O sertanista Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai e uma das maiores autoridades sobre a questão indígena do país, devolveu, ontem, a Medalha do Mérito Indigenista, que recebeu há 35 anos. O gesto foi em protesto à concessão da honraria ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que em várias oportunidades se colocou contra os direitos dos povos originários — como, por exemplo, quando criticou a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) não acatar a tese do novo marco temporal da demarcação das terras indígenas.
Possuelo esteve no Ministério da Justiça não apenas para protocolar a devolução da honraria, mas também para deixar uma carta (veja abaixo a reprodução) endereçada ao ministro Anderson Torres — que assinou a portaria concedendo a medalha a Bolsonaro e a outros integrantes do governo. O sertanista afirmou que se sentiu "ofendido" ao receber a mesma homenagem entregue a alguém que, segundo ele, faz campanha contra a demarcação e propõe a mineração industrial dentro das reservas.
"A Constituição, no artigo 231, determina e dá um prazo para as demarcações. Ele (Bolsonaro), em sua campanha (eleitoral de 2018), disse que não ia demarcar. É uma ação contra os povos indígenas. Fiquei pensando: se eu me senti ofendido, quem dirá aqueles que dedicam a vida a essa eterna defesa da causa", salientou.
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