domingo, junho 06, 2021

A Codevasf de hoje. Por Rodrigo Novaes


Foto: Divulgação

Por Rodrigo Novaes, em artigo enviado ao Blog

O embrião que fez nascer a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – Codevasf foi a Emenda Constitucional nº 179, que adicionou o artigo 29 aos Atos de Disposições Constitucionais Transitórias da Carta de 1946.

A destinação de 1% das “rendas tributárias” da União para o Vale do São Francisco fez surgir a Comissão do Vale do São Francisco, que depois se transformou em Sulvale, hoje, Codevasf, inaugurando um novo momento no desenvolvimento da região.

Há mais 70 anos, a preocupação do autor da emenda, Manoel Novaes, deputado federal pelo estado da Bahia, era de fazer “cumprir uma missão e resgatar uma dívida com a região.” Ele afirmava que os problemas do Vale do São Francisco não poderiam ficar “à mercê de flutuações nem de errôneas descontinuidades”. De Cabral até hoje, a história continua atual.

Ao longo desse tempo, o Vale do São Francisco, depois também do Parnaíba, recebeu investimentos e houve avanços sociais e econômicos importantes, que mudaram a realidade de muitos municípios da região: escolas, estradas, pontes, usinas elétricas, barragens, sistemas de abastecimento, eletrificações, saneamento, hospitais, projetos de irrigação.

Como se temia lá atrás, houve desvinculação dos investimentos e parlamentares passaram a usar sua estrutura para favorecer aleatoriamente municípios de aliados. Não há orçamento. Tem-se hoje uma empresa que serve a correligionários como instrumento político partidário. Pior! No ano passado, para facilitar a execução de emendas parlamentares federais, foi alterado o papel da Codevasf, ampliando sua atuação, e fragilizando sua missão.

A Codevasf virou qualquer coisa. Um CNPJ, sem o espírito que sempre lhe emprestou norte, afastando-lhe de sua vocação de servir ao Vale do São Francisco, região de muitas riquezas e de desafios ainda enormes.

Tem atuação em Estados como o Amapá, Pará, Goiás, Distrito Federal! E fizeram assim sob o argumento – sabidamente falso – de que isso era parte de processo de “fortalecimento da companhia”. Aumentaram e fragilizaram.
Falta já há algum tempo, planejamento estratégico, capacidade de investimento, pulverização de ações para os municípios do São Francisco, valorização de seus competentes quadros técnicos.

Não são todos os políticos que se prestam a “ficar de joelhos para qualquer santo”, a se submeter a desgovernos em troca de recursos (quase sempre o preço é a própria alma). A região não precisa de um político com prestígio. Quem precisa de prestígio é a região!

Os investimentos precisam acontecer em todo o Vale de maneira equilibrada, pulverizada, para que possamos avançar de verdade. Não é, definitivamente, desfigurando a Codevasf que vamos conseguir enfrentar os desafios.
Manoel Novaes, homem que imaginou o Rio São Francisco como fonte de desenvolvimento em uma região esquecida, era meu tio. Irmão do meu pai. Saiu sozinho de Floresta, sertão de Pernambuco, e foi desbravar o destino na Bahia, onde estudou, fez-se médico, e tornou-se o deputado federal com mais mandatos parlamentares no mundo. Foram 12. Em três deles, foi eleita, também para a Câmara Federal, sua esposa Necy- ao mesmo tempo.

Ele dá nome ao edifício em Brasília da Codevasf. Hoje, depois de tantas obras e conquistas, sua história de luta, disposição e capacidade estão representadas em um rabisco numa placa de bronze. Por lá não há mais resquício de seu espírito de altivez. Não há mais essência.

Ele não está mais entre nós, e por toda a vida mereceu o respeito do povo sertanejo. Que seu sentimento de amor ao “Homem dos Sertões, o mais audaz, patriota e intrépido deste País” sirva de inspiração para que as correções de rumo sejam feitas e que a Codevasf volte a ser patrimônio justo do povo do Rio São Francisco.

Por Rodrigo Novaes, em artigo enviado ao Blog

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