sexta-feira, outubro 14, 2022

Lula diz querer transformar voto de nordestinos contra Bolsonaro em 'questão de honra'

Candidato à presidência Lula (PT) e candidata ao governo de PE Marília Arraes (Solidariedade) durante caminhada no Centro do Recife, nesta sexta-feira (14) — Foto: Priscilla Aguiar/g1

O candidato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta sexta-feira (14), durante campanha em Pernambuco, que decidiu "provocar" os nordestinos a "transformar o voto contra Bolsonaro numa questão de honra" depois que o presidente da República associou a vitória do petista no primeiro turno ao analfabetismo na região.


A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) aconteceu durante uma "live", na semana passada. Ele comentava uma notícia sobre a vitória de Lula em estados com alta taxa de analfabetismo quando afirmou:

"Uma notícia importante, pessoal: 'Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo'. Vocês sabem quais são esses estados? São do nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta o mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores nessas regiões."

Desde então, em seus discursos, Lula tem usado a declaração para atacar Bolsonaro.

“Depois que o meu adversário foi num discurso, ou numa 'live', que ele fez dizer que o povo nordestino vota em mim porque o povo nordestino é analfabeto, eu resolvi provocar o povo nordestino para transformar o voto contra o Bolsonaro numa questão de honra”, afirmou Lula durante entrevista a jornalistas em Recife.

Em Pernambuco, estado em que nasceu, Lula obteve 65,27% dos votos válidos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro teve 29,91%.A campanha no Recife nesta sexta faz parte da agenda de compromissos de Lula no Nordeste e ocorre um dia após Bolsonaro visitar a cidade. O petista ironizou a passagem de Bolsonaro por Recife.

"Como ele [Bolsonaro] já não gostava de negro, não gosta de mulher, não gosta de sindicado, não gosta de prefeito, não gosta de governador, agora ele disse que não gosta de nordestino. É por isso que o ato que ele fez ali foi um fiasco, aqui em Pernambuco. Porque ele é um cidadão que não sabe respeitar o mínimo de sensibilidade do ser humano", disse Lula.

Após entrevista a jornalistas, o ex-presidente fez uma caminhada pelas ruas do Recife.

Juntando antagônicos

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), acompanhou Lula durante a coletiva de imprensa, que teve também a presença da candidata ao governo de Pernambuco Marília Arraes (Solidariedade), que disputa o segundo turno contra Raquel Lyra (PSDB).

Primos, João e Marília se enfrentaram, em 2020, pela prefeitura do Recife. O PSB teve candidato próprio ao governo do estado neste ano, Danilo Cabral, que terminou em 4º lugar no primeiro turno.

A imagem de Lula foi disputada por Marília e Danilo ao longo da campanha. Usando sempre roupas vermelhas, Marília Arraes foi alvo de ações judiciais com autoria do PSB, para que ela fosse impedida de usar imagens de Lula na campanha, mas isso foi negado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.

Apesar das divergências passadas, João Campos demonstrou apoio a Marília, candidata de Lula na disputa pelo governo estadual. Ao falar sobre a união dos primos, o candidato do PT lembrou que eles têm o mesmo sangue e que a união deles foi uma atitude “honesta, coerente e corajosa”.


“Ninguém está escondendo que tem divergências profundas, mas acabei de falar sobre a lição que Paulo Freire nos deu: juntem os divergentes para vencer os antagônicos. Se eu não conheço a adversária, eu não posso falar mal dela, mas o que eu sei é que todas as pessoas ligadas ao Bolsonaro foram a ela [Raquel]”, disse Lula.

Marília Arraes começou a carreira política no PSB. No entanto, entre 2014 e 2016, discordou de posições e orientações do partido. O desgaste piorou ao longo dos anos e, em 2016, culminou na desfiliação do PSB.

A candidatura de Marília ao governo era cogitada desde 2018, quando ela ainda era filiada ao PT. No entanto, a possibilidade, mesmo tendo sido aprovada pelo diretório estadual da legenda, foi limada pelo Partido dos Trabalhadores em prol do apoio à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB).

Para as eleições de 2022, o nome dela era novamente cogitado, e apoiado pela militância do partido. O PT, no entanto, fechou apoio ao PSB, em nome da aliança nacional que lançou o nome de Geraldo Alckmin (PSB) na chapa com Lula.

Diante disso, Marília Arraes deixou o PT e se filiou ao Solidariedade, onde está atualmente.

Por g1 — Brasília e Recife

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