De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos no mundo, e as consequências de não abordar o assunto se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades.
As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. Metade dessas condições começa aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detectada ou tratada. A depressão aparece como uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes de todo o mundo.
No Brasil, o último boletim epidemiológico de tentativas e óbitos por suicídio, do Ministério da Saúde, publicado em 2018, mostrou 13.463 óbitos por suicídio registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) naquele ano. Desses, 1.053 foram entre crianças e jovens com até 19 anos. Entre os adultos, na faixa etária de 20 a 39 anos, foram registrados 5.150 óbitos por suicídio.
Atualmente, existem 2.657 Centros de Atenção Psicossocial no país, que ofertam acolhimento e assistência às pessoas com transtornos mentais, incluindo depressão e ansiedade. Nesses locais, há tratamento e acompanhamento contínuo por meio de cuidado individual e em grupos, além de terapia medicamentosa.
A médica pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Lílian Cristina Moreira explica que não existe um padrão ou momento pré-estabelecido para tratar do assunto, mas ele deve ser conversado quando partir da própria criança, como uma maneira de acolhimento.
Elas costumam ter consciência da morte e a capacidade de compreensão entre os 4 e 7 anos. “Não falar é pior, porque, se ao tocar no assunto os pais recebem com angústia, ansiedade ou tentam minimizar, desqualificar ou postergar, a criança pensa: ‘Esse assunto incomoda, isso é um problema, deve ter alguma coisa errada nisso'”, afirma.
De acordo com a pediatra, conversar sobre morte não piora a temática. “Pelo contrário, abre-se um espaço na família para aquele tema ser acolhido e tratado de uma forma natural, porque mostra que o nascer e o morrer fazem parte do ser humano.”
O psicólogo clínico Fernando Mancilha explica que algumas crianças muito novas não entendem a morte como um processo definitivo e, por isso, o assunto deve ser abordado aos poucos. A partir dos 3 anos, contudo, já é possível mostrar de maneira concreta a noção de finitude. Como, por exemplo, plantar um feijão e mostrar o ciclo da vida ou conversar sobre o assunto quando um animal de estimação morre.
“Nessa idade, o pequeno tende a achar que as coisas são mais mágicas e reversíveis. Para eles, as coisas podem ser revertidas. É a partir dos 6 anos que a criança começa a entender melhor a morte como uma coisa definitiva. Nessa idade já dá para conversar de uma maneira mais clara”, explica o psicólogo.
Para Mancilha, os adultos precisam desmistificar a ideia de que crianças não cometem suicídio. “Por ser mais raro, em geral, as pessoas não ficam atentas. A gente deve observar os pequenos com os mesmos olhos e cuidados oferecidos aos adolescentes”, sugere.
O documento Prevenção do Suicídio – um recurso para conselheiros, da Organização Mundial da Saúde (OMS) – esclarece os principais mitos sobre os comportamentos suicidas. Entre eles, está a falsa percepção de que crianças não cometem suicídio, pois não entendem a finitude da morte e por isso são cognitivamente incapazes de se matarem. “Embora seja raro, as crianças cometem suicídio, e qualquer gesto, em qualquer idade, deve ser levado muito seriamente”, diz o relatório.
O documento também destaca como mito o fato de as pessoas que ameaçam se suicidar quererem apenas chamar a atenção. “Toda fala sobre fazer mal a si mesmo deve ser levada muito a sério”, diz a OMS. De acordo com Mancilha, por muitos anos, essa ideia teve força, principalmente quando se tratava de adolescentes. Hoje, essa abordagem é vista como erro grave pelos profissionais de saúde. “Quando alguém menciona o assunto pessoalmente ou nas redes sociais, deve-se observar e conversar. Dependendo do caso, deve-se levar a pessoa para um profissional de saúde avaliar a situação”, completa.
Gatilhos
Segundo a pediatra Lilian Cristina Moreira, fatores relacionados à pandemia da Covid-19 contribuem para o aumento de casos nessa faixa etária, como o estresse familiar devido ao isolamento, a maior exposição às telas de aparelhos eletrônicos durante o período em casa e o cyberbullying.
Além disso, existem fatores comportamentais da família que corroboram para as pessoas serem mais ansiosas, deprimidas e chegarem a cometer o suicídio. Nessa lista estão a falta de incentivo de vida; tendência a se abaterem e se desmotivarem; estilo de vida familiar propenso à depressão, com pessoas mais negativistas e pessimistas; estresse tóxico na infância; violência física e mental; desqualificação mental; cobranças excessivas; e histórico de abuso sexual.
Sinais de alerta
Os pais devem ficar atentos aos comportamentos extremos, como crianças muito agitadas ou paradas demais; modificação no apetite; demonstrações de baixa autoestima; transtorno de imagem corporal; distúrbios do sono – muita sonolência, insônia ou sono de vigília; humor muito instável com irritabilidade constante ou apatia – quando o indivíduo evita o contato com outros familiares ou amigos. Todos esses fatores podem ser sintomas de depressão.
Ao notar algum desses quadros, os responsáveis devem procurar um pediatra para investigar o que pode estar provocando tais comportamentos. O profissional vai avaliar a criança como um todo e identificar se é um distúrbio físico e hormonal. “A gente não pode deixar o quadro evoluir muito porque às vezes você vai descobrir quando a criança já está se machucando, se cortando”, alerta a pediatra da SBP.
Os pais devem ficar atentos aos comportamentos extremos, como crianças muito agitadas ou paradas demais; modificação no apetite; demonstrações de baixa autoestima; transtorno de imagem corporal; distúrbios do sono – muita sonolência, insônia ou sono de vigília; humor muito instável com irritabilidade constante ou apatia – quando o indivíduo evita o contato com outros familiares ou amigos. Todos esses fatores podem ser sintomas de depressão.
Ao notar algum desses quadros, os responsáveis devem procurar um pediatra para investigar o que pode estar provocando tais comportamentos. O profissional vai avaliar a criança como um todo e identificar se é um distúrbio físico e hormonal. “A gente não pode deixar o quadro evoluir muito porque às vezes você vai descobrir quando a criança já está se machucando, se cortando”, alerta a pediatra da SBP.
Setembro Amarelo
Todos os anos, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo faz um alerta sobre a prevenção ao suicídio, abordando a importância de conversar sobre a saúde mental e prestar atenção nos sinais que as pessoas emitem para dizer que estão passando por sofrimento.
Todos os anos, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo faz um alerta sobre a prevenção ao suicídio, abordando a importância de conversar sobre a saúde mental e prestar atenção nos sinais que as pessoas emitem para dizer que estão passando por sofrimento.
Metrópoles
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