A cena dos atletas do elenco do Flamengo em jantar com o técnico Renato Gaúcho e as respectivas famílias no Uruguai, sem a presença de membros da diretoria, após a perda do título da Libertadores, foi o sinal claro do fim do casamento entre clube e treinador. Nem o vice de futebol Marcos Braz nem o presidente Rodolfo Landim estiveram no encontro, que serviu como uma espécie de despedida.
A saída ficou desenhada desde o vestiário do estádio Centenário até o voo de volta ao Rio, momentos em que Renato se mostrou bastante abatido. Os atletas, por outro lado, aparentavam semblante sereno, com exceção de Andreas Pereira, que cometeu erro fatal na partida e foi consolado pelos companheiros.
O clube dará início a um processo de reformulação que promete ir além da troca de comando. Com vínculo até o fim de dezembro, Renato Gaúcho não renovará, e deve ser demitido antes do treino desta segunda-feira. Nesta terça, contra o Ceará, pelo Brasileiro, a equipe seria comandada por Maurício Souza, auxiliar e ex-treinador da base.
O único dirigente a falar após o vice-campeonato foi o vice de futebol Marcos Braz, que também está sob pressão na diretoria. Ele será o responsável por conversar com Renato sobre sua saída para que haja um comum acordo. O técnico também sabe e entende que o ciclo se encerrou após pouco mais de três meses, muitas goleadas e outras tantas decepções.
Falas e comportamento do técnico reforçaram a ideia do adeus, que já vinha amadurecendo desde as ameaças à sua filha, Carol Portaluppi, nas redes sociais. Incomodado com a perseguição diante de pouco tempo para conseguir efetivamente trabalhar, Renato voltou a deixar o cargo à disposição no Uruguai. A diretoria do Flamengo, que já convivia com cobranças pela troca de comando mesmo em caso de título, desta vez vai interromper o trabalho.
— Com calma e tranquilidade vamos começar a programar. Temos uma programação a ser feita, e na segunda-feira a gente começa a decidir alguns pontos que a gente entenda que possa fazer de correção para que se acabe a temporada. O que posso dizer é que o Renato tem contrato com o Flamengo até 31 de dezembro. Com calma vamos tomar as decisões possíveis — afirmou Braz.
Na prática, Renato se mostrou abalado na entrevista coletiva, no hotel e no voo para o Rio. Em nenhum momento teve respaldo. E parecia já saber disso.
– Se hoje o Flamengo tivesse ganho, as pessoas teriam me perguntado se eu ia renovar o contrato para o ano que vem. Eu já estou vacinado quanto a isso no Brasil. Amanhã todo mundo vai criticar. No Brasil só é bom quem ganha — disse o técnico na entrevista coletiva.
Na verdade, antes mesmo do título Renato já causava incômodo no Flamengo pelas postura em alguns jogos e entrevistas. O fato de não comemorar os gols sobre o Grêmio irritou jogadores e dirigentes. As falas repetivas sem trazer soluções em campo também. Havia o consenso de que era difícil disputar os títulos de três competições, mas a frase de Renato de que “quem muito quer, nada tem” não foi bem digerida.
Faltando quatro jogos para o fim do torneio, o time está em segundo lugar, com 11 pontos a menos que o líder Atlético-MG.
Ajustes profundos
Com a temporada praticamente encerrada, ajustes mais aprofundados prometem ser iniciados pela diretoria. O departamento médico é o mais cotado para mexidas e trocas de profissionais. Mas o futebol como um todo está em avaliação.
É sabido que há desgaste de Marcos Braz com outros vice-presidentes, mas Landim o mantém na linha de frente, também por não haver quadro melhor. Ao seu lado, Bruno Spindel desempenha função estratégica de negócios, mas não gere o vestiário. Profissionais indicados por Braz e jogadores correm risco de demissão.
A reformulação ainda pode respingar no chefe do departamento médico, Márcio Tannure e em alguns atletas do elenco atual. O zagueiro Bruno Viana, por exemplo, tem empréstimo encerrado e deve voltar a Portugal.
Por outro lado, há o entendimento de que houve muitas conquistas em três anos de gestão. Com a eleição presidencial no próximo sábado, Landim e seus pares manterão o discurso de que o Flamengo precisa chegar sempre às decisões, mesmo que não ganhe todos os anos. Com receitas acima da expectativa em meio à pandemia em 2021, a ideia é manter o elenco já encorpado e qualificar ainda mais a comissão técnica, queixa do próprio Renato Gaúcho e de outros treinadores.
— Não foi o resultado que a gente queria, que a gente esperava... Mas, é vida que segue e temos de nos recompor, fazer os ajustes que tem de fazer com calma. Faltam pouquíssimos jogos para o final do Campeonato Brasileiro, jogos importantes, com pontos importantes para que se possoa disputar e que (o Flamengo) acabe com dignidade o Campeonato Brasileiro. Então, o que a gente tem de fazer, é mostrar a grandeza do Flamengo — ressaltou Braz.
As informações são do jornal O Globo
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