Para conseguir garantir um futuro, ter estabilidade financeira e construir uma carreira de sucesso, a educação é o principal caminho. Através dela, é possível realizar sonhos e transformar a realidade em que se vive. É o que mostram pernambucanos que não se renderam diante das dificuldades e verificaram que acreditar e investir na educação vale a pena.
Ao longo desta primeira semana de agosto, o G1 e a TV Globo mostraram, em reportagens, os desafios e o futuro da educação no contexto de pandemia.Recifense Marcone Ribeiro, de 25 anos, foi beneficiado por políticas públicas afirmativas — Foto: Reprodução/TV Globo
A realidade de Marcone começou a ser modificada quando, aos 16 anos, foi estudar inglês no Canadá, por meio do programa do governo estadual. Quando voltou, iniciou, em 2018, dentro da comunidade onde viveu, uma ferramenta social que visa capacitar jovens de periferias nos âmbitos social e profissional por meio de programas educacionais: o Coque Connecta.
"Eu nasço no Coque, cresço no Coque e consigo, aos 16 anos de idade, ir pra fora do país estudar inglês porque uma política pública me garantiu ter acesso à educação de qualidade. Isso, para mim, é sucesso. Voltar para o Brasil e conseguir ingressar, também por meio de política pública, em uma universidade, sem pagar um centavo, isso, pra mim, é sucesso", disse Marcone.
Em 2019, ele representou o Brasil na The Youth Assembly, uma conferência que incentiva a participação dos jovens no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Marcone disse que se tornou um sucesso para a família e para a comunidade onde viveu. "Foram essas políticas que me permitiram ser visto de outra maneira, ser enxergado pela minha família como referência e conseguir acessar outros espaços e poder fazer o diferencial nesses espaços", contou.
"Na minha opinião, a política é o meio mais estratégico, de fato, para a gente mudar a sociedade. É ali onde a gente vai discutir educação, saúde, oportunidade de emprego, acesso à cidade, mobilidade, segurança. É importante a gente acreditar na política e entender que é essa a ferramenta mais estratégica para que a gente consiga mudar o país", afirmou Marcone.
Eduarda Hemyly de Melo, de 18 anos, também é um exemplo que vem da escola pública. Aluna do 3º ano do ensino médio da Escola Luiz Delgado, no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, ela sonha com o sucesso e alimenta esse sonho se espelhando em alguém muito importante: a mãe.
“A minha mãe já fez curso de cabeleireira, de boleira, já trabalhou em posto de gasolina. Já fez diversas coisas e, hoje em dia, é guia de turismo. Ela sempre procura se enaltecer e, agora, vai começar um curso de enfermagem”, contou Eduarda, que carrega uma frase com a qual a mãe se refere aos estudos: “O que é mais pesado, a caneta ou a enxada?”.
“Quando completei 9 anos, ganhei uma enxada. Então, o agricultor que tem o filho, quando chega uma certa idade, dá uma ferramenta de trabalho pro neto. E eu ganhei uma enxada e sei o quão pesado ela é”, contou Elane.
A mãe de Eduarda afirmou que, assim como a filha, sempre sonhou em ter um futuro. “Eu queria um trabalho que eu não precisasse mais usar a enxada. Queria poder, um dia, usar uma caneta porque ela é mais leve. A educação é transformadora. A educação te tira da margem, te coloca no topo. A educação abre portas para você. Abre muros, abre horizontes”, declarou Elane.
Ana Luiza Borges, de 17 anos, criou um intensivo de redação e ajuda na educação de outros jovens — Foto: Reprodução/TV Globo
Além de trabalhar a concentração e a capacidade de raciocínio, o xadrez desenvolve uma das funções mais nobres: a empatia. E com a tetracampeã da modalidade nos Jogos Escolares de Pernambuco não seria diferente. Ana Luiza Borges, de 17 anos, estuda para entrar em medicina e, mesmo assim, reserva parte do tempo para ajudar na educação de outros jovens (veja vídeo acima).
Ela realiza, remotamente, todas as quartas-feiras, um intensivo de redação para alunos do 2º ano da escola onde estudou. Nascida em São Vicente Ferrer, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, Ana Luiza é oriunda do ensino público.
Em 2020, em meio à pandemia da Covid-19 e a salas de aulas vazias, ela concluiu os estudos na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Professora Benedita de Morais Guerra. Em janeiro deste ano, a jovem prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obteve 960 na redação. Então, decidiu passar para outras pessoas tudo que aprendeu.
"Algumas pessoas me questionaram o porquê de fazer isso, o porquê de ajudar outras pessoas. E eu percebi que, além da empatia, além de querer ajudar mesmo, percebi que não tive essa ajuda no meu ensino médio. Então, oferecer às pessoas, dar oportunidade de algo que não tive, além de gratificante, é poder ajudar na evolução delas", afirmou Ana.
Se colocar no lugar do outro e entender determinadas situações fizeram com que Ana Luiza decidisse criar o intensivo. "A ideia de criar o intensivão veio quando eu percebi que muitas pessoas não tinham condições de pagar cursinhos pré-vestibulares. Então, percebi que, se eu tenho mecanismos para ajudar, se eu tenho, de alguma forma, um tempinho para ajudar, a gente ajuda", contou.
Ao todo, 15 meninas aderiram ao intensivo e recebem a ajuda de Ana Luiza. "São aulas de monitorias, com correção das redações, erros de redação, erros que eu também errava. Isso é ajuda mútua. Mostro os erros deles e também corrijo, também relembro", disse.
Ana Luiza começou a perceber a evolução das pessoas que ajuda. "É muito bom ver que eles estão aproveitando o conteúdo que passo. Não sou professora, mas sinto que posso ajudar e me dedico para que possam absorver o máximo. Sempre corrigimos juntos e cada vez estão melhores”, contou.
No tabuleiro, Ana Luiza também garantiu medalha de bronze no Nacional dos Jogos da Juventude, na categoria 15 a 17 anos. Já no Enem 2020, Ana Luiza conseguiu entrar em biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e enfermagem na UPE, mas decidiu continuar tentando entrar em medicina.
“Quero conquistar meu sonho, que é cursar medicina, então optei por esperar e me preparar mais para o exame 2021. Tudo que aprendi sobre redação pretendo passar para minhas colegas. Sinto que, com isso, posso dar uma maior oportunidade de preparação para elas. Sonhar junto é ainda melhor”, diz.
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