O crime aconteceu no sábado (9). Marcelo Arruda, de 50 anos, foi morto a tiros na própria festa de aniversário, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-presidente Lula.
O que diz a Polícia
A delegada afirmou que Guaranho atirou contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política. Segundo testemunhas, os dois discutiram sobre suas ideologias e seus pensamentos políticos. Guaranho falava palavras de apoio a Bolsonaro e contra o Lula, enquanto Marcelo se manifestava contra o Bolsonaro e a favor do Lula.
Entretanto, a policial afirma que a morte não foi provocada por motivo político, por ter entendido que os disparos tenham sido feitos após uma escalada na discussão. Segundo a delegada, nesse primeiro momento o agente penal chega a sacar e apontar a arma contra a vítima, mas vai embora. As investigações mostram que Guaranho deixou a esposa e o filho em casa e disse: isso não vai ficar assim, nós fomos humilhados, né? Ele nos provocou, nos humilhou, eu vou retornar. (veja entrevista acima).
"É difícil nós falarmos que é um crime de ódio, que ele matou pelo fato de a vítima ser petista", afirmou a delegada.
Segundo os depoimentos prestados à polícia, as pessoas que estavam presentes na festa ficaram assustadas e preocupadas com a possível volta do policial penal. Marcelo, a vítima, pegou a arma institucional dele e guardou na cintura. Já outras pessoas da festa foram até a portaria do clube e pediram para o porteiro fechar o portão com medo de que o autor retornasse. Guaranho chega logo depois, encontra o portão fechado, é interpelado pelo porteiro, mas sai do carro abre o portão e fala para o porteiro: sai da frente que o problema não é com você, eu vou entrar.
Na porta do clube, segundo as testemunhas, tanto a vítima quanto o autor ficam por cerca de três a quatro minutos um apontando a arma para o outro, até que Guaranho começa a atirar e entra no salão. O agente entra dentro da festa, efetua mais alguns disparos, e a vítima em solo começa a revidar esses disparos atingindo também o agente penitenciário que cai ao chão. Ambos ficam feridos, mas Marcelo morre pouco depois.
'"Segundo os depoimentos, que é o que temos nos autos, ele voltou porque se sentiu ofendido com essa escalada da discussão, com esse acirramento da discussão entre os dois", disse.
A delegada avalia ainda que Guaranho não planejou o crime pois, embora tenha recebido a informação de que a festa tinha temática do PT e tenha ido até lá para provocar com música de Bolsonaro, cometeu o crime em um segundo momento.
Ainda segundo a delegada, para se enquadrar em motivação política, seria necessário identificar um desejo de Guaranho em impedir os direitos políticos de Marcelo, o que, para ela, seria "complicado de dizer".
"Para você enquadrar em crime político, tem que enquadrar em alguns requisitos. É complicado a gente dizer que esse homicídio ocorreu porque o autor queria impedir os direitos políticos da vítima. Parece mais uma coisa que se tornou pessoal", afirmou Camila.
Conforme a delegada Iane Cardoso, a Polícia Civil também abriu um inquérito para apurar as agressões sofridas por Jorge Guaranho após ele atirar contra Marcelo Arruda. Três pessoas são investigadas pelo caso.
A polícia também aguarda um laudo pericial para determinar a gravidade das agressões sofridas pelo policial penal federal.
Como tudo aconteceu, segundo a polícia
De acordo com a Polícia Civil, o policial penal estava em um churrasco quando soube que a festa de aniversário Marcelo ocorria na associação. Ele foi informado por outra pessoa que tinha acesso às câmeras de segurança do local.
Sem fazer comentários sobre o evento, conforme a delegada, Guaranho saiu do churrasco e foi para a festa de aniversário de Marcelo para fazer uma provocação. Testemunhas disseram que ele chegou em um carro com a esposa e um bebê.
Além disso, o carro do atirador tocava uma música de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
No local, começou uma discussão. A delegada disse que testemunhas relataram que Marcelo jogou um punhado de terra contra o veículo de Guaranho. Depois disso, ele deixou a associação.
A Polícia Civil concluiu, com base nos depoimentos, que Guaranho retornou algum tempo depois por ter se sentido humilhado. Quando ele voltou, o porteiro da associação tentou impedir que ele entrasse no local a pedido dos participantes da festa.
Pela análise das imagens, a discussão teve a seguinte sequência:
Jorge Guaranho fica sabendo da temática petista da festa de Arruda em um churrasco com amigos;
Guaranho vai até a associação e, segundo testemunhas, coloca no carro uma música de apoio a Bolsonaro;
Marcelo sai do salão de festas, reclama e atira um punhado de terra contra o carro do policial penal;
Os dois começam a discutir e Guaranho chega a apontar a arma para Marcelo;
Guaranho deixa o local, leva a esposa e o filho para casa e diz à esposa que vai retornar ao local da festa. Enquanto isso, participantes da festa pedem para que o porteiro impeça a entrada, caso o policial volte;
Guaranho volta ao local e o porteiro tenta impedir sua entrada;
O policial abre o portão sozinho e invade o local;
Marcelo é avisado que o policial penal entrou;
O petista carrega a arma e coloca na cintura;
Guaranho estaciona o carro;
Marcelo pega a arma;
Guaranho chega na porta da festa e saca a arma de fogo;
Pâmela, mulher de Marcelo, avisa Guaranho que é policial civil e tenta evitar um confronto;
Marcelo e Guaranho ordenam um ao outro para que abaixe a arma;
Jorge Guaranho atira primeiro e invade o salão de festas. Os dois trocam tiros. Marcelo é morte e Guaranho fica ferido.
A delegada afirmou que o policial penal fez quatro disparos. Dois atingiram o tesoureiro do PT. Marcelo Arruda atirou 10 vezes, acertando quatro tiros contra o policial. O inquérito aponta que Marcelo tinha se armado para se defender, sabendo do provável retorno de Guaranho.
"A vítima pega a sua arma de fogo como proteção de um eventual retorno do autor. E a vítima aponta a arma de fogo quando vê a volta do autor, porque já sabia que o autor estava armado. Então, é uma atitude natural da vítima querer se defender."
Repercussões
Políticos e autoridades comentaram o assassinato do tesoureiro do PT. O partido chegou a solicitar que o caso fosse encaminhado para investigação de órgãos federais, mas teve o pedido negado.
Nas redes sociais, pré-candidatos à Presidência da República lamentaram a morte de Marcelo Arruda. Lula, ex-presidente e nome do PT para o cargo, prestou condolências, citou "intolerância" e ressaltou a necessidade de "democracia, diálogo, tolerância e paz".
O presidente Jair Bolsonaro fez uma publicação sem lamentar a morte do petista. Ele afirmou que violência é característica da "esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos".
G1 e RPC
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