Depois de um mês e meio da inauguração do reservatório de Jati, na região do Cariri cearense, é a hora de começar os testes do envio das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) para o açude Castanhão, responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Amanhã (20), o ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho, deve vir ao Ceará para abrir as comportas de Jati e liberar a passagem da água para o trecho emergencial do Cinturão das Águas (CAC), que irá conduzir o recurso hídrico até o maior reservatório do Estado. Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o ministro afirmou que o investimento total do Governo Bolsonaro nas obras do Pisf deve chegar a R$ 5 bilhões.
Quando abrir as comportas de Jati para o início dos testes, Rogério Marinho irá cumprir o prazo estabelecido pelo Executivo Federal para começar o envio das águas da Transposição para o Castanhão, após tantos atrasos nas obras que perpassaram diferentes governos e duraram 12 anos para chegar ao nível atual de conclusão (95% ao todo, no Eixo Norte). O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve no Ceará no dia 26 de junho para acompanhar a chegada das águas do São Francisco ao Estado. O governador Camilo Santana (PT) não compareceu ao evento.
"Para vocês terem uma ideia, quase R$ 3 bilhões já foram investidos desde 2019. Nós vamos fechar este ano com R$ 3,5 bilhões e temos a necessidade de um aporte de pelo menos mais um R$ 1,5 bilhão para concluirmos a Transposição do Rio São Francisco, o que vai dar um investimento de R$ 5 bilhões", ressaltou o ministro.
Sobre os 5% restantes para conclusão da obra, Marinho explicou que o percentual é referente ao término do trecho do Pisf que vai levar recursos hídricos ao Rio Grande do Norte, último estado a receber as águas do Velho Chico, e obras complementares em reservatórios, aquedutos, irrigação de perímetro, entre outras.
Abertura de comportas
"O que falta, em torno de 5% (das obras), apesar de em termos absolutos ser muito pouco, é preciso um investimento vultoso, porque são obras que precisam ser feitas para transpor obstáculos geográficos relevantes. Por isso, dependem de um maior recurso e de uma velocidade menor para conclusão total das obras de Transposição", explicou. De acordo com ele, o trecho do Eixo Norte do Pisf que beneficiará o Estado do Rio Grande do Norte deve ser entregue até o ano que vem.
No entanto, neste primeiro momento, serão abertos apenas dez centímetros das comportas do reservatório de Jati para dar vazão à água, conforme informou a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará - responsável pela obras do Cinturão das Águas no Estado. Por se tratar de período de teste, o volume da água será o menor possível para assegurar que não há falhas ao longo do trecho emergencial, como vazamentos, e caso haja, que possam ser corrigidas rapidamente e sem desperdício de água ou comprometimento do canal do Cinturão, afirmou Rogério Marinho.
"A nossa ideia é estar no Ceará novamente no dia 20 (amanhã), porque os 28 milhões de metros cúbicos de água já estarão represados (em Jati). O canal (do Cinturão) vai ser testado, para ver se não há nenhum vazamento, nenhum problema que precise ser corrigido".
Ainda de acordo com ele, os testes devem ser concluídos em até 15 dias. Após o período, a água deve ser liberada em um maior volume para poder encher o canal do Cinturão e seguir o curso de forma gravitacional para o Castanhão. "A nossa previsão é que possam ser liberados 12 metros cúbicos por segundo", detalhou o ministro.
Sobre esse ponto, o titular da Secretaria de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, projeta que se o Ministério autorizar a liberação dos 12 metros cúbicos por segundo, o canal inteiro do Cinturão das Águas deve ser abastecido em aproximadamente 15 dias. "A partir de então, a água seguirá para o Castanhão, o que terá duração, em média, de dois meses", esclareceu. "Vale ressaltar que é um teste. Uma liberação pequena, para encher os sifões", complementa o secretário.
Percurso
Ao saírem de Jati, os recursos hídricos passarão pelos municípios de Porteiras, Brejo Santo, Abaiara até chegarem a Missão Velha, por meio do canal do CAC, onde serão direcionados para desaguar no Riacho Seco através de aquedutos. A partir daí, poderão seguir o fluxo dos Rio Batateira e do Rio Salgado, principal afluente do Rio Jaguaribe e o maior responsável pelo abastecimento do Açude Castanhão.
CAC
Ao todo, o Cinturão das Águas do Ceará deverá ter 149 quilômetros de extensão, os quais são divididos em cinco lotes. Desse total, 53 quilômetros da obra já estão prontos, correspondentes aos lotes 1, 2 e 5, responsáveis pelo trecho emergencial.
Os lotes 3 e 4, que abrangem os 96 quilômetros restantes do CAC, estão com 26,46% e 4,26%, respectivamente, das obras concluídas. Esses lotes são responsáveis por permitir o curso da água pelo canal do CAC de Missão Velha até Nova Olinda, onde os recursos hídricos irão abastecer a região do Cariri.
Segundo Francisco Teixeira, esse trecho deve ser concluído no próximo ano, caso não haja mais atrasos nos repasses do Governo Federal - já que a obra é custeada com 81% de recursos federais e 19% do Estado. Já sobre a água que virá para o Açude Castanhão, o secretário de Recursos Hídricos salienta que ela terá múltiplos utilizações: desde o abastecimento humano e público até industrial.