No entanto, atende atualmente sete cidades.Nesta semana, o problema do abastecimento é tema da série de reportagens da TV Globo chamada "Água". Reportagens são veiculadas entre a terça-feira (9) e a quinta-feira (11) no Bom Dia Pernambuco, NE1 e NE2.
A Adutora do Agreste foi uma obra que teve um investimento de R$ 3,2 bilhões. O eixo leste da transposição carrega a água do Rio São Francisco do município de Floresta, no Sertão de Pernambuco, até a cidade de Monteiro, na Paraíba.
São 217 quilômetros de canal construídos pelo Governo Federal. O ramal do agreste, outra obra federal, é um canal que vai levar a água do eixo leste da transposição até a barragem do Ipojuca, em Arcoverde, no Sertão do estado. Ficou pronto no mês passado e percorre 70 quilômetros.
A Adutora do Agreste, que é a obra de responsabilidade do governo do estado, executada pela Compesa, vai pegar a água da barragem, tratar e abastecer 68 municípios do agreste que sofrem com a falta d'água. Um conjunto de tubulações que vai percorrer 1.500 quilômetros (veja detalhes mais abaixo).
Às margens da BR-232, no município de Belo Jardim, no Agreste, fica a Vila Gogoia. São mais de 30 casas construídas em uma paisagem rural. A Adutora do Agreste passa por debaixo da terra, bem na frente das casas da comunidade.
A Adutora do Agreste foi uma obra que teve um investimento de R$ 3,2 bilhões. O eixo leste da transposição carrega a água do Rio São Francisco do município de Floresta, no Sertão de Pernambuco, até a cidade de Monteiro, na Paraíba.
São 217 quilômetros de canal construídos pelo Governo Federal. O ramal do agreste, outra obra federal, é um canal que vai levar a água do eixo leste da transposição até a barragem do Ipojuca, em Arcoverde, no Sertão do estado. Ficou pronto no mês passado e percorre 70 quilômetros.
A Adutora do Agreste, que é a obra de responsabilidade do governo do estado, executada pela Compesa, vai pegar a água da barragem, tratar e abastecer 68 municípios do agreste que sofrem com a falta d'água. Um conjunto de tubulações que vai percorrer 1.500 quilômetros (veja detalhes mais abaixo).
Às margens da BR-232, no município de Belo Jardim, no Agreste, fica a Vila Gogoia. São mais de 30 casas construídas em uma paisagem rural. A Adutora do Agreste passa por debaixo da terra, bem na frente das casas da comunidade.
Na única parte da obra que é possível ver, já corre água pela tubulação, mas não chega para ninguém que vive por lá. “É um metro e pouco da porta da casa e água a gente não tem”, afirmou a dona de casa Quitéria Guilhermina, de 66 anos.
A alternativa encontrada pela Compesa foi instalar uma caixa d'água na frente da comunidade. E, como o abastecimento é irregular, os moradores colocam baldes e reservatórios ao redor da caixa d'água para garantir um lugar.
“Não dá para nada. Já vem gente de fora para pegar. E, quando é com uma hora e meia que botam o pipa [caminhão], pode olhar que não tem mais água. Todo mundo vem de uma vez só. Todo mundo quer a água e não dá para nada. Quando chega uns oito dias todo mundo está sem água de novo. E saber que a água passa aqui e fazerem um negócio desse”, disse Quitéria.
Sem água nas torneiras, a dona de casa Simone Santos Silva carrega a bombona vazia sem saber quando o carro-pipa vai chegar para encher a caixa d'água comunitária.
“É meio triste. A gente precisa de água, tem água pertinho e não usa, né? E sabendo que é do Rio São Francisco, que é o mais famoso. É desconfortável para a gente da comunidade”, lamentou.
Etapas
A obra da Adutora do Agreste se divide em duas etapas. A primeira, no valor de R$ 1,4 bilhão, promete atender 23 cidades. Deveria ter ficado pronta em 2015, mas está atrasada.
A Compesa alega falta de repasse do governo federal, com diminuição dos repasses e atrasos dos recursos que causaram problemas, como abandono de empresas que foram contratadas. A segunda etapa, que vai levar água para 45 municípios, ainda não começou.
A Companhia também anunciou outras obras ligadas à Adutora do Agreste: Adutora do Moxotó; Adutora de Custódia; Sistema de Poços de Tupanatinga; Adutora Alto do Capibaribe e Adutora de Serro Azul. A única pronta é a Adutora do Moxotó.
Um dos canteiros de obras da Adutora do Agreste funciona em uma chácara em Belo Jardim. São centenas de tubulações guardadas no local e placas de concreto que ainda não foram utilizadas na obra.
Um dos canteiros de obras da Adutora do Agreste funciona em uma chácara em Belo Jardim — Foto: Reprodução/TV GloboA obra da Adutora do Agreste se divide em duas etapas. A primeira, no valor de R$ 1,4 bilhão, promete atender 23 cidades. Deveria ter ficado pronta em 2015, mas está atrasada.
A Compesa alega falta de repasse do governo federal, com diminuição dos repasses e atrasos dos recursos que causaram problemas, como abandono de empresas que foram contratadas. A segunda etapa, que vai levar água para 45 municípios, ainda não começou.
A Companhia também anunciou outras obras ligadas à Adutora do Agreste: Adutora do Moxotó; Adutora de Custódia; Sistema de Poços de Tupanatinga; Adutora Alto do Capibaribe e Adutora de Serro Azul. A única pronta é a Adutora do Moxotó.
Um dos canteiros de obras da Adutora do Agreste funciona em uma chácara em Belo Jardim. São centenas de tubulações guardadas no local e placas de concreto que ainda não foram utilizadas na obra.
Durante uma semana, a TV Globo seguiu a Rota da Adutora, às margens da BR-232, e encontrou dois trechos em obras. Um deles em São Caetano, no Agreste, com uma escavadeira e alguns trabalhadores. O outro, com mais gente trabalhando, um trator e duas escavadeiras, na cidade vizinha de Caruaru.
A obra é na frente da casa da agricultora Izabel Severina da Silva, no Sítio Cipó. Desde que o serviço começou, há um mês, a água parou de chegar nas torneiras.
“Faz 30 dias que a gente não tem um pingo de água. A situação é essa. A gente já não era beneficiada aqui por nada. Não vamos dizer que só é a obra, porque a gente já é prejudicada há muito tempo. Faz 19 anos que eu moro aqui e é zero. E agora, depois dessa, acabou a água que a gente tinha para plantar, cultivar”, criticou.
A obra é na frente da casa da agricultora Izabel Severina da Silva, no Sítio Cipó. Desde que o serviço começou, há um mês, a água parou de chegar nas torneiras.
“Faz 30 dias que a gente não tem um pingo de água. A situação é essa. A gente já não era beneficiada aqui por nada. Não vamos dizer que só é a obra, porque a gente já é prejudicada há muito tempo. Faz 19 anos que eu moro aqui e é zero. E agora, depois dessa, acabou a água que a gente tinha para plantar, cultivar”, criticou.
Ela contou que, sem água, as plantações morreram. Com a obra tão perto abrindo caminho no solo para a adutora passar, a cisterna onde Izabel guardava água rachou.
“Antes dessa construção, a gente enchia ela e ela passava vários tempos, dois, três, até seis meses com água. E depois desse serviço aí, quando começou, ela tinha dois metros de água, quando começaram dando uns tiros ela secou e não adianta botar mais água nela”.
O jeito, segundo a agricultora, é ir a pé buscar água em uma barragem que fica perto de casa. São cinco minutos de caminhada por ruas sem calçamento. Esforço diário por uma água que não tem tratamento.
A consequência foi que ela e outros parentes tiveram esquistossomose, doença transmitida através da água contaminada. “Eu já tive ela [esquistossomose], meus dois filhos já tiveram ela e agora meu neto acusou ela também. E não é de outro canto. Só pode ser daqui”, observou Izabel.
A dona de casa Carmem Lúcia da Conceição também usa a água sem tratamento. “Essa água é poluída. E assim mesmo aqui eu lavo roupa, lavo prato, tomo banho, porque onde eu moro é meio difícil de a água chegar. Lá não tem água encanada”, disse.
Quando a reportagem da TV Globo estava no local, trabalhadores da obra da Adutora do Agreste também estiveram no açude para pegar água.
De acordo com a Compesa, a Adutora do Agreste leva água a aos municípios de Arcoverde, Pesqueira, Belo Jardim, Sanharó, Tacaimbó, São Bento do Una e Alagoinha. Isso representa 10% das cidades que ele deveria abastecer.
E, mesmo nessas cidades, a água não chegou para todos. Tacaimbó, município do Agreste com 13 mil moradores, é um exemplo
“Antes dessa construção, a gente enchia ela e ela passava vários tempos, dois, três, até seis meses com água. E depois desse serviço aí, quando começou, ela tinha dois metros de água, quando começaram dando uns tiros ela secou e não adianta botar mais água nela”.
O jeito, segundo a agricultora, é ir a pé buscar água em uma barragem que fica perto de casa. São cinco minutos de caminhada por ruas sem calçamento. Esforço diário por uma água que não tem tratamento.
A consequência foi que ela e outros parentes tiveram esquistossomose, doença transmitida através da água contaminada. “Eu já tive ela [esquistossomose], meus dois filhos já tiveram ela e agora meu neto acusou ela também. E não é de outro canto. Só pode ser daqui”, observou Izabel.
A dona de casa Carmem Lúcia da Conceição também usa a água sem tratamento. “Essa água é poluída. E assim mesmo aqui eu lavo roupa, lavo prato, tomo banho, porque onde eu moro é meio difícil de a água chegar. Lá não tem água encanada”, disse.
Quando a reportagem da TV Globo estava no local, trabalhadores da obra da Adutora do Agreste também estiveram no açude para pegar água.
De acordo com a Compesa, a Adutora do Agreste leva água a aos municípios de Arcoverde, Pesqueira, Belo Jardim, Sanharó, Tacaimbó, São Bento do Una e Alagoinha. Isso representa 10% das cidades que ele deveria abastecer.
E, mesmo nessas cidades, a água não chegou para todos. Tacaimbó, município do Agreste com 13 mil moradores, é um exemplo
O bairro de Maria Luísa fica na área central do município. E parte das casas não tem água encanada. Por isso, a aposentada Maria José de Souza precisa comprar água. “Não chega [água da Compesa]. Porque nunca encanaram água”, disse.
O aposentado Laércio Bezerra espera o dia em que vai receber água nas torneiras. Ele fez toda a encanação da casa, mas a água só chega em carro-pipa.
“Eu às vezes estou com dinheiro para comprar, às vezes não estou. Ele já me conhece. Bota quatro mil litros, bota cinco mil litros [de água]. Quando receber eu te pago. Aí ele bota na minha cisterna. Ou então a vizinha lá de trás, comprei 25 metros de mangueira, aí quando chega água ela avisa, mas agora eu quero um negócio digno. Passar, encanar minha água e pagar a minha conta”.
Laércio Bezerra espera o dia em que vai receber água nas torneiras — Foto: Reprodução/TV Globo
Na Rua Nova, que também não tem água encanada, só três casas estão ocupadas. O restante dos moradores não aguentou e foi embora.
“Chega água até ali, mas aqui para baixo não chega, aí ficam as casas todas assim, desocupadas. Como é que vai morar sem água?”, questionou a dona de casa Maria Aparecida Ferreira.
Na Zona Rural de Tacaimbó, a seca matou a plantação. São tempos difíceis no Sítio Papa Terra. Com a cisterna quase seca e o tonel também com pouca água, a agricultora Cícera Maria da Silva também espera que a água da Adutora do Agreste chegue logo.
“Por enquanto não chegou, mas, se Deus quiser, pode chegar. Tenho muita esperança”, revelou.
No Sítio Canela da Ema, em Pesqueira, no Sertão, a placa amassada indica o caminho até o que deveria ser uma estação de tratamento de água. A obra, essencial para o pleno funcionamento da Adutora do Agreste, está parada há três anos.
É que a água do eixo leste da transposição, que segue pelo Ramal do Agreste e vai até a barragem de Ipojuca, deveria ser tratada exatamente no local, que hoje é apenas uma construção inacabada no meio do mato.
Respostas
O diretor técnico e de engenharia da Compesa, Flávio Figueiredo, explicou que as obras da Adutora do Agreste começaram em um bom ritmo, mas, com a diminuição de repasses do governo federal, foi necessário relicitar parte dos lotes.
Procurado pela reportagem, o Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) afirmou que a Adutora do Agreste recebeu R$ 248,2 milhões do governo federal entre os anos de 2019 e 2020. Em 2021, o ministério informou que repassou R$ 47 milhões ao estado, mas o valor não foi utilizado pelo governo nas obras.
Ainda segundo a pasta, desde o início do projeto, o governo federal repassou 90% dos recursos que estavam previstos no cronograma. O governo do estado, por sua vez, teria contribuído com 55,6% do valor previsto, segundo o MDR.
A pasta informou, ainda, que o governo estadual decidiu priorizar outros trechos da obra em vez de seguir com o que estava previsto no projeto inicial. De acordo com o MDR, caso o governo estadual tivesse seguido o projeto, a água da integração do Rio São Francisco já estaria chegando aos 23 municípios que seriam contemplados nessa primeira etapa das obras.
Por fim, a pasta informou que segue conversando com o Ministério da Economia para que novos repasses possam ser feitos para que a obra seja concluída.
Em resposta ao que foi declarado pelo MDR, a Compesa disse que, no ano de 2019, foram quase R$ 573 milhões destinados para o ramal do Agreste e pouco mais de R$ 117 milhões para a Adutora do Agreste.
Em 2020, a empresa informou que foram mais R$ 541milhões para o rama e R$ 113 milhões apenas para a Adutora. Já em 2021, a Compesa informou que o ministério repassou quase R$ 211 milhões para o ramal do Agreste, mas nenhum valor destinado exclusivamente para as obras da Adutora.
A companhia destacou que "o ramal do Agreste não tem utilidade se a Adutora do Agreste não ficar pronta". Além disso, a empresa afirmou que "nos últimos três anos o governo federal repassou todos os recursos necessários ao bom andamento do ramal do Agreste, mantendo a Adutora sempre com recursos abaixo do necessário".
Por fim, a empresa ressaltou que diferente do que foi dito pelo ministério, o governo do estado destinou 90% dos recursos previstos para as obras. No entanto, os valores disponíveis atualmente são suficientes apenas para cobrir as despesas previstas nos próximos três meses.
Caso não haja novo repasse de verbas pelo governo federal até o fim deste ano, a Compesa informou que os serviços podem ser paralisados mais uma vez.
Por Wagner Sarmento, TV Globo
“Chega água até ali, mas aqui para baixo não chega, aí ficam as casas todas assim, desocupadas. Como é que vai morar sem água?”, questionou a dona de casa Maria Aparecida Ferreira.
Na Zona Rural de Tacaimbó, a seca matou a plantação. São tempos difíceis no Sítio Papa Terra. Com a cisterna quase seca e o tonel também com pouca água, a agricultora Cícera Maria da Silva também espera que a água da Adutora do Agreste chegue logo.
“Por enquanto não chegou, mas, se Deus quiser, pode chegar. Tenho muita esperança”, revelou.
No Sítio Canela da Ema, em Pesqueira, no Sertão, a placa amassada indica o caminho até o que deveria ser uma estação de tratamento de água. A obra, essencial para o pleno funcionamento da Adutora do Agreste, está parada há três anos.
É que a água do eixo leste da transposição, que segue pelo Ramal do Agreste e vai até a barragem de Ipojuca, deveria ser tratada exatamente no local, que hoje é apenas uma construção inacabada no meio do mato.
Respostas
O diretor técnico e de engenharia da Compesa, Flávio Figueiredo, explicou que as obras da Adutora do Agreste começaram em um bom ritmo, mas, com a diminuição de repasses do governo federal, foi necessário relicitar parte dos lotes.
Procurado pela reportagem, o Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) afirmou que a Adutora do Agreste recebeu R$ 248,2 milhões do governo federal entre os anos de 2019 e 2020. Em 2021, o ministério informou que repassou R$ 47 milhões ao estado, mas o valor não foi utilizado pelo governo nas obras.
Ainda segundo a pasta, desde o início do projeto, o governo federal repassou 90% dos recursos que estavam previstos no cronograma. O governo do estado, por sua vez, teria contribuído com 55,6% do valor previsto, segundo o MDR.
A pasta informou, ainda, que o governo estadual decidiu priorizar outros trechos da obra em vez de seguir com o que estava previsto no projeto inicial. De acordo com o MDR, caso o governo estadual tivesse seguido o projeto, a água da integração do Rio São Francisco já estaria chegando aos 23 municípios que seriam contemplados nessa primeira etapa das obras.
Por fim, a pasta informou que segue conversando com o Ministério da Economia para que novos repasses possam ser feitos para que a obra seja concluída.
Em resposta ao que foi declarado pelo MDR, a Compesa disse que, no ano de 2019, foram quase R$ 573 milhões destinados para o ramal do Agreste e pouco mais de R$ 117 milhões para a Adutora do Agreste.
Em 2020, a empresa informou que foram mais R$ 541milhões para o rama e R$ 113 milhões apenas para a Adutora. Já em 2021, a Compesa informou que o ministério repassou quase R$ 211 milhões para o ramal do Agreste, mas nenhum valor destinado exclusivamente para as obras da Adutora.
A companhia destacou que "o ramal do Agreste não tem utilidade se a Adutora do Agreste não ficar pronta". Além disso, a empresa afirmou que "nos últimos três anos o governo federal repassou todos os recursos necessários ao bom andamento do ramal do Agreste, mantendo a Adutora sempre com recursos abaixo do necessário".
Por fim, a empresa ressaltou que diferente do que foi dito pelo ministério, o governo do estado destinou 90% dos recursos previstos para as obras. No entanto, os valores disponíveis atualmente são suficientes apenas para cobrir as despesas previstas nos próximos três meses.
Caso não haja novo repasse de verbas pelo governo federal até o fim deste ano, a Compesa informou que os serviços podem ser paralisados mais uma vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.