Polinizadoras, as abelhas contribuem para o equilíbrio da natureza, portanto, matar qualquer das espécies é crime ambiental. A Caatinga está seca (sem recursos florais disponíveis), e elas estão migrando em busca de alimentos nas áreas urbanas.
Muito se sabe e se fala sobre os efeitos que o desmatamento tem ocasionado ao longo dos anos. Provocado pelo próprio ser humano, as consequências são cada vez mais devastadoras. Nas últimas semanas a ocorrência de enxames de abelhas nas áreas urbanas das cidades de Petrolina e Juazeiro, na região do Vale do São Francisco, tem colocado em foco mais uma vez o problema do desmatamento.
De acordo com a professora doutora em zootecnia da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Eva Mônica Sarmento da Silva, o desmatamento provoca a perda da diversidade de plantas fazendo com que as abelhas procurem outros ambientes, que não o seu habitat, para se alimentar. “Devido ao desmatamento espécies de plantas deixam de florescer o ano inteiro, tornando indisponíveis os alimentos para que as colônias permaneçam em seu habitat natural. Como as abelhas Apismellifera são extremamente adaptadas, quando falta recursos em determinados ambientes elas abandonam as colmeias em busca de recursos alimentares para garantir a sua sobrevivência e perpetuação da espécie”, explicou.
As abelhas do gênero Apismellifera, espécie encontrada na área urbana de Petrolina, ainda segundo a especialista, são extremamente defensivas e, caso se sintam ameaçadas, vão fazer de tudo para defender a colônia. “Quando as colônias já estão nidificadas em um determinado local, elas precisam da ação humana (proposital ou acidental) para acontecer os ataques. Quando está acontecendo uma migração podemos ser surpreendidos pelo enxame (caso esteja na rota delas) e pode acontecer um ataque acidental. É muito comum acontecer com motoqueiros”, disse Eva.
Com a migração das abelhas, pelo menos três enxames dessa espécie foram retirados da área central de Petrolina. Mas antes da retirada, um dos enxames, após circular em grande concentração, provocou a morte de um idoso de 71 anos e deixou alguns feridos devido ao ataque.
Segundo dados da primeira edição da pesquisa Contas de Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em setembro, o desmatamento no Brasil, entre 2000 e 2018, atingiu uma área de meio milhão de quilômetros quadrados (km²). Todos os biomas tiveram perdas da cobertura natural da vegetação, mas os mais impactados foram a Amazônia e o Cerrado.
O apicultor e estudante de engenharia agronômica, Clefson Sena da Silva, lembra ainda que matar abelhas é crime ambiental de acordo com a Lei n º 9605/98. “As abelhas contribuem para o equilíbrio da natureza, portanto, matar qualquer das espécies é crime. O correto é levá-las para área de apicultura ou soltar nas áreas rurais, em ambientes propícios para seu desenvolvimento”.
Fatores adicionais
A professora Eva lembra ainda que a migração é natural e se deve também ao volume maior de chuva no início deste ano. “As plantas floresceram bem e disponibilizaram uma grande quantidade de recursos florais (pólen e néctar) para as colônias. Com isso as colônias cresceram e se multiplicaram muito. Agora, a Caatinga está seca (sem recursos florais disponíveis), e elas estão migrando em busca de alimentos nas áreas urbanas. Nos anos anteriores não presenciamos essas ocorrências, porque foram anos consecutivos de seca, e as abelhas sofreram muito e não se multiplicaram”.
Concluindo, a professora explicou que o desmatamento e as queimadas serão sempre um problema e todas as espécies são impactadas de forma profunda. “Sempre será um sério problema para as espécies de uma forma geral, no caso das abelhas, quando as plantas são retiradas, destrói os locais para nidificação e alimentação, não só das abelhas africanizadas, como também as nossas abelhas nativas, que infelizmente, não tem esse hábito de migrarem como acontece com as melíferas”.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Pixabay
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