quarta-feira, maio 11, 2022

Caminhoneiros se mobilizam contra reajuste e já falam em paralisação



O reajuste de 8,8% no preço do diesel nas refinarias, anunciado pela Petrobras e que começou a valer ontem, provocou reação imediata dos caminhoneiros, que alegam não estar conseguindo manter a frota. Wallace Landim, conhecido como Chorão, comanda a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava). Em vídeo, ele declarou que o aumento de R$ 0,40 no litro, de R$ 4,51 para R$ 4,91, vai impactar diretamente no bolso do trabalhador. "Não podemos ficar quietos, eu conheço e sei o quanto vai impactar na mesa do trabalhador no final", afirmou.

"Na última fala do presidente (Bolsonaro), ele começou a entender que precisa realmente mexer no preço da paridade da importação. Uma estatal que teve um aumento de lucro de 3.400% no trimestre", reclamou Chorão. A categoria já admite diminuir a jornada de trabalho ou até mesmo parar a frota.

Em nota à imprensa, a Abrava manifestou indignação com os novos valores do combustível. “O governo e a Petrobras mudaram a estratégia, não estão aumentando tudo de uma vez. Uma semana aumenta o gás, na outra a gasolina, e agora o diesel. Lembramos que essa luta pelo fim do PPI (preço de paridade de importação) não é só dos caminhoneiros, mas sim de toda a população brasileira, principalmente os mais vulneráveis e a classe média.”

A Petrobras justificou o reajuste com o argumento de que o diesel não era corrigido havia 60 dias. Os valores da gasolina e do gás liquefeito de petróleo (GLP) foram mantidos. "Desde aquela data, a Petrobras manteve os seus preços de diesel e gasolina inalterados e reduziu os preços do GLP, observando a dinâmica de mercado de cada produto", afirmou a estatal em nota.

Já os transportadores de combustíveis de Minas Gerais reafirmaram ontem que farão assembleia até o fim da semana para discutir a possibilidade de greve. “Se não conseguirmos equilibrar as contas, existe a possibilidade de greve”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Sinditanque-MG), Irani Gomes. “Não temos data marcada, mas teremos assembleia para definir sobre essa política de preços da Petrobras, que está muito dura para os caminhoneiros”, disse também.

“Quando se tem um aumento no combustível, automaticamente aumentam os insumos. Os caminhões usam lubrificantes, Arla, pneus e oficina. Tudo passa a ser mais caro. A gente fica com uma defasagem de 20% a 25%”, completou.

A Petrobras informou ainda que a nova alta do diesel decorre de uma redução global de oferta em relação à demanda e de estoques abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões fornecedoras. Esse desequilíbrio, de acordo com a nota, resultou na elevação dos preços do diesel no mundo inteiro, "com a valorização desse combustível muito acima da valorização do petróleo". "A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta", informou a estatal.

IMPACTOS ECONÔMICOS

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), alerta para os impactos econômicos do reajuste. "O diesel já subiu 49% em 12 meses. Então, qualquer reajuste que a gente tenha daqui para a frente pesa mais na estrutura produtiva", explicou. "A gente sabe que a prestação de serviços, o frete, em especial, e o movimento das máquinas agrícolas, tudo isso tende a ficar mais caro, subir de preço e isso acaba espalhando as pressões inflacionárias", disse.

Para Braz, o aumento de 8,8% na refinaria chega na bomba pela metade, em torno de 4,5%. "Temos mais uma pressão inflacionária que, apesar de pequena frente ao último reajuste, só engrossa a necessidade de a gente ver correção de preços em serviços, principalmente no transporte público." O economista observou, ainda, que o impacto do diesel no IPCA é pequeno. "O diesel pesa pouco na inflação ao consumidor, mas pesa muito no frete, então o efeito indireto do diesel na inflação é o mais perverso."

Com o reajuste no diesel, aumenta a expectativa em relação à gasolina. Na semana passada, o preço do derivado subiu pela quarta semana seguida e chegou a custar, em alguns postos, R$ 7,59. A Petrobras informou que os aumentos não partem da estatal, e sim das distribuidoras de combustíveis. "O último aumento da gasolina que a Petrobras fez foi em 11 de março (58 dias), e agora ela já reajustou o diesel. Não tem por que ter qualquer aumento por conta da estatal", informou a empresa.

O problema não é só no preço. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis/DF), Paulo Tavares, alerta para o risco de desabastecimento. "Está faltando gasolina em todo o território nacional", afirmou. "Hoje eu pedi para entregar 70 mil litros nos meus postos, mas recebi apenas 40 mil litros."

Fonte: Estado de Minas


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