Uma biblioteca, dois nomes e vários endereços. Fotos: Lúcia Xavier (acima) e Assis Ramalho (abaixo)
Hoje, apesar do avanço tecnológico permitir acesso através de aplicativos da Caixa e do Gov.br, pela Internet ou smartphone, ainda é preciso ir a Paulo Afonso, na Bahia, ou à distante Serra Talhada, para resolver questões simples, mas com soluções indisponíveis nas duas lotéricas existentes na cidade. Um exemplo é o saque do FGTS acima de R$ 1.000,00 para quem não tem conta bancária. Quem vai a Paulo Afonso, por exemplo, e procura atendimento na agência da Praça das Mangueiras, sabe o que são filas com centenas de pessoas sob sol ou chuva, espremidas numa calçada, sem ter sequer uma lanchonete por perto. Em caso de fome ou sede durante a longa espera, o socorro são os ambulantes instalados no canteiro da avenida ou os carrinhos de picolés. Na falta de sombra, até um envelope de documentos vira chapéu. Enquanto não se adentra o prédio, não existe lugar para sentar e descansar as pernas por um instante, mas o cliente pode esperar sentado: no chão, nas pedras do jardim, num tamborete (sim, alguns levam), fazer de assento o capacete ou procurar escoramento nas raras e ralas árvores, em cercas e paredes. E assim vai se arrastando, até conseguir entrar.
Além disso, as filas vistas em Petrolândia, em determinados períodos do mês, tanto nas lotéricas quanto nos bancos, demonstram a dificuldade de organizar os clientes ao longo de avenidas com calçadas estreitas, onde todos são localizados. A passagem de pedestres e o acesso de algumas lojas ficam prejudicados. A Avenida Manoel Borba chega a ser interditada para colocação de toldos em frente aos bancos, quando necessário. Abrir mais um estabelecimento bancário nessas condições inadequadas, sabendo-se que o movimento poderá ser elevado durante o mês inteiro, é encomendar transtornos evitáveis com a escolha de um bom local. A Praça dos Três Poderes talvez não ofereça 100% de conforto, mas pelo menos existe espaço suficiente para organizar filas com segurança, afastadas do trânsito, sem obstáculos aos pedestres e ao acesso/visibilidade das lojas.
Além da comodidade de atender moradores locais e de cidades vizinhas, uma agência da Caixa no município é um enorme atrativo para impulsonar a retomada econômica no município, para alento de comerciantes e demais empreendedores urbanos e rurais, profissionais liberais, pessoas que ousam formalizar um negócio, manter o estabelecimento aberto, ver os custos e a inadimplência subirem e o lucro desabar e, apesar da crise assustadoramente escancarada, resistir para manter empregos. O movimento comercial no centro de Petrolândia é que ainda garante alguns trocados aos já muitos mendicantes e alguma renda aos informais e ambulantes que resistem em suas atividades. Por isso, quem depende de comércio, indústria e serviços, quem tem firma aberta, empregados para pagar, quem tem uma "viração" informal, um emprego para agradecer e zelar, quem precisa de um emprego e não tem, quem vive de comissão e de "bico", é quem reconhece a necessidade de Petrolândia ter mais dinheiro em circulação e sabe que o maior patrimônio do município é o povo.
Privilegiados com emprego fixo, estabilidade, que atravessaram o pico da pandemia com a renda garantida todo mês, mesmo sem dar expediente, talvez não tenham empatia para entender as necessidades de quem calçou as sandálias da humildade e teve/tem que correr atrás de auxílio, de cesta básica, de pedir ajuda para colocar comida no prato da família e manter a casa nesse período de calamidade, fatal para muitas pessoas e empresas. Talvez falte empatia com os desempregados, desalentados, com os trabalhadores que vivem de incerteza sobre a renda no final do mês e o emprego no mês seguinte, da expectativa de receber em dia o salário, as comissões, o 13º salário, ou "os direitos", se for demitido. Com quem teme ir para a rua ao ver a empresa onde trabalha com baixo movimento e com quem pensa em entregar o ponto pelo mesmo motivo. Empatia com todos que convivem, diariamente, com a angústia de ter que ganhar dinheiro suficiente para pagar as contas cada mês mais amargas e fazer a feira cada vez mais magra, e nem sempre conseguir.
Durante o período crítico da pandemia, houve uma explosão no número de empreendedores de Petrolândia, principalmente no setor de alimentação, um dos poucos autorizados a funcionar. Vários novos empreendimentos surgiram e muitos fracassaram, porque a concorrência é altíssima. Alguns conseguiram sucesso e ainda estão no mercado. Para esperança de jovens que precisam trabalhar na "cidade que não tem emprego", em plena pandemia Petrolândia viu a inauguração do Magazine Luíza, que gerou novas vagas, e a Americanas Express não fechou as portas. Atrair e manter na cidade esses estabelecimentos de renome nacional, que conferem reconhecimento da posição estratégica e relevância de Petrolândia na região, depende do aquecimento do mercado consumidor, do dinheiro em circulação, abrindo caminho para a chegada de novos empreendimentos no futuro. Há poucos anos, a cidade perdeu a Agência da Previdência (INSS) com o fechamento do posto provisório/permanente instalado no Centro Cultural. Os funcionários foram transferidos para a unidade de Tacaratu. Após apelos políticos, a cidade conseguiu recuperar a agência, mas a reabertura demorou a ser feita. Agora é hora de agarrar com as duas mãos a oportunidade de ter a Caixa em Petrolândia, antes que dificuldades técnicas de instalação transfiram a agência para outro lugar.
E a Biblioteca Municipal vai para onde? A instituição remanejada do prédio original em 2012, na avenida da Orla Fluvial, para instalação do Posto Avançado do Corpo de Bombeiros, uma das maiores conquistas de Petrolândia nas últimas décadas. Ainda não havia outro local pronto para receber o acervo, que foi parcialmente deteriorado ou extraviado no processo de transferência e espera das novas instalações. Na época, a biblioteca pública funcionou provisoriamente na Escola Municipal Sete de Setembro, na Quadra 01.
O ponto escolhido pela Prefeitura para construção da nova sede da Barão de Mauá foi a Praça dos Três Poderes, como anexo do Centro Cultural. Ali a biblioteca, em tese um templo de silêncio e reflexão, foi inaugurada na avenida mais acusticamente movimentada de Petrolândia, em frente a uma difusora. Na época, este blog criticou o novo endereço, escolhido sob justificativa de fácil acesso para os estudantes. Se assim foi, qualquer local de fácil acesso é aceitável hoje, com ou sem a perturbação experimentada pelos frequentadores de eventos no auditório do Centro Cultural, num simples abrir e fechar de portas - até sem isso, às vezes.
Neste momento, a Biblioteca Pública Municipal Gilberto de Menezes pode ser acomodada no primeiro andar do Centro Comercial Abel Henrique de Souza. O pavimento superior do Mercado Público tem espaço para mais do que um depósito de livros, com mesas de estudo e leitura. Ali cabem bancos de praça para acomodar os leitores, exposições, feiras e lançamentos literários, oficinas de artesanato e trabalhos manuais, recitais, projetos escolares, apresentações musicais e culturais, entre outros eventos de cultura, lazer e educação, e programações nos dias da feira (Sexta Cultural?). Enfim, ali tem espaço para uma biblioteca pública viva, útil e atrativa da curiosidade popular, para a criação de um ambiente dinâmico, educativo, construtivo, acolhedor, acessível e sobretudo próximo do povo, como provavelmente poderia desejar o generoso professor Gilberto, que tanto contribuiu com a educação escolar, a qualificação de profissionais e a cultura de Petrolândia.
Alternativamente, o terreno baldio disponível na Praça dos Poderes, entre a Rua Dom Pedro II e a Avenida Auspício Valgueiro Barros, é bastante para a construção de um complexo de equipamentos culturais, como teatro, museu e um novo prédio para a Biblioteca Municipal.
Dessa forma, não há nada de lamentável, desprestigiante, repudiável ou absurdo na proposição de a Biblioteca Municipal ceder espaço para o funcionamento de uma instituição aguardada em elevada urgência, devido à importância econômica e social para a cidade de Petrolândia e o Sertão de Itaparica.
Lúcia Xavier/Blog de Assis Ramalho