Com a chegada do frio, hospitais em Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pernambuco têm visto uma explosão de crianças internadas. A causa principal são vírus respiratórios, comuns nesta época. A diferença neste ano, dizem médicos, é que um número alto de bebês e crianças teve contato com esses vírus ao mesmo tempo, após dois anos de pandemia em que ficaram isoladas em casa. O resultado é de sobrecarga: faltam leitos de UTI, se formam filas e já houve mortes de bebês à espera de uma vaga.
O Sabará Hospital Infantil, na capital paulista, adotou um plano de contingência para fazer frente ao volume excessivo de atendimentos em seu Pronto Socorro, devido ao pico de doenças respiratórias sazonais nesta época do ano (março a junho), somada à falta de leitos na cidade. O plano de contingência "permite aumentar a segurança no cuidado das crianças, de modo que todos recebam atendimento médico conforme seu risco de piora clínica (determinada por enfermeiro em até 15 minutos da chegada), considerando também limitações estruturais de número de leitos", informou em nota.
Segundo o Sabará, parte desse plano este ano incluiu a abertura temporária de leitos externos, e o aumento em 20% de leitos de internação para cuidados intensivos, totalizando 133 leitos dedicados apenas a internação pediátrica. Na noite desta quarta-feira, 25, o serviço encontrava-se com 95% de ocupação, valor alto em relação ao ideal de rotina hospitalar.
Os motivos de busca que têm pressionado o atendimento, ainda segundo o hospital, são a bronquiolite e as síndromes gripais, dentre essas últimas a covid-19 que apresentou aumento significativo nas últimas semanas, junto com outros vírus (rinovírus, metapneumovírus e enterovírus, bocavírus). "Em compromisso com a saúde infantil, ainda, temos um plano de expansão já em andamento para o próximo triênio", informou.
No interior paulista, as regiões de Campinas, Franca e Araçatuba têm alas pediátricas lotadas. Na segunda-feira, 23, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), se reuniu com representantes da Secretaria Estadual de Saúde e, segundo ele, foi definida a instalação de 70 leitos de enfermaria pediátrica e UTI neonatal na região. O cronograma ainda será definido.
"Abrimos mais leitos, mas a situação segue crítica, por isso fizemos cobrança ao governo do Estado, que se prontificou a abrir mais vagas. O momento é delicado", disse Saadi, que fez apelo para que as crianças sejam vacinadas contra gripe e sarampo.
Segundo o último balanço da prefeitura, 66 crianças estão internadas em leitos de enfermaria, 11 esperam por vaga e recebem assistência nos prontos-socorros. Mais de 30% dos pacientes que chegam à cidade são de outros municípios. No Hospital da Unicamp, 0s 20 leitos de UTI infantil estavam ocupados nesta quarta.
Em Araçatuba, a Santa Casa estava com 100% de ocupação de leitos na enfermaria pediátrica - o número de leitos já oi ampliado de 19 para 26. Conforme o hospital, 21 crianças aguardavam vaga e a prefeitura também pediu socorro ao Estado.
Em Franca, o pronto-socorro Infantil Magid Bachur Filho convive com a superlotação desde a semana passada, quando crianças e bebês tiveram de esperar até seis horas pelo atendimento. Conforme a Secretaria de Saúde, uma média de 462 atendimentos tem sido registrada neste mês na unidade, que tem cerca de 11 médicos, no plantão diurno e noturno. Também haverá reforço de 18 enfermeiros, aprovados em concurso público feito neste ano.
A Secretaria da Saúde paulista disse estudar a criação de vagas. "É importante salientar que a abertura de novos leitos não é prerrogativa apenas do Estado, mas também dos municípios e da União", destaca, em nota. Conforme a pasta, São Paulo tem cerca de 600 leitos pediátricos de enfermaria, com ocupação de 49,8%, e aproximadamente 300 de UTI (43,8%).
Recém-nascida morre após esperar UTI por 5 dias
Em Pernambuco, a fila de espera por leito de UTI, para crianças até cinco anos, tinha 228 nomes nessa quarta-feira, 25, e era a maior dos últimos dois anos, conforme a Secretaria da Saúde do Estado. Conforme a pasta, o número de vagas na terapia intensiva quase triplicou do que a oferta na mesma época de 2021, mas o número de solicitações já é praticamente quatro vezes maior.
Na região metropolitana do Recife, dois bebês morreram à espera de vaga na terapia intensiva neste semana. O primeiro óbito, na segunda, foi de um menino de 11 meses, que aguardava na emergência pediátrica do Hospital Barão de Lucena e sofria de doenças respiratórias.
A segunda paciente era Giovanna Amélia, de 1 mês e 17 dias, de Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife Segundo a tia da menina, Lanna Luz, a recém-nascida sofreu uma parada cardiorrespiratória. "Ela deu entrada na UPA (pronto-atendimento) no dia 19. E só conseguiu transferência para o leito da UTI no dia 24. Quando ela estava esperando a ambulância, não resistiu", disse a parente.
Conforme a Saúde, Giovanna recebeu os cuidados necessários na UPA, mas sofreu parada cardiorrespiratória quando estava sendo transferida. Sobre o garoto, afirmou se solidarizar com a família e se colocar à disposição para esclarecimentos. O Ministério Público cobrou o governo estadual informações sobre o número pediatras no Hospital Barão de Lucena.
O Estado autorizou o reforço nas escalas dos plantões pediátrico e de fisioterapia nas UPAs: 90 profissionais - entre fisioterapeutas, fonoaudiólogos e pediatras - foram convocados. A pasta disse ainda ter aberto 60 leitos de UTI pediátrica, na capital e mais cinco cidades. É prevista para esta semana a criação de mais 20 vagas. Outro problema enfrentado pelos gestores é a dificuldade de encontrar profissionais especializados para montar novas equipes às pressas.
O infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz que todo outono tem alta expressiva de doenças respiratórias, sobretudo em crianças, já que o tempo seco é mais propício para a propagação do rinovírus, adenovírus e vírus sincicial respiratório, antecedendo a estação do vírus influenza (gripe). "Há um aumento natural nessa época, mas o que tem de diferente este ano é que houve aumento expressivo de casos em comparação com os dois últimos anos, em que não teve a circulação desses vírus", explica.
Segundo ele, o distanciamento social e o uso de máscaras por causa da covid-19 reprimiram a circulação das viroses. "Isso acumulou crianças nessa idade suscetíveis a esses vírus respiratórios", alerta. "Além do vírus da covid, que também acomete as crianças, em menor escala, mas ainda é bastante. Os sinais de alerta para buscar os serviços médicos, independentemente de qual seja o vírus, são falta de ar, cansaço, febre alta, tosse. São os sinais que os pais devem observar."
Estadão Conteúdo
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