rodrigues, o professor Murilo de Quadros Jesus, a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos, o militante Flávio Pereira e Ivan Baron, jovem que teve uma paralisia cerebral causada por uma meningite na infância (leia mais sobre quem subiu a rampa do Planalto).

O ato ocorreu neste domingo (1º) na rampa do Palácio do Planalto, após o petista ser empossado pelo Congresso Nacional.
Jair Bolsonaro (PL) se recusou a passar a faixa para seu sucessor, desprezando o rito democrático —ele embarcou na sexta-feira (30) para os Estados Unidos para passar a virada do ano.

Desde que Bolsonaro sinalizou a apoiadores que não participaria da posse, os detalhes da entrega da faixa presidencial viraram motivo de especulação e foram tratados como mistério pelo entorno do petista.

Parte do grupo que subiu a rampa disse que só soube neste domingo (1º) que entregaria a faixa para Lula. O convite que havia sido feito era para participar da posse.

A catadora Aline Sousa afique passar a faixa a Lula mostrou que "valeu a pena" a luta por democracia. "Como cidadã, mulher negra, passar a faixa foi uma sensação de que a luta valeu a pena, essa luta durante os últimos anos em defesa da democracia, do direito das pessoas."

Aline é neta e filha de catadores. Ela afirmou que entrou na promissão aos 14 anos para ajudar a avó.

"Não aceitava a forma como minha avó era sujeita a discriminações e desrespeito", disse a catadora. Ela afirmou esperar que o governo Lula reforce políticas de proteção ao trabalho e à renda dos catadores, também de preservação do meio ambiente.

Às vésperas do evento, os detalhes ficaram restritos, além do próprio petista, apenas à primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e ao fotógrafo Ricardo Stuckert, que cuida da imagem do ex-presidente há duas décadas.

"Quem entrega a faixa é o povo brasileiro, que, segundo a Constituição, é o detentor do poder", disse, neste domingo (1º), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), escolhido para ser líder do governo no Congresso.

Ivan Baron disse que foi convidado por Janja, por telefone, para subir a rampa. Ele vestiu um blazer branco durante a posse com frases contra a discriminação, como "parem de nos excluir".

"A moda é política, pode ser inclusiva. O recado [gravado na roupa] era direto, parem de excluir LGBTs, a classe trabalhadora, mulheres, pessoas com deficiência, pretas e pretos."

Segundo interlocutores de Lula, duas ideias eram discutidas: que o petista recebesse a faixa de um grupo de pessoas que representassem a diversidade do povo brasileiro ou de um grupo de crianças, para simbolizar não só a diversidade do país, mas também o futuro.

Havia ainda a possibilidade de que o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), passasse a faixa. Ele foi sondado por petistas, mas segundo interlocutores do parlamentar, a transição não confirmou se pretendia levar adiante a ideia.

Nas redes sociais, petistas fizeram campanha para que o acessório fosse entregue a Lula por Dilma Rousseff, que teve seu mandato interrompido em 2016 após processo de impeachment. A ideia, no entanto, não chegou a ser considerada pela ex-presidente nem por Janja, segundo relatos.

A faixa presidencial foi criada em 1910 pelo então presidente Hermes da Fonseca como ato simbólico, mas o presidente que deixa o cargo não tem obrigação legal de participar do rito.

Assim como Bolsonaro, o ex-presidente João Baptista Figueiredo, último do período da ditadura, se recusou a passar a faixa para seu sucessor, José Sarney. Ele decidiu não participar da cerimônia de posse, preferindo acompanhá-la pela televisão.

Por: Folha de S. Paulo

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