Depois de anunciar que realizaria uma parada militar na praia de Copacabana no 7 de Setembro, com “muita gente”, tropas das Forças Armadas e agentes da Polícia Militar, Jair Bolsonaro recuou da ideia e aceitou que o tradicional desfile do feriado da Independência seja feito no local de sempre: a Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio.
Conforme revelou a coluna, a cúpula das Forças Armadas e o núcleo político da campanha do presidente à reeleição estavam tentando demovê-lo da ideia desde a semana passada.
Em lugar do desfile militar, Bolsonaro aceitou promover um ato político "patriótico", ao estilo das manifestações bolsonaristas, com gente vestida de verde e amarelo nas ruas e ataques ao STF e às urnas eletrônicas.
Desde o final da semana passada, após o café da manhã que teve no QG do Exército com integrantes do Alto Comando em que foi aconselhado a desistir da parada militar em Copacabana, Bolsonaro parou de insistir no assunto internamente.
Apesar de ter mencionado as críticas à sua intenção de levar um desfile militar para Copacabana, na entrevista que deu no início da semana ao Flow Podcast, aos auxiliares Bolsonaro só diz que o 7 de setembro será grande em Brasília e em São Paulo, e nem sequer menciona mais o Rio de Janeiro.
Na reunião com Bolsonaro, realizada na última quinta-feira (4), os militares apontaram que a mudança de roteiro traria ao menos dois problemas – o risco para a integridade física do presidente, que levaria à necessidade de montar um aparato de segurança complexo, e a perigosa mistura de um desfile militar com um ato de viés político partidário eleitoral, a dois meses do pleito presidencial.
Cartão postal do Rio, Copacabana é um palco tradicional palco de manifestações a favor de Bolsonaro e das investigações da Lava Jato.
O anúncio de Bolsonaro de que promoveria um desfile militar nesta data, em meio a chamados de tom golpista, num clima de conflito aberto com o TSE e de ataques à segurança das urnas, preocupou a coordenação de campanha.
Pesquisas internas contratadas para orientar a estratégia de marketing mostram que o eleitor médio não gosta desse tipo de radicalização e não compra o discurso de fraude, que faz parecer que Bolsonaro já sabe que será derrotado antes mesmo da votação.
Segundo aliados de Bolsonaro ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, o “conjunto da obra” convenceu o chefe do Executivo a abandonar os planos. De acordo com um integrante da campanha, “não ia ficar bem na foto” ter tanques desfilando nas ruas de Copacabana.
O processo de convencimento foi articulado não apenas pela cúpula das Forças Armadas e o núcleo político da campanha, mas também por assessores, militares do Planalto e a manifestação do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
Na última sexta-feira (5), Paes rechaçou a transferência do local – o que inviabilizou, na prática, a realização do desfile militar em Copacabana. No Twitter, o prefeito comunicou que o desfile será realizado na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, "onde o exército organizou e aonde sempre foi feito”.
Dentro da caserna, a avaliação é a de que a postura de Paes inviabilizou por completo o desfile militar na orla, já que a prefeitura tem papel-chave no planejamento do trânsito, da logística e da segurança do evento.
Além da questão política e dos riscos relativos à segurança, há ainda uma questão ju
rídica. A possível transferência do Sete de Setembro para Copacabana se tornou alvo de uma ação movida pela Rede Sustentabilidade no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na semana passada, a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, deu um prazo de 5 dias para o governo Bolsonaro apresentar explicações sobre a alteração de planos.
Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília
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