sábado, maio 09, 2020
Ex-deputado federal e médico morre em Pernambuco vítima de complicações causadas pela covid-19
O ex-deputado federal Vicente André Gomes morreu, na noite de ontem (8), no Recife, aos 68 anos. De acordo com a família, ele estava internado desde o mês passado para se tratar da Covid-19 e morreu em decorrência de complicações provocadas pela doença. (veja vídeo acima).
Vicente André Gomes era médico e estava internado no Hospital Memorial São José, no Recife, desde o dia 18 de abril. Ele era filho de uma tradicional família de políticos do bairro de Casa Amarela, na Zona Norte.
Foi vereador do Recife por seis vezes. Entre um mandato e outro, se elegeu, em 1994, deputado federal pelo PDT e se mudou pra Brasília. De volta ao Recife, foi novamente vereador.
Em 2016, foi eleito presidente da Câmara Municipal do Recife. Atualmente, estava no PSB e se preparava para disputar mais um mandato de vereador.
Neste sábado (9), a Secretaria Estadual de Saúde informou que não tinha sido notificada da morte de Vicente André Gomes e, por isso, não poderia afirmar que o ex-vereador morreu de Covid-19.
Por meio de nota, o hospital onde ele estava internado disse que só as autoridades poderiam confirmar a causa da morte.
Notas
O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), disse que a morte do ex-presidente da Câmara Municipal do Recife é uma perda para a política pernambucana.
Por G1
Boletim deste sábado [09/05]: Com mais 45 mortes e 883 casos, Pernambuco chega a 972 óbitos e 12.470 pacientes com Covid-19
Pernambuco confirmou mais 45 mortes e 883 casos de pacientes com Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, neste sábado (9). Com isso, o estado chegou a 972 óbitos e 12.470 confirmações da doença.
De acordo com o novo boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, entre os casos confirmados neste sábado 250 se enquadram como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e 633 são casos leves.
Desde o início da pandemia, Pernambuco totaliza 6.849 casos graves e 5.621 leves. Os detalhes epidemiológicos serão repassados ainda neste sábado pela Secretaria Estadual de Saúde.
Por G1 PE
Imagem: JC
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Carreata pró-Bolsonaro critica Maia e Supremo
Manifestação pró-Bolsonaro, neste sábado (9), em Brasília — Foto: Pedro Borges/TV Globo
Manifestantes fazem carreata em apoio ao presidente Bolsonaro, em Brasília — Foto: TV Globo/Reprodução
Manifestantes carregam caixão, que diziam 'levar Rodrigo Maia' — Foto: Pedro Borges/TV Globo
Manifestação pró-Bolsonaro, neste sábado (9), em Brasília — Foto: Pedro Borges/TV Globo
Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem ato em apoio ao presidente, em Brasília — Foto: Pedro Borges/TV Globo
Manifestantes fizeram uma nova carreata em Brasília, na manhã deste sábado (9), em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e contra os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O ato começou por volta das 11h e ocupou quatro faixas do Eixo Monumental. As vias foram liberadas às 14h40.
Com bandeiras do Brasil e vestido nas cores verde e amarelo, o grupo se concentrou no Museu da República e seguiu até o gramado do Congresso Nacional. Um carro de som comandava o ato.
Ainda na concentração, manifestantes carregavam um caixão, que diziam "levar Rodrigo Maia". A referência é ao meme que circula nas redes sociais e mostra um velório em Gana, na África.
No trio que acompanhou o percurso, os organizadores também colocaram um boneco inflável com o rosto do parlamentar, que segurava um símbolo de dinheiro, vestia uma camisa com o escudo do Vasco e a logomarca da empresa Odebrecht. O G1 entrou em contato com a assessoria do deputado e aguardava um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
A Polícia Militar acompanhou a carreata e, segundo a corporação, não houve registro de incidentes relacionados à manifestação. No local, militares orientaram o grupo a evitar aglomerações.
Apesar da concentração de pessoa, em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o ato não precisou de licença do GDF para ocorrer (leia íntegra abaixo).
Algumas faixas levadas pelos manifestantes continham dizeres com ataques ao Supremo Tribunal Federal e pediam a "independência dos três poderes".
O grupo também estendeu uma faixa sobre "vencer a corrupção", que foi deixada no gramado em frente ao Congresso Nacional. Havia dizeres como "ditaDoria" e "o povo brasileiro apoia Bolsonaro".
Em seguida, os manifestantes atiraram bolas em uma faixa que continha fotos de congressistas, ministros do Supremo e adversários políticos do presidente.
Leia íntegra da nota da SSP:
"A previsão de encerramento do ato é às 14h. A movimentação na Esplanada dos Ministérios será acompanhada pela Polícia Militar do DF (PMDF) e também contará com fiscalização do DF Legal, que atuará em casos de ambulantes, faixas fixadas no chão e demais atividades cabíveis à pasta.
Cabe esclarecer que a Secretaria de Segurança Pública e o Centro Integrado de Operações de Brasília (CIOB), composto por 22 órgãos, instituições e agências do governo, monitoram atos públicos de toda e qualquer natureza, respeitados os limites constitucionais. Realizar manifestação é um direito fundamental expresso no inciso XVI, do Artº 5, da Constituição Federal.
Além de auxiliar a promoção de ações de Segurança Pública, o trabalho integrado dos 22 órgãos que compõem o Centro corrobora com a mobilidade, fiscalização e saúde da população do DF.
Por G1 DF e TV Globo
Com bandeiras do Brasil e vestido nas cores verde e amarelo, o grupo se concentrou no Museu da República e seguiu até o gramado do Congresso Nacional. Um carro de som comandava o ato.
Ainda na concentração, manifestantes carregavam um caixão, que diziam "levar Rodrigo Maia". A referência é ao meme que circula nas redes sociais e mostra um velório em Gana, na África.
No trio que acompanhou o percurso, os organizadores também colocaram um boneco inflável com o rosto do parlamentar, que segurava um símbolo de dinheiro, vestia uma camisa com o escudo do Vasco e a logomarca da empresa Odebrecht. O G1 entrou em contato com a assessoria do deputado e aguardava um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
A Polícia Militar acompanhou a carreata e, segundo a corporação, não houve registro de incidentes relacionados à manifestação. No local, militares orientaram o grupo a evitar aglomerações.
Apesar da concentração de pessoa, em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o ato não precisou de licença do GDF para ocorrer (leia íntegra abaixo).
Algumas faixas levadas pelos manifestantes continham dizeres com ataques ao Supremo Tribunal Federal e pediam a "independência dos três poderes".
O grupo também estendeu uma faixa sobre "vencer a corrupção", que foi deixada no gramado em frente ao Congresso Nacional. Havia dizeres como "ditaDoria" e "o povo brasileiro apoia Bolsonaro".
Em seguida, os manifestantes atiraram bolas em uma faixa que continha fotos de congressistas, ministros do Supremo e adversários políticos do presidente.
Leia íntegra da nota da SSP:
"A previsão de encerramento do ato é às 14h. A movimentação na Esplanada dos Ministérios será acompanhada pela Polícia Militar do DF (PMDF) e também contará com fiscalização do DF Legal, que atuará em casos de ambulantes, faixas fixadas no chão e demais atividades cabíveis à pasta.
Cabe esclarecer que a Secretaria de Segurança Pública e o Centro Integrado de Operações de Brasília (CIOB), composto por 22 órgãos, instituições e agências do governo, monitoram atos públicos de toda e qualquer natureza, respeitados os limites constitucionais. Realizar manifestação é um direito fundamental expresso no inciso XVI, do Artº 5, da Constituição Federal.
Além de auxiliar a promoção de ações de Segurança Pública, o trabalho integrado dos 22 órgãos que compõem o Centro corrobora com a mobilidade, fiscalização e saúde da população do DF.
Por G1 DF e TV Globo
Apoiadores de Bolsonaro fazem manifestação na Esplanada dos Ministérios
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se manifestam na Esplanada dos Ministérios na manhã deste sábado (9/5). O tom do protesto é crítico a governantes, à imprensa e ao Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente.
Os manifestantes iniciaram uma carreata na altura do Museu Nacional, puxada por um caminhão militar e um trio elétrico. Por volta das 10h30, os veículos iam até a Biblioteca Nacional. Organizadores falam em mais de 10 mil carros.
Na calçada do Museu Nacional, um grupo de cerca de 100 pessoas se aglomera fora dos carros. Manifestantes sem máscaras são maioria, mas também são vistas proteções faciais com a bandeira do Brasil e com estampas militares.
No trio elétrico, organizadores e participantes gritam palavras de ordem. Os protestos mesclam apoio ao presidente e indignação contra parlamentares, ministros, jornalistas e especialistas em saúde pública.
A última manifestação semelhante foi marcada por críticas aos poderes democráticos, tema que começou a ser ponderado neste sábado. "Que fique claro para a imprensa porca, não queremos derrubar o STF, queremos derrubar os 11 ministros", disse um homem que não se identicou.
Mesmo com as aglomerações não sendo recomendadas, o presidente disse na última quinta-feira (07) que iria "cometer um crime" para reunir os convidados. O evento, segundo ele, contaria com cerca de 30 pessoas e ainda teria direito a uma partida de futebol.
"Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha, alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado", disse Bolsonaro à imprensa nesta quinta-feira (7/5), na entrada do Palácio do Alvorada.
Ainda segundo o chefe do Executivo, uma "vaquinha" também seria feita para custear as carnes. No entanto, bebidas alcoólicas não seriam permitidas, comentou. "Vai ter vaquinha de R$ 70. Não terá bebida alcoólica, se não, a primeira-dama coloca todo mundo para correr”, disse.
Ontem (09), após polêmica provocada pelo assunto, Bolsonaro ironizou a imprensa sobre o churrasco que prometeu fazer neste sábado (9/5) no Palácio da Alvorada e disse a apoiadores que colocaria "pra dentro" da residência qualquer um que comparecesse ao Alvorada hoje. Em tom sarcástico, Bolsonaro falou que receberia "mais ou menos 3 mil pessoas".
Em determinado momento, um dos eleitores de Bolsonaro pediu que fosse convidado ao churrasco. A partir daí, Bolsonaro começou a brincar sobre o tema.
"Só vou convidar imprensa. Já tem 180 convidados", respondeu Bolsonaro. Com os risos da claque, ele continuou: "210 convidados já tem". Ao cumprimentar mais apoiadores, o presidente voltou a aumentar a quantidade de convidados. "Deve dar 500 pessoas o churrasco amanhã. 700 pessoas confirmaram", ironizou.
Em meio a pandemia do novo coronavírus, o Ministério da Saúde registrou, até as 19h desta sexta-feira (8), 145.328 casos da doença em todo o Brasil e 9.897 óbitos provocados pelo vírus.
Por Correio Brziliense
Bolsonaro desiste de churrasco e diz que reunião anunciada é "fake"
"Alguns jornalistas idiotas criticaram o churrasco FAKE, mas o MBL se superou, entrou com AÇÃO NA JUSTIÇA", escreveu.
Mesmo com as aglomerações não sendo recomendadas, o presidente disse na última quinta-feira (07) que iria "cometer um crime" para reunir os convidados. O evento, segundo ele, contaria com cerca de 30 pessoas e ainda teria direito a uma partida de futebol.
"Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha, alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado", disse Bolsonaro à imprensa nesta quinta-feira (7/5), na entrada do Palácio do Alvorada.
Ainda segundo o chefe do Executivo, uma "vaquinha" também seria feita para custear as carnes. No entanto, bebidas alcoólicas não seriam permitidas, comentou. "Vai ter vaquinha de R$ 70. Não terá bebida alcoólica, se não, a primeira-dama coloca todo mundo para correr”, disse.
Ontem (09), após polêmica provocada pelo assunto, Bolsonaro ironizou a imprensa sobre o churrasco que prometeu fazer neste sábado (9/5) no Palácio da Alvorada e disse a apoiadores que colocaria "pra dentro" da residência qualquer um que comparecesse ao Alvorada hoje. Em tom sarcástico, Bolsonaro falou que receberia "mais ou menos 3 mil pessoas".
Em determinado momento, um dos eleitores de Bolsonaro pediu que fosse convidado ao churrasco. A partir daí, Bolsonaro começou a brincar sobre o tema.
"Só vou convidar imprensa. Já tem 180 convidados", respondeu Bolsonaro. Com os risos da claque, ele continuou: "210 convidados já tem". Ao cumprimentar mais apoiadores, o presidente voltou a aumentar a quantidade de convidados. "Deve dar 500 pessoas o churrasco amanhã. 700 pessoas confirmaram", ironizou.
Em meio a pandemia do novo coronavírus, o Ministério da Saúde registrou, até as 19h desta sexta-feira (8), 145.328 casos da doença em todo o Brasil e 9.897 óbitos provocados pelo vírus.
Poe Correio Braziliense
Legado do médico Enio Cantarelli - Sertanejo de Belém do São Francisco - era a medicina com um olhar para os mais pobres; saiba um pouco de sua história
Médico Enio Cantarelli - FOTO: ALEXANDRO AULER/ACERVO JC IMAGEM
Era um dia como outro qualquer no movimentado prédio do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), que atende diariamente no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, centenas de pessoas simples de todo Estado. Naquela manhã, um pequeno sertanejo abordou a enfermeira Ubelina Ma- ranhão, assessora da diretoria do hospital, em busca de um exame de raio-X. “Foi o doutor Enio quem me pediu para falar com a senhora”, disse o agricultor, um senhorzinho humilde de Santa Maria da Boa Vista, Sertão pernambucano. A abordagem deixou a enfermeira espantada, afinal, o doutor Enio Cantarelli convalescia na UTI do Hospital Memorial São José, a poucos quilômetros dali.
Natural de sua índole, pensou Ubelina, já acostumada com o zelo dedicado aos pacientes do médico responsável pela construção do Procape – instituição que atende anualmente mais de 100 mil pessoas desassistidas e sem planos de saúde. Mesmo aposentado, ele ia todos os dias ao hospital, mas naqueles tempos, a saúde o impedia. Era o ano de 2018, e o doutor Enio acabara de passar por uma cirurgia de vesícula e estava em observação médica. “Eu liguei para ele”, completou o sertanejo. “Me disse que já vai ter alta e mandou procurar a senhora para resolver o meu problema.” Contrariada de preocupação pela saúde do médico, a enfermeira, sua velha parceira, cumpriu a missão e levou o paciente à sala de raio-X.
Ubelina e a freira Lucimar Albuquerque, também enfermeira, ajudaram Enio Cantarelli a concretizar o sonho de erguer um hospital público especializado no atendimento cardiológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma jornada que teve início em 1995, com viagens a Brasília e conversas com dezenas de parlamentares, governadores e prefeitos para levantar fundos para a construção do Procape.
“Ele era assim”, relembra Ubelina. “Qualquer um que o procurasse, a qualquer hora do dia, em qualquer situação, ele atendia e resolvia. Todo mundo do Sertão tinha o telefone dele em Belém do São Francisco, Santa Maria, Serra Talhada… Ele nasceu para ajudar o próximo, perdi um grande amigo”, lamenta.
O problema de vesícula foi um dos desafios que o corpo de Enio Lustosa Cantarelli impôs aos últimos anos de vida daquele homem que nasceu em Belém do São Francisco, em 19 de fevereiro de 1947, para, através da medicina, levar solidariedade, espírito público e humanidade às pessoas, como gostam de lembrar seus inúmeros amigos e parceiros de profissão. Antes de perder a batalha da vida para um AVC, no último dia 1º de maio, doutor Enio passou a última década lutando contra um aneurisma e um câncer.
Foi o fim da carreira do cardiologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas, paraninfo de seis turmas, ex-diretor por duas vezes do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e da Sociedade Brasileira de Cardiologia e, principalmente, criador do Procape, um dos hospitais especializados no coração mais importantes do Brasil.
“Trabalhei com doutor Enio durante 35 anos”, conta Lucimar Albuquerque, vice-diretora do Procape até a aposentadoria do médico. “Para mim, ele é um ser iluminado. Um profissional que tinha um coração acolhedor, principalmente com os pobres doentes do interior. É um herói, generoso, sensível, uma sensibilidade sem igual. Um amigo, estou muito triste. Doutor Enio era a minha família, meu irmão e meu pai”, emociona-se.
A ideia de erguer o Procape, seu principal legado, começou muito antes de 1995, relembra o médico Ricardo Lima, atual diretor da unidade. “No início da década de 80 ele foi a um congresso no México e visitou o Instituto de Cardiologia do país, que nos anos 80 era muito importante. Naquela época, o México era mais desenvolvido em cardiologia que os Estados Unidos. Os americanos iam para aprender”, relembra. “Enio se apaixonou pelo instituto e achou que Pernambuco deveria ter uma obra igual. Ficou com a obsessão de criar um Instituto de Cardiologia.”
Tempos depois, quando Enio Cantarelli assumiu a direção do Oswaldo Cruz, durante o segundo mandato de Jarbas Vasconcelos à frente da Prefeitura do Recife (1993-1996), o médico conseguiu convencer o prefeito a doar um terreno ao lado do hospital. Não satisfeito, ainda procurou o sucessor, Roberto Magalhães (1997-2000), para garantir mais um pedaço e totalizar uma área de 1.000 metros quadrados.
“O antigo secretário de Saúde queria construir neste local uma garagem para o pessoal da Saúde. E sem aquela parte, não seria possível construir o edifício na altura e volume necessários a um centro de saúde. Examinei o pedido e verifiquei que não havia dúvida de que um hospital de qualidade tinha maior interesse público. Concordei e fiz a doação da parte que faltava”, relembra Roberto Magalhães.
O Procape
Com a área garantida, Enio Cantarelli partiu para desenvolver o projeto e providenciar os recursos. Com o projeto pronto, apresentou a ideia do Procape à sociedade, convenceu políticos, acadêmicos e empresários a destinar verbas àquele sonho. “O Procape foi construído com recursos de emenda parlamentar, um valor que variou entre R$ 36 milhões e R$ 38 milhões”, relembra o médico Ricardo Lima.
Alguns anos depois, e também com doações particulares – o empresário Ricardo Brennand doou o mármore que cobre a fachada do edifício – as instalações do Procape ficaram prontas para uso da população. A inauguração aconteceu em 2006, na gestão de Mendonça Filho como governador.
“Eu tive o privilégio de concluir as obras do Procape, quando participei da entrega do hospital. Pude, como deputado, vice-governador e governador, ao longo do período de viabilização desse grande empreendimento social, constatar a garra, a dedicação e a luta que ele travou para buscar recursos federais junto ao Orçamento Geral da União (OGU) e junto ao Estado. Quero render homenagem pessoal a ele pelo legado, como médico, servidor público e humanista que foi Enio Cantarelli. Um grande amigo”, disse Mendonça Filho.
Hoje o Procape é um hospital de 250 leitos voltados para cardiologia, com quatro salas de cirurgia, duas máquinas de hemodinâmica (a terceira será instalada até o fim do ano), cada uma ao custo de R$ 2,5 milhões. “Para se ter uma ideia da importância social do Procape, ele é único no perfil de hospital de cardiologia em todo o Norte e Nordeste. Quando a gente se volta para o Brasil, só encontra dois hospitais com esse perfil. Um é o Instituto do Coração em São Paulo (Incor) e o outro é o Procape. É uma obra realmente magnífica”, resume o diretor Ricardo Lima.
Em 14 anos, a instituição realizou algo próximo a 8 milhões de procedimentos médicos, 60 mil cateterismos, 17 mil cirurgias cardíacas. Hoje é a maior emergência cardiológica do Norte e Nordeste. Como a instituição é ligada à Universidade de Pernambuco (UPE), também é responsável pelo treinamento e formação dos estudantes de medicina que passam pela Faculdade de Ciências Médicas. A instituição ainda forma, anualmente, mais de 50 residentes médicos na área de cardiologia.
São mais de 1.300 funcionários entre médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, funcionários públicos ou terceirizados que atendem desde crianças a adultos, com tecnologia de radiologia, tomografia, medicina nuclear, ecocardiograma, ergometria.
Voluntários
O espírito humanista de Enio Cantarelli não estimulou apenas os servidores. O Procape dispõe de um grupo de 78 voluntários ativos que ajudam nos cuidados básicos da população que busca os serviços médicos. Maioria vinda do interior, chega com suas famílias, dúvidas e muitas necessidades. “Desde a inauguração trabalhamos juntos e criamos o voluntariado”, diz Iolanda Chaves, coordenadora do grupo, sobre a sua iniciativa em conjunto com o médico.
“O Procape é um dos únicos hospitais públicos do SUS que tem equipe de voluntários. Doutor Enio teve um sonho de 27 anos para atender cardiopatas pobres”, relembra Iolanda. Os voluntários acolhem pacientes e seus familiares que chegam do interior e os encaminham para atendimento. Aos acompanhantes, o grupo fornece roupa de cama, pijama, camisola, organiza bazar para angariar recursos para essas pessoas e realiza celebrações em datas especiais aos pacientes internados entre outras atividades. Para o diretor Ricardo Lima, o Procape é resultado de uma outra característica marcante da personalidade de Enio Cantarelli: seu poder de liderança. “Esse é um hospital público, mas não é obra de governo. Ali é resultado do sonho de um homem que conseguiu deixar um legado para o povo pernambucano”, resume.
Na visão do ex-diretor do Hospital Oswaldo Cruz, o médico Ricardo Coutinho, a concepção e a construção do Procape é resultado natural de um colega que, ainda na época de residência médica – no início dos anos 70 no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro – era conhecido pelo apelido de “Senador”. “Ele foi meu chefe na residência, e ganhou o apelido por ser diplomático, agregador, queria sempre se aproximar das pessoas. Nunca teve interesse político, mas se fosse candidato se elegeria para qualquer cargo.”
Anos mais tarde, Cantarelli e Coutinho fundaram o Unicordis, que em pouco tempo se tornou o maior grupo de cardiologia privada do Recife, até seu fechamento há poucos anos. Foi um pequeno empreendimento privado na vida de um homem que se dedicou com afinco ao serviço público.
“Somente um incontido e sempre presente desejo de ajudar ao próximo, aliado à capacidade visionária e de realização fora do comum para se concretizar neste instrumento tão valioso que ele nos presenteou. Sejamos gratos!”, escreveu o coordenador Médico do Procape, Pedro Casé, em carta dirigida aos amigos. “Siga em paz, Professor! O Senhor entra na minha lista de abraços que quero repetir um dia. Tenho fé nisso!”
Por Jornal do Commercio
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