Cada vacina distribuída pelo governo federal teve custo unitário de R$ 15,12, conforme dados do Ministério da Saúde. O dinheiro seria capaz, então, de financiar os quase 6 milhões de imunizantes. O total de doses é suficiente para vacinar completamente toda a população adulta do Distrito Federal.
O dinheiro usado pelo Executivo na compra dos remédios usados no chamado “kit Covid” (azitromicina, ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina e oseltamivir) também permitira a abertura de, pelo menos, 3,7 mil leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) para hospitalização dos infectados.
Isso porque, de acordo com dados do Ministério da Saúde, os custos com a contratação de um grupo de 10 leitos de UTI giram entre R$ 239 mil e R$ 299 mil. Os R$ 89 milhões, portanto, financiariam entre 298 e 372 grupos – de 2.980 leitos no maior valor a 3.720, no menor.
Kit intubação e máscaras
Mais do que a falta de leitos para pacientes, as redes pública e privada de saúde enfrentam o risco de desabastecimento geral de remédios utilizados no “kit intubação”. Segundo levantamento realizado pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base no Painel Covid, um terceiro destino possível para este montante seria a compra de remédios usados para intubar pacientes em situação grave por conta do coronavírus.
Um dos integrantes deste kit é o propofol. No último pregão registrado no Painel Covid, o preço por ampola da substância usada em sedação de pacientes para intubação foi de R$ 31. Os R$ 89 milhões comprariam quase 2,9 milhões de unidades do sedativo.
Outra finalidade para o dinheiro poderia ser a aquisição de máscaras de proteção do tipo N95, cujo uso é recomendado por especialistas. A reportagem encontrou dois pregões para aquisição do produto, um com o preço unitário de R$ 3,59 e outro com valor por unidade de R$ 8,65. Assim, entre 10,3 e 24,8 milhões de máscaras poderiam ter sido adquiridas com os recursos gastos em remédios sem eficácia contra a Covid-19.
Gastos injustificáveis
Para Francisco Antônio Coelho Júnior, professor do curso de pós-graduação em administração pública da Universidade de Brasília (UnB), o governo não cumpriu com a “hierarquização dos gastos para o atendimento de demandas mais emergenciais”.
“Não sei as bases em que essa decisão [de investir R$ 89 milhões em remédios sem eficácia comprovada] foi tomada. Não diria que houve uma falha, mas a prioridade foi assentada em outras premissas que não a resolução de problemas imediatos e emergenciais”.
O especialista em administração pública avalia que a decisão do governo federal não considera a necessidade prioritária da população.
“Se você tem toda uma demanda emergencial para resolver e investe em outra finalidade, como nesses kits de tratamento precoce, as bases para essa tomada de decisão não consideraram a priorização da necessidade. Há uma hierarquia de necessidades para o atendimento do bem comum da população que não foi cumprida nesse caso”, disse.
“Viés político”
Na última quarta-feira (31/3), a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a recomendar que pacientes não utilizem e profissionais de saúde não receitem o uso de ivermectina para tratamento da doença, com exceção do uso para estudos clínicos.
Lucas Marchesini
METRÓPOLES
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.