sábado, outubro 08, 2022

Canibal, pinguço e vagabundo: Lula e Bolsonaro deixam propostas de lado e baixam nível dos ataques


No dia em que foi retomada a propaganda eleitoral no rádio e na TV, as campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) deixaram as propostas de lado e baixaram ainda mais o nível dos ataques de lado a lado. Em inserção na televisão, o PT associou Bolsonaro com a prática do canibalismo, resgatando uma entrevista antiga do chefe do Executivo em que ele afirma que “comeria um índio sem problema nenhum”. Já o titular do Palácio do Planalto se exaltou em entrevista, chamando Lula de “pinguço” e vinculando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, ao possível aparecimento de casos de poliomielite no país.

Mais tarde, os dois bateram boca por meio de suas contas oficiais no Twitter. Lula ironizou a reação de Bolsonaro, dizendo que um chefe de Estado não pode ficar nervoso. “O que um chefe de Estado não pode fazer é roubar, seu vagabundo”, retrucou o titular do Planalto.

O vídeo veiculado pela propaganda petista foi retirado de uma entrevista concedida por Bolsonaro ao New York Times em 2016. “É pra comer. Cozinha por dois ou três dias e come com banana. Eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara: ‘se for, tem que comer’. Eu como! Aí a comitiva, ninguém quis ir. Eu comeria um índio sem problema nenhum”, fala o atual presidente.
Esse trecho é antecedido pela voz de uma narradora que diz: “Depois de todos os absurdos que o Brasil já ouviu de Bolsonaro, surge um ainda mais assustador”. Enquanto ela fala, aparecem imagens do presidente usando o tripé de uma câmera para simular uma metralhadora, fazendo o sinal de uma arma enquanto segura uma criança no colo, e chamando a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “vagabunda”. Após o trecho da entrevista ao New York Times, a campanha petista arremata: “É monstruoso. Bolsonaro revela que comeria carne humana.”

A íntegra da entrevista, na qual Bolsonaro conta uma visita que fez a uma aldeia indígena, está no canal oficial do presidente no Facebook. Na versão completa, ele afirma que em um ritual, a tribo cozinha o indígena após sua morte e que não foi ao local porque ninguém da sua comitiva quis acompanhá-lo: “É a cultura dele e eu me submeti àquilo”.

Nesta sexta-feira, durante entrevista à imprensa no Palácio da Alvorada, ao lado do apresentador José Luiz Datena, Bolsonaro não conseguiu esconder a irritação durante uma longa explanação, em que citou diversos temas em sequência.

O presidente atacou Lula, afirmando que ele carrega um “rastro de corrupção”.

— Se vocês botarem um pinguço para dirigir o Brasil, um cara sem qualquer responsabilidade, que tem um rastro de corrupção, um rastro de deboche para com a família brasileira, de ataques a padres, a pastores, de ataques às Forças Armadas, de ataques a policiais, vocês acham que vai dar certo? — disse Bolsonaro, dirigindo-se aos jornalistas.

Bolsonaro também afirmou que o petista não apresentou quem faria parte de seu eventual governo, citando um possível retorno do ex-ministro José Dirceu:

— Compare, veja os meus ministros e os futuros ministros de Lula. Ele não fala quem vai ser, ele não diz quem vai ser. Está na cara que o José Dirceu deve estar na Segov (Secretaria de Governo), Gleisi Hoffmann na Casa Civil, Dilma (Rousseff) na Minas e Energia. Vai trazer essa quadrilha de incompetentes para comandar o Brasil. Não vai dar certo.

Bolsonaro ainda criticou sentenças por meio das quais Alexandre de Moraes barrou pedidos de pronunciamento em rede nacional do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para falar da campanha nacional de vacinação da poliomielite.

— Agora a poliomielite. Pela segunda vez, Alexandre de Moraes proíbe a nossa propaganda para vacinar a garotada de pólio. Vai ter criança, certamente, que vai ser infectada e vai ter problemas pelo resto da vida. Por uma questão pessoal do Alexandre de Moraes. Para começar a dizer que o pessoal não quer vacina.

Em outro momento, o titular do Planalto acusou o presidente do TSE de cometer um “crime” ao quebrar o sigilo dos dados do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, um de seus ajudantes de ordem.

Exibição de apoios

No primeiro programa eleitoral de TV do segundo turno, ontem, os dois candidatos à Presidência levaram ao ar declarações de apoio conquistados nesta semana. Bolsonaro deu destaque aos governadores Romeu Zema (Novo), de Minas, e Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal. Lula, por sua vez, exibiu Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar para o Planalto, e Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da ação penal do mensalão.

O programa de Bolsonaro também destacou a eleição de aliados para a Câmara Deputados e o Senado, dizendo que o alinhamento entre Legislativo e Executivo é fundamental para “paz e harmonia” no país. A peça também mostra que as deputadas mais votadas do país são aliadas do presidente. Um dos principais desafios de Bolsonaro para a reeleição é superar a rejeição do eleitorado feminino.

Na reestreia na TV, a campanha de Lula optou por tentar atrair eleitores que não votaram no petista no dia 2 de outubro. Além da fala de apoio de Tebet, a gravação mostrou depoimentos de eleitores de Ciro Gomes (PDT) que decidiram votar em Lula no segundo turno.

No programa, o próprio Lula faz ataques a Bolsonaro ao dizer que o atual presidente foi “um desastre na economia” e “debochou da pandemia”.

Por Bruno Góes, Daniel Gullino, Fernanda Alves, Jeniffer Gularte e Jussara Soares
O Globo

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