Para aliados, Moro é o candidato certo para aliviar as tensões da polarização política entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que prometem ser mais altas em 2022 do que em 2018. É o que aposta o colega de partido do ex-juiz, o senador Eduardo Girão (CE). "É uma opção que renova a força de um símbolo perdido de esperança e transformação, sem termos que enveredar necessariamente para mais um Fla x Flu", crê. "O cidadão brasileiro não aguenta mais briga por política. Repugna isso. Ele quer maturidade e diálogo", acrescenta o parlamentar.
Girão destaca ainda que Moro goza de muita credibilidade junto a grande parte da população. "Seu trabalho exitoso, que ganhou popularidade por ser um símbolo positivo do país, de que a justiça seria para todos, está muito forte e recente no imaginário do povo brasileiro", afirma o senador, que menciona também um sentimento de "gratidão" de muitos brasileiros.
Leandro Consentino, professor de ciência política e relações internacionais do Insper, acredita que, caso Moro mantenha a popularidade, é possível que mude o rumo das eleições. "O desafio da terceira via é difícil quando há pulverização de candidatos, mas Moro é quem tem mais condições de fazer isso neste momento", avalia.
Consentino explica que a candidatura de Moro também torna delicada a situação do Partido dos Trabalhadores (PT), visto que enfrentar o presidente no segundo turno seria o melhor cenário para o partido de Lula. "Deverá haver um esforço de igualar Moro e Bolsonaro ao longo da campanha, em uma tentativa de deslegitimar essa candidatura", prevê.
Para Danilo Morais dos Santos, professor da pós-graduação do Ibmec-DF, uma eventual ascensão de Moro na preferência do eleitorado pode levar "Lula e Bolsonaro a um cessar-fogo entre si, tendo em vista que a maior ameaça para ambos é a chamada terceira via". Diante disso, é possível que a imagem do ex-juiz venha a sofrer alguns desgastes, em razão dos excessos cometidos pela Operação Lava-Jato, que devem ser explorados pelos adversários durante a campanha presidencial.
A respeito da candidatura, outro ponto a ser considerado são os limites da popularidade do ex-ministro, uma vez que ter o nome em pauta nas principais capitais do país, no caso de Moro, é um dos principais desafios. "É uma candidatura que vai do Oiapoque ao Chuí. Não basta ser um nome conhecido apenas em alguns lugares. Embora Moro tenha largado com muita potência na corrida eleitoral, há desafios pela frente para consolidar o nome dele para o ano que vem", explica Danilo Santos. O professor destaca também que o enraizamento partidário poderá fazer falta para o ex-ministro, que se filiou no início deste mês ao Podemos.
Animosidades
Após a conturbada saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça de Bolsonaro, em abril do ano passado, não são raros os ataques entre o presidenciável e o chefe do Executivo. Na última live realizada por Bolsonaro nas redes sociais, ele chamou Moro de "mentiroso deslavado" e afirmou que o ex-juiz faz "papel de palhaço".
Foi uma reação às declarações de Moro sobre Bolsonaro ter supostamente comemorado a saída de Lula da prisão. Moro, por outro lado, usou as redes sociais para criticar as declarações do presidente contra a vacinação. "Volto a dizer: com mais de 615 mil mortes, a postura antivacina do presidente já foi longe demais. Estamos falando de vidas humanas", escreveu em um tuíte no dia 1º de dezembro.
O ex-ministro Moro ainda declarou, em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, ontem, que o combate à corrupção, tão evidenciado na campanha de Bolsonaro, não é uma prioridade de fato. "Bolsonaro não está nem aí para o combate à corrupção", disse ele à jornalista Denise Rothenburg.
Sem reconciliação
Diante das críticas trocadas entre os dois possíveis candidatos ao pleito, especialistas avaliam que, mesmo em um cenário em que a união de Moro e Bolsonaro fosse determinante para a derrota de Lula, não há chance de reconciliação. "Não concebo uma aliança entre Bolsonaro e Moro. A saída dele do Ministério foi muito traumática, e, com o presidente jogando nesse modo sobrevivência, tudo indica que será uma campanha muito pesada, que vai dificultar muito um apoio entre os dois", analisa Danilo Santos.
Para o senador Girão, as trocas de farpas não irão colaborar com o debate edificante que deveria haver nas eleições. "Tudo o que o brasileiro anseia é por uma campanha diferente, que deixe de lado a agressividade entre candidatos e evidencie exposições propositivas para o triunfo do Brasil e dos brasileiros", argumenta.
Leandro Consentino, professor do Insper, também acredita ser improvável um acordo que sele a paz entre Moro e Bolsonaro. "Mas, tampouco, eu consigo vislumbrar estes dois dando a mão para o Lula num eventual segundo turno. Eu antevejo que eles vão liberar seus eleitores para fazer o que quiserem e aí, muito provavelmente, os eleitores de um migram para o outro", vislumbra. "Acho que a questão está menos pautada nas lideranças, num acordo eventual, e mais no comportamento do eleitorado".
Projeções
É possível, ainda, que ocorra o contrário do cenário de 2018, quando muitos políticos de carreira foram deixados de lado, em meio aos anseios por renovação. O pleito de 2022 pode vir com um quê de tradição e convencionalidade, como avalia o professor Danilo Morais, do Ibmec-DF. "Nessa eleição, apostaria nos políticos profissionais, com tempo de TV, composições políticas, nos âmbitos regionais e locais. Nesse sentido, Lula e Bolsonaro largam na frente em desfavor de Moro", vislumbra.
"Moro está muito próximo de um ponto de saturação, isso cria uma expectativa grande do mercado. Ou ele vai estagnar ou, mesmo com a campanha negativa, pode haver uma inflexão forte e ele perder esse eleitorado. É um forte candidato a repetir o fenômeno Marina Silva", avalia.
A ex-ministra do Meio Ambiente, nas eleições de 2014, era favorita nas pesquisas eleitorais. Mas já na reta final do primeiro turno a então candidata do PSB teve um encolhimento de seu eleitorado, ficando apenas com 21% dos votos.
Por Correio Brziliense
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