Pouco visto como uma alternativa viável para o lixo, o trabalho de reciclagem das cidades ainda fica praticamente sob a exclusividade de cooperativas de catadores, que após receberem algum incentivo público para capacitação, se responsabilizam pela atividade. De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente, reciclagem é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo.
Materiais como papel, vidro, plásticos e metal, além do alumínio, que representa o maior percentual de reciclagem no país – cerca de 97,9% – são os materiais possíveis de reciclagem encontrados nos resíduos sólidos urbanos. A alta taxa de reciclagem do alumínio ocorre porque seu valor de mercado é mais significativo que os demais materiais. A reciclagem do papel apresenta o segundo maior índice, conforme dados da Associação Nacional dos Aparistas de Papel, que atinge 63,4%.
No entanto, mesmo podendo ser reciclado o que significaria um alto impacto ambiental, principalmente nas águas, o plástico é o material que apresenta a maior dificuldade de reciclagem devido ao baixo valor agregado e a expressiva quantidade de resíduos necessária para a obtenção de lucro. O material, produzido a partir de derivados do petróleo, agravando o problema das mudanças climáticas, tem uma decomposição que pode levar séculos. De acordo com levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), se o plástico descartado fosse reciclado, seria possível retornar cerca de R$ 5,7 bilhões para a economia, além do imenso impacto positivo para o meio ambiente. Dos tipos de plásticos produzidos no Brasil, o PET é o que apresenta o maior índice de reciclagem, chegando a 51% do total produzido. Mesmo assim, considerando a quantidade de plástico produzida no Brasil, o índice de reciclagem deste produto é de apenas 13,5% do total de resíduos produzidos anualmente no país.
Em Jacobina, cidade situada na região norte da Bahia, no extremo norte da Chapada Diamantina, o trabalho de reciclagem foi iniciado no ano de 2012 com a finalização e remediação do lixão da cidade. De acordo com o coordenador do projeto Recicla Jacobina, Guilherme Mesquita, mesmo passados 10 anos de atuação, a cooperativa ainda não consegue atender a cidade toda, tendo sua atuação nas comunidades de Itaitu, Piancó, Timbó e Lagoa do Timbó. “O projeto, iniciado em 2012, aconteceu com a finalização e remediação do lixão da cidade e em contrapartida social foi realizada a formação e capacitação dos catadores, que finalizou em 2014, quando definitivamente começou a atuar com a prestação de serviços de coleta seletiva, uma das etapas da limpeza urbana. Em 10 anos e com a experiência que adquirimos, a cooperativa já foi premiada diversas vezes e serve de modelo para outros municípios, como Ourolândia que replicou o sistema em 2017”, explicou.
Ainda segundo o coordenador da cooperativa, o trabalho de coleta de resíduos recicláveis na sede do município, atende apenas um bairro. Mesma dificuldade que as demais cidades esbarram considerando que apenas 22 milhões dos mais de 200 milhões de brasileiros são contemplados por programas de coleta seletiva, o que representa 18% da população. Além de mais políticas públicas para incentivar a reciclagem, também é necessário esclarecer a população sobre os impactos resultantes do descarte incorreto, ou seja, o descarte de materiais recicláveis sujos ou em meio a alimentos e rejeitos pode inviabilizar seu reaproveitamento.
“Não é difícil efetivar a coleta seletiva nos municípios, é uma questão de eleger prioridades. Hoje o que se recicla é uma menor parcela do lixo, ou seja, a maior parte é descartada mesmo podendo ser tratada. Diante dos resultados, qual modelo temos que incentivar e apoiar?”, disse Mesquita. A cooperativa de Jacobina contabiliza atualmente cerca de 40 catadores, estrutura com caminhões e carrinhos manuais e motorizados, além de triciclos.
Outros usos, uma arte
A reciclagem é uma alternativa para a problemática de resíduos sólidos urbanos, alcançando a esfera ambiental, o âmbito social e o desenvolvimento econômico. Além de evitar a poluição do ar, água e solo, a reciclagem também pode ser uma aliada no aumento da vida útil dos aterros sanitários, estimada em cerca de 20 anos.
Outras iniciativas mostram ainda como o reaproveitamento desses materiais também ganham significados diferentes em Jacobina. O projeto Recicla Som criado no ano 2006 nasceu com intuito de produzir pesquisas sonoras com crianças do colégio municipal de Jacobina e hoje, ao ter ganhado proporções maiores, se transformou em orquestra, banda de música, flauta e coral.
Criado pelo professor e musicoterapeuta Jau Nunes, o projeto Recicla Som faz música através de materiais que seriam destinados ao lixo. Caixa de TV, garrafa pet, balde, estantes, tonéis são alguns dos materiais utilizados para fazer músicas principalmente alusivas ao sertão e à cultura nordestina. “Através do lixo criamos uma pesquisa sonora com resíduos sólidos onde a gente pode produzir som, pode produzir arte para mostrar para a população a potencialidade desse material. A mensagem é principalmente de transformação do ser humano oportunizando mudanças de atitudes que tragam benefícios em todos os sentidos”, explicou o professor.
Pelo projeto Recicla Som já passaram em torno de 1.000 jovens, e entre eles alguns já se destacaram tocando fora do país e outros seguem na carreira se qualificando nas faculdades e universidades.
A Lei 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que todo material produzido pelas atividades domésticas e comerciais possíveis de coleta pelos serviços de limpeza pública, deve ser encaminhado para destinação final – aterros sanitários, apenas quando não é possível seu reaproveitamento, seja por meio da reciclagem, reutilização, compostagem ou geração de energia.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante
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