domingo, outubro 23, 2022

Dia Estadual do Choro João Pernambuco: Alepe promove noite de homenagem ao Choro Pernambucano

Em 16 de outubro, em memória à data da morte de João Pernambuco, é celebrado o Dia Estadual do Choro - João Pernambuco.

Com direito a uma autêntica roda de Choro formada por musicistas e cantores que integram a cena cultural pernambucana, a Assembleia Legislativa promoveu na noite de quinta-feira (20), no auditório Senador Sérgio Guerra, uma solenidade em homenagem ao Dia Estadual do Choro João Pernambuco e àqueles que vêm atuando fortemente para a preservação e divulgação deste que é o primeiro gênero musical instrumental brasileiro. A iniciativa do evento, e da data estadual (Lei nº 17.148/2021) que agora integra o calendário oficial dos eventos comemorativos de Pernambuco, foi do deputado Waldemar Borges.

Foram homenageados a cantora Dalva Torres - considerada a grande dama do Choro pernambucano -, o Coletivo Isto É Choro! - formado por musicistas, produtores e agentes culturais que há seis anos realizam ações de promoção e salvaguarda do gênero musical - e os integrantes da Roda Infinito – roda de Choro que reúne a nova geração dos chorões e choronas e que desde 2012 tem papel fundamental na inserção de músicos no mercado. A mesa da reunião solene foi composta pela vice-governadora Luciana Santos, pelo deputado Waldemar Borges, pela vereadora do Recife Cida Pedrosa (autora da lei que criou o Dia Municipal do Choro Luperce Miranda), pela cantora Dalva Torres, pelo musicista e professor do Conservatório Pernambucano de Música Lucas Guerra (Roda Infinito) e produtor cultural Wagner Staden (Coletivo Isto É Choro!).

Na ocasião, o deputado Waldemar destacou a importância daquele momento para a cultura e para o fortalecimento do Choro enquanto expressão da identidade nacional. “Ter contribuído na Assembleia Legislativa para a criação do Dia Estadual do Choro foi para mim bastante especial. Ao encaminhar a reivindicação do Coletivo Isto É Choro!, que sinalizava a ausência de uma data oficial para marcar a importância do Choro, tive a oportunidade de me integrar a um movimento maior que busca o resgate, à luz do conhecimento público, da história de João Teixeira Guimarães, o João Pernambuco”, destacou em seu discurso.

Em sua fala, a vereadora Cida Pedrosa chamou a atenção para a simbologia que as rodas de Choro - espaços que reúnem músicos, seus instrumentos e intérpretes para as performances - carregam em si. “A roda de Choro diz muito sobre a própria democracia. Ela é mais do que um espetáculo, é uma ação de horizontalizar o conhecimento”. A vice-governadora Luciana Santos reforçou a importância da homenagem avaliando o atual contexto político nacional. “Em tempos de tantos ataques à cultura, estamos aqui para prestigiar a cultura enquanto transformação social. Homenagear o Choro é homenagear a nossa brasilidade”, assegurou.

Nascida em uma família de músicos, a cantora, compositora, arranjadora e pianista Dalva Torres se disse bastante emocionada com a homenagem recebida. “A vida já me deu muita coisa: uma família, filhos, netos, bisnetos, mas hoje quero fazer um agradecimento especial a todos vocês por fazerem parte de minha vida e pelo amor ao Choro”.

Respeitando os ritos seculares do gênero musical, a reunião foi encerrada com uma autêntica roda de Choro formada pelos musicistas do Coletivo Isto É Choro! e da Roda Infinito: Fábio Santos (flauta), Walter Leão, Inaldo Minervino, Catarina Polônio, Anderson Botelho (pandeiros), Wilson Soares e Lucas Guerra (bandolim), com as vozes de Dalva Torres, Surama Rheis e Walmir Chagas.

Conheça a Lei nº 17.148/2021

Art. 1º A Lei nº 16.241, de 14 de dezembro de 2017, passa a vigorar com as seguintes modificações:

“Art. 312-B. Dia 16 de outubro: Dia Estadual do Choro - João Pernambuco." (AC)

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICATIVA

Ao lado do Frevo, o Choro, popularmente chamado de Chorinho, é considerado um gênero musical genuinamente brasileiro. Sua origem remonta ao século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, onde se registraram os primeiros encontros de músicos (chorões), essencialmente funcionários públicos e pequenos comerciantes, que se reuniam em rodas pelo simples prazer de tocar. Aos instrumentos iniciais – flauta, violão e cavaquinho – foram incorporados outros ao longo do tempo, como o bandolim, o pandeiro, o clarinete e o saxofone.

Representa o agrupamento musical mais antigo dentro da música popular brasileira e sofreu influência de estilos musicais europeus, como a polca, e de ritmos africanos, como o Lundu, já presente na cultura brasileira desde o final do século XVIII.

De execução complexa e arranjos sofisticados (é comparado ao Jazz norte-americano pelos improvisos, técnicas e habilidades que exige), o Choro se popularizou, ganhou relevância nacional e se tornou símbolo da cultura brasileira graças, sobretudo, à genialidade de músicos e compositores que ajudaram a moldá-lo ao longo das décadas.

Nomes estelares, como o de João Teixeira Guimarães, o João Pernambuco, nascido no município de Jatobá, Sertão de Itaparica, no dia 2 de novembro de 1883. De origem humilde, sem nunca ter frequentado escolas e ferreiro de profissão, João Pernambuco viria a se tornar um dos expoentes do Choro e um dos maiores violonistas de todo o mundo. Passados 73 anos de sua morte (16.10.1947, Rio de Janeiro) continua a ser fonte inesgotável de pesquisa, influenciando a formação de músicos do Brasil e de outros países.

João foi o terceiro dentre os 11 filhos do casal Manoel Teixeira Guimarães e Tereza Vieira. Com a morte do pai, sua mãe se casou com João Alves Mendes, com que teria outros 11 filhos. Aos 12 anos, deixou a terra natal para viver com a numerosa família no Recife. Na capital, entrou em contato com o universo dos cantadores e violeiros em encontros em feiras livres, Mercado de São José e Pátio de São Pedro. Grandes mestres da arte do improviso, como os violeiros Manoel Cabeceira, Cego Sinfrônio e Cirino da Guajurema, foram fundamentais para a sua formação.

Aos 20 anos, seguiu para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades. Ao longo da vida João Pernambuco, apelido dado pelos amigos por sempre exaltar as belezas do seu estado, foi serralheiro, calceteiro de ruas, servente e contínuo. Ocupações que asseguraram a sobrevivência enquanto consolidava seu nome como violonista e compositor. Aos 26 anos já despontava como grande nome do Choro ao lado de talentos como Pixinguinha, Donga, Zé Cavaquinho, Sátiro Bilhar, entre outros. Compôs mais de cem músicas, entre choros, valsas, jongos, maxixes, toadas, cocos, prelúdios e estudos.

Ao propor a criação do Dia Estadual do Choro - João Pernambuco, além do merecido reconhecimento ao grande compositor e violonista brasileiro, pretende-se ainda assegurar visibilidade às muitas contribuições dadas por Pernambuco ao gênero musical.

No Estado, o movimento do Choro sempre foi intenso e de reconhecimento nacional. Grandes nomes como os de João Pernambuco, Rossini Ferreira, Luperce Miranda, Quincas Laranjeiras, Tia Amélia, Zé do Carmo, entre tantos, colocaram Pernambuco como um dos importantes centros de efervescência do Choro no Brasil, acompanhado do Rio de Janeiro e São Paulo.

Tendo a Região Metropolitana do Recife como grande centro, o gênero expande-se também para o interior. Isso acontece em movimento crescente, através de festivais culturais, que asseguram divulgação da produção musical das novas gerações de chorões, acesso e formação do público, revelando a qualidade e diversidade do Choro que fincou raízes em terras pernambucanas.

Alepe

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