Lago de Itaparica, Reservatório da UHE Luiz Gonzaga, entre Pernambuco e Bahia. Recentemente, o Governo Federal anunciou a intenção de construir uma nova usina hidrelétrica no Rio São Francisco, em Pirapora (MG), a UHE Formoso (Foto: Assis Ramalho/Arquivo BlogAR)
Nascido em Minas Gerais, o Rio São Francisco também percorre e abastece os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Dele vem boa parte das águas que os povos dessas regiões usam para a sobrevivência, mas todo o Brasil também se beneficia com sua riqueza, pois o Velho Chico provê água que é transformada em energia elétrica.
Somente em sua calha encontram-se nove Usinas Hidrelétricas: uma localizada em Três Marias (MG) que pertence a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) e outras oito pertencem à Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), as usinas de Paulo Afonso I, II, III e IV (BA), Sobradinho (BA), Luiz Gonzaga (PE), Moxotó (AL) e Xingó (SE).
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cerca de 60% da energia gerada em todo o país é hidráulica. Essa energia é gerada pela correnteza dos rios, que faz girar turbinas instaladas em quedas d’água.
A geração de energia elétrica sempre provoca algum efeito na natureza, mas cada processo tem suas particularidades. O professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em Energética pela Université d’Aix-Marseille III, Heitor Scalambrini Costa, esclarece que não existe fonte de energia denominada limpa. “Todas, tanto aquelas provenientes de recursos fósseis (petróleo e derivados, carvão mineral, gás natural) e de minérios radioativos, como aqueles de recursos da natureza (sol, vento, biomassa), geram problemas e impactos no meio ambiente”.
O grande problema ambiental e também social causado pelas hidrelétricas é a necessidade de represar os rios. Vastas regiões são alagadas, o que provoca não só a retirada das populações humanas do local, como alterações no ecossistema.
Heitor Scalambrini faz uma relação mais detalhada dos impactos socioambientais causados pela construção de hidroelétricas. “Podemos mencionar além das inundações de áreas agricultáveis e de florestas, o deslocamento e a perda dos modos de vida das populações situadas nas áreas alagadas; mudanças na dinâmica hidrológica dos rios e afluentes; diminuição da biodiversidade; emissões de gases de efeito estufa (principalmente o metano) pela decomposição de matéria orgânica existente nas áreas alagáveis; alteração do ambiente, prejudicando espécies de seres vivos, pois interferem, por exemplo, na migração e reprodução de peixes; alteração na paisagem das margens pela propagação de atividades humanas ligadas a presença dos reservatórios; o represamento do rio diminui o nível da água abaixo da represa, desabrigando pessoas e animais e provocando a salinização da água (no semiárido) e alterações climáticas que comprometem a fauna e flora que não se adaptarão a essas mudanças”.
Nova usina hidrelétrica no Rio São Francisco
Recentemente, o Governo Federal anunciou a intenção de construir uma nova usina hidrelétrica no Rio São Francisco, em Pirapora (MG), a UHE Formoso. A notícia preocupa os ambientalistas pelos impactos que a nova hidrelétrica pode causar à bacia do Velho Chico.
“Em nome do desenvolvimento foi anunciada a construção de mais uma hidrelétrica no Rio São Francisco, na região mineira de Pirapora e Buritizeiro. A área onde a barragem será construída é de suma importância para o Cerrado norte mineiro, com suas veredas e mata virgem, afetando os ciclos de vida do Cerrado (Pai das Águas), influenciando no regime de chuvas e cheias do rio, impactando, inclusive, lençóis freáticos. Caso for construída, prejudicará todo o ecossistema da região. Pirapora, que já sofre com a ausência de peixes como o pocomã e o surubim, pode se preparar para não ver certas espécies nunca mais”, esclarece Heitor Scalambrini.
O professor aposentado da UFPE afirma que existem outras opções de oferta de energia elétrica. “Alternativas como a repotenciação (modernização) das hidrelétricas já existentes, melhorar a eficiência e conservação de energia, utilizar o aquecimento de água com energia solar para substituição dos chuveiros elétricos, uso da energia solar fotovoltaica e eólica descentralizada, dentre outras medidas, seriam suficientes para ofertar a energia elétrica ao país, sem a necessidade de construir mais uma hidrelétrica no São Francisco”.
Usina nuclear em Pernambuco
A decisão do Governo Federal de estabelecer o Plano Nacional de Energia até 2050, reacendeu no Estado o sonho da instalação, em Itacuruba (PE), no Sertão de Itaparica, de uma usina nuclear no Rio São Francisco com até seis geradores.
O investimento em energia atômica vai na mão contrária da tendência mundial, além de ameaçar o meio ambiente e a vida na aldeia indígena Pankará. “O Brasil, para garantir a segurança energética não precisa da energia nuclear, diante da enorme diversidade de fontes renováveis existentes. O risco de vazamento de material radioativo acarretaria uma catástrofe nunca antes vista em nosso país. Ainda mais com proposta de construírem na beira do Rio São Francisco. Além, obviamente, do alto custo de geração (5 vezes maior que as fontes solar e eólica) que seria repassado para a conta do consumidor”, esclarece Heitor Scalambrini.
Questionado sobre qual a alternativa energética para o Brasil, Heitor Scalambrini afirma que uma matriz energética sustentável seria aquela que usasse diversos recursos renováveis e que se complementassem entre si. “Aquela que preserva o meio ambiente, que combata as emissões de gases de efeito estufa, pouco impactante para as populações atendendo assim o interesse da maioria da sociedade brasileira. Discutir a matriz energética implica, em primeiro lugar, refletir a serviço de quem estará esta nova matriz e levar em conta quem se beneficiará ou a qual propósito servirá, ou seja: energia para quê? e para quem?”.
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