Ao assegurar o reajuste de R$ 1,9 bilhão aos policiais federais, Bolsonaro agradou a uma parcela importante de seu eleitorado, em compensação, o gesto provocou a ira de diversas outras categorias
Traídos, esquecidos e revoltados. Esse é o sentimento dos servidores que não foram contemplados com o reajuste salarial no Orçamento de 2022, aprovado nesta semana pelo Congresso Nacional. Em todo o país, categorias se organizam para paralisar os trabalhos e até mesmo entregar os cargos, como resposta ao presidente Jair Bolsonaro, que decidiu conceder aumento apenas às forças de segurança pública.
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), Janus Pablo Fonseca de Macedo, destaca que os funcionários da área prometem reagir. "Fomos preteridos pelo governo federal, mesmo trabalhando durante a pandemia sem vacinação e nos expondo para garantir o abastecimento nacional. A categoria está ao chão", disse ao Correio.
Ao assegurar o reajuste de R$ 1,9 bilhão aos policiais federais no Orçamento de 2022, Bolsonaro agradou a uma parcela importante de seu eleitorado, particularmente os 45 mil servidores que integram a corporação. Em compensação, o gesto provocou a ira de diversas outras categorias de servidores.
Janus Macedo afirma que a classe vai se reunir na próxima segunda-feira para definir os rumos da paralisação. A entrega dos cargos também não é descartada. "Estamos fazendo levantamentos com todas as regionais para que a gente faça um movimento robusto de entrega de cargos. Fazer algo que realmente explicite a nossa indignação perante a decisão do governo", afirma.
A entidade ainda se manifestou em comunicado oficial. Por meio de nota, o Anffa destacou a importância do agro para a economia brasileira. "Não há dúvidas de que a segurança pública é obrigação do Estado, mas se o agro não agir, garantindo alimentos, emprego e renda para a população, não haverá força policial capaz de se sobrepor à fome, ao desemprego e aos desalentados", diz trecho do documento.
Debandada na Receita
Na Receita Federal, a situação é ainda mais grave. Os auditores do órgão iniciaram o movimento de entrega de cargos e continuam se mobilizando para pressionar o governo. Ontem, os servidores da Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação (Copei), área de inteligência que atua no combate à sonegação, lavagem de dinheiro e crimes financeiros, também pediram exoneração.
Chega a quase 700 o número de auditores da Receita que entregaram cargos de chefia no órgão, segundo o Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).
Em uma carta pública, assinada por 17 auditores da Copei, os funcionários do órgão afirmam que "há momentos que requerem ações visando resultados imediatos, que se sobrepujam ao compromisso com potenciais resultados imediatos".
Além disso, 44 servidores entregaram os cargos de conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) — responsável por julgar disputas tributárias entre a União e os contribuintes. O órgão funciona como uma espécie de tribunal da Receita.
A situação pode inviabilizar julgamentos a partir de janeiro, quando começam a ser decididos os recursos mais relevantes em questões tributárias. "Entendemos que a situação atual se mostra incompatível com o exercício das nossas funções, pelo que solicitamos a dispensa do mandato que ora desempenhamos", dizem os servidores em carta pública.
Servidores de órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Fundação Nacional do Índio (Funai); Agência Brasileira de Inteligência (Abin); além de carreiras médicas e ligadas à Previdência, também cobram reajustes.
Correio Braziliense
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