terça-feira, agosto 30, 2022

Último líder da União Soviética e Nobel da Paz, Mikhail Gorbachev morre aos 91 anos

Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética e o político que encerrou a Guerra Fria sem violência, morreu aos 91 anos, informaram agências de notícias russas nesta terça-feira (30).

“Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu esta noite após uma doença grave e prolongada”, informou o Hospital Clínico Central da Academia Russa de Ciências.

Nos países ocidentais, Gorbachev é amplamente conhecido como o homem que acabou com a Guerra Fria, a disputa entre os blocos capitalista, liderado pelos EUA, e comunista, encabeçado pela URSS, mas muitos russos o acusavam de ter iniciado ousadas reformas de aberturas no estado que levaram ao colapso soviético.

Em 1990, o ex-líder ganhou o Prêmio Nobel da Paz.

Um dos críticos mais contundentes do atual presidente Vladimir Putin, ele concorreu na eleição presidencial em 1996, mas se saiu muito mal.

Gorbachev lançou um livro de memórias em novembro de 2012 e lamentou na ocasião não ter levado a União Soviética a um “bom porto”.

Vida

Mikhail Sergeyevich Gorbachev nasceu em 2 de março de 1931 em Stravropol, na Rússia, filho de uma família de imigrantes russo-ucranianos.

Ele perdeu duas irmãs e um tio durante um período de fome no país em 1933. Seus pais eram agricultores e ele ajudou-os no sustento durante a adolescência.

Gorbachev se formou em direito na Universidade de Moscou em 1955 e estendeu a formação acadêmica em 1967, quando completou curso de economia agrícola por meio de um curso por correspondência.

Na universidade, Gorbachev conheceu Raisa Titarenko, com quem se casou em 1953. Raisa morreu em 1999 em decorrência de leucemia. Os dois tiveram a filha Irina Mikhailovna Virganskaya em 1957.

Trajetória política

Durante o período na Universidade de Moscou, ingressou no Partido Comunista e se tornou membro ativo da legenda, escalando cargos mesmo jovem. Foi nomeado chefe de departamento em 1963 e, em 1970, chegou ao cargo de primeiro-secretário do Stavropol Kraikom.

Gorbachev entrou no comitê central do Partido Comunista em 1971. Ele continuou a ascensão política e, em 1979, foi promovido ao Politburo, maior autoridade da União Soviética.

Ele viajava constantemente pelo mundo, e na década de 1980 se encontrou com líderes como a premiê britânica Margaret Thatcher, o premiê canadense Pierre Trudeau e o presidente americano Ronald Reagan.

Em 1985, após a morte de Konstantin Chernenko, Gorbachev foi eleito Secretário-Geral do Politburo, mesmo sendo o mais jovem da organização.

Liderança da União Soviética

No ano seguinte, Gorbachev anunciou uma série de reformas que visavam revitalizar a União Soviética. Perestroika (reestruturação) e glasnost (abertura) são algumas das medidas que acarretaram em maior abertura política e econômica do estado soviético.

Com a reorganização que incluiu um novo Congresso, a União Soviética teve em 1989 as primeiras eleições desde 1917. Gorbachev foi eleito presidente e tomou posse em 1990, ano da queda do muro de Berlim.

No mesmo ano, recebeu o Novel da Paz por “seu papel no processo de paz que hoje caracteriza partes importantes da comunidade internacional”, segundo disse a entidade na ocasião. Ele presidia a Fundação Gorbachev, dedicada a programas de caridade e à educação.

Durante seu governo, Gorbachev promoveu uma relação mais próxima com o Ocidente e, em uma série de encontros de alto nível, se reuniu com o então presidente norte-americano Ronald Reagan. Os dois acertaram acordos de desarmamento nuclear.

Em agosto de 1991, a ala dura do Partido Comunista promoveu um golpe dentro da própria legenda. Ele foi mantido refém por três dias e, ao ser libertado, se demitiu e dissolveu todos os partidos do governo - o que, na prática, acabou com o regime comunista da União Soviética.

Em 8 de dezembro, em Minsk, os presidentes de Bielo-Rússia, Rússia e Ucrânia declaravam a dissolução da União Soviética e, no dia 25, Gorbachev deixava o cargo.

Seu rival Boris Yeltsin tornou-se presidente, e nações que compunham a União iniciaram o processo para ficar independente, começando pela Ucrânia.

Após a União Soviética

Gorbachev tentou voltar para a política, mas não conseguiu resultados expressivos. Ele concorreu à eleição presidencial em 1996, mas se saiu muito mal.

Desde 1993, presidia a organização ecológica Cruz Verde Internacional e fazia, de maneira regular, conferências pelo mundo.

Em março de 2012, ele propôs relançar seu partido social democrata na esperança de unir os grupos de esquerda que se opõem a Vladimir Putin.

A legenda causou pouco impacto na formação anterior, quando não conseguiu obter nenhum assento na câmara baixa do Parlamento, antes de ser dissolvido em 2007.

Duas décadas após o colapso da União, em entrevista a agência de notícias BBC, Gorbachev disse que a Rússia ainda está na “metade do caminho” para a democracia e sugeriu que a perestroika e a glasnost não estariam completos.

“Ainda temos cinco ou seis anos à frente para fazer essa modernização de forma significativa. Isso deve envolver não só a nossa economia, mas tudo, incluindo a nossa vida política, vida cultural, educação, tudo. O país deve ser diferente”, disse, em 2011.

Problemas de saúde

Devido a problemas de saúde, ele já não pôde comparecer ao enterro da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, em abril de 2013.

Aos 75 anos, ele foi submetido a uma cirurgia na carótida em uma clínica de Munique, na Alemanha.

Em 2011, Gorbachev comemorou os seus 80 anos com uma noite de gala em Londres, no sofisticado Royal Albert Hall, com a presença de políticos, estrelas do mundo pop e cantores de ópera. A festa arrecadou verbas para o combate ao câncer.

Em agosto de 2013, hackers atacaram a versão em alemão da conta no Twitter da agência pública de notícias Ria Novosti e a de seu serviço de imprensa, nas quais publicaram mensagens falsas que anunciavam a morte de Gorbachev em um café de Ekaterinburgo.

g1 Mundo

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