sexta-feira, novembro 04, 2022

Lula tenta trazer de volta evangélicos e se reaproximar de Malafaia



O pastor Silas Malafaia e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva: PT busca se reaproximar de lideranças evangélicas PR/Divulgação e Ricardo Stuckert/Divulgação

Em público ninguém admite, mas, nos bastidores, Luiz Inácio Lula da Silva já destacou emissários para procurar os principais representantes do segmento evangélico no Congresso e fora dele.

A ideia é se reaproximar de parlamentares e pastores que até outro dia compunham a principal base de apoio de Jair Bolsonaro, mas que também já apoiaram Lula no passado. O petista os quer de volta em sua órbita.

Alguns já estão voltando, como o deputado federal e ex-presidente da frente evangélica na Câmara, Cezinha de Madureira (PSD-SP), que no governo Bolsonaro foi um dos mais fiéis aliados. Cezinha disse à equipe da coluna que está aberto ao diálogo com o governo Lula para tratar de “pautas positivas” que envolvam geração de emprego, combate à fome e salário mínimo.
“O Congresso continua mais conservador do que já estava, então o governo vai ter de dialogar com a gente. O país está precisando de bombeiros, para ajudar a manter a paz no país. A gente precisa de consensos, e não de conflitos.”

Outra liderança que já se reposiciona no tabuleiro político nacional é o bispo Edir Macedo, da Universal, que já afirmou que é preciso "perdoar" o Lula, eleito por vontade de Deus.

O perdão veio rápido: em janeiro, um artigo publicado no site da igreja afirmava que “se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente”.

Antes mesmo da vitória de Lula, integrantes da campanha petista já aguardavam acenos do bispo. Avaliam que Macedo vai precisar dos canais diplomáticos e da atuação do Itamaraty para apaziguar o conflito da Universal com o governo de Angola, que expulsou pastores no ano passado e ainda investiga integrantes da igreja.

Um desses líderes, porém, ainda permanece distante: o pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus Vitória Em Cristo, que esteve com Bolsonaro durante todo o governo e em especial na campanha, seguindo o presidente da República nos bastidores e em eventos como o último debate da TV Globo.

Pelo menos dois emissários de Lula, um parlamentar e um pastor, procuraram aliados de Malafaia desde a semana passada, por telefone.

Nessas conversas, eles primeiro disseram que Lula gostaria de marcar um encontro com esses aliados. Mas, diante da resistência, tentaram novamente, enviando um pastor amigo de Geraldo Alckmin, para tentar de novo.

Desta vez, a conversa seria com o próprio vice-presidente eleito, em Brasília – "um homem conservador e de direita, nas palavras do pastor. Nada feito.

Por ora, Malafaia não quer proximidade com o novo presidente, a quem continua chamando de ladrão. “Não tenho diálogo nenhum com um cara desses, condenado em um governo de ladrões, no maior escândalo de corrupção no mundo. Meu irmão, minha consciência não permite, não”, acrescentou.

Há quem aposte no entorno de Lula que Malafaia, ex-aliado do atual presidente eleito, ainda possa se reaproximar. Quem o conhece bem, porém, aposta: “Difícil qualquer adesão do Malafaia ao governo Lula. Só se Jesus voltar novamente”.

Apesar do conflito dos últimos anos, a bancada evangélica agora voltou a se lembrar com bons olhos dos governos 1 e 2 de Lula. O petista sancionou a lei da liberdade religiosa, criou o dia nacional do evangélico (30 de novembro) e sancionou a lei que criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus.

Durante a campanha eleitoral, o QG petista cogitou transformar o 30 de novembro em feriado nacional e se comprometer com a manutenção do Ministério da Família, em aceno à comunidade evangélica. Mas as ideias não foram levadas adiante – Lula se limitou a divulgar uma carta a esse segmento religioso, em que se colocou pessoalmente contra o aborto.

Já a relação de Dilma Rousseff com a bancada evangélica foi muito mais conturbada, marcada pela polêmica com a divulgação de um material de combate à homofobia nas escolas, pejorativamente chamado de “kit gay”. Pressionada, ela se viu obrigada a engavetar o material.

Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília


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