segunda-feira, agosto 24, 2020

Obra de reparo da parede da barragem de Jati, no Ceará, vai levar até 10 dias, diz Ministério da Integração



A obra de reparo na parede da barragem onde um duto rompeu na sexta-feira (21) em Jati, no Sul do Ceará, pode levar até 10 dias, segundo Tiago Portela, representante do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). "O período para recompor a parede, o talude da barragem, vai ser de 7 a 10 dias", disse.

A barragem faz parte do Eixo Norte da Transposição do São Francisco inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro em junho. O rompimento ocorreu um dia após a abertura da comporta de um canal que recebe água da transposição, evento que contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O jato d'água provocado pelo vazamento atingiu a parede da barragem.

O rompimento causou pânico à população da região e duas mil pessoas precisaram deixar as residências em um raio de 2 km.

Segundo Portela, a recuperação da barragem está sendo feita em duas partes. “O primeiro momento é a recomposição do talude, que sofreu decomposição por causa do jato d’água do rompimento do duto. É isso que a gente tá fazendo, que é esse prazo de até 10 dias. O outro momento, a gente já iniciou paralelamente, os estudos com nosso corpo técnico, em uma solução para a retomada do bombeamento”, explicou.

Ainda não há previsão de quando as comportas da barragem vão ser abertas novamente para a distribuição de água da transposição do Rio São Francisco. “Isso é prematuro eu dizer, porque vai ter que fazer a reconstrução do duto e ter outras soluções. O que eu garanto é que o Ministério do Desenvolvimento Regional está trabalhando diuturnamente para que isso retome a normalidade da transposição do Rio São Francisco”, afirma.

Cerca de 200 pessoas trabalham na obra de recomposição, com equipes em turnos da manhã, tarde e noite, segundo o MDR.

Retorno dos moradores

Conforme Portela, um trabalho conjunto entre o Ministério, a Defesa Civil municipal, estadual e nacional, em parceria com a prefeitura de Jati, está trazendo moradores de volta às casas que estão nas áreas fora de risco.

Ele afirma que a retirada das pessoas foi feita de modo preventivo e, devido ao pânico com o rompimento, alguns moradores saíram das casas sem necessidade, pois "em uma possível inundação essas casas não seriam alcançadas".

“No desespero da população, muitas pessoas acabaram saindo de suas residências sem necessidade. Agora, um trabalho conjunto com a Defesa Civil municipal, estadual e nacional, em parceria com a prefeitura de Jati, estamos retomando a população para as áreas que não foram atingidas. Estamos fazendo a demarcação com a nossa contratada, nossa operadora, e teremos profissionais de assistência social que darão todo o apoio a população”, disse.

Decreto de emergência

Representantes da prefeitura de Jati, do governo do estado e do governo federal se reúnem neste domingo (23) para formular um decreto de situação de emergência. O coordenador municipal da Defesa Civil, Juarez Nogueira Filho, informou que o documento deve ser publicado até segunda-feira (24).

O decreto tem como objetivo tornar oficial a situação de emergência no município e regularizar o destino dos recursos estaduais e federais na assistência e na restauração dos danos causados. Conforme Juarez, "a situação neste momento está praticamente estabilizada, não há mais vazamentos, mas existem regras da legislação e, por ser uma área que ainda há risco, temos que manter a evacuação", explicou.

Uma fissura foi detectada na parede da base da barragem e analisada pelos engenheiros da Defesa Civil de Brasília. Segundo Juarez, a constatação da análise é de que a falha é superficial e, portanto, “não representa riscos para a segurança”, afirma.

Moradores relatam correria e susto

Moradores do entorno da barragem Jati afirmaram que levaram um grande susto com o rompimento do duto e que não tiveram tempo de buscar os pertences pessoais. Não há registro de feridos.

O aposentado José Cândido de Oliveira, 75 anos, morador de Jati, disse que estava em casa no momento do rompimento e viu as pessoas correndo pelas ruas. Ele foi levado junto a mulher para a casa de familiares após o ocorrido.

"Começou um corre-corre. Eu estava em casa, vi na estrada um monte de carro, um monte de gente correndo. A gente saiu de lá porque a gente estava correndo risco, não confiei de ficar lá. A sorte nossa é ter isso aqui(abrigo), se não 'tava' na rua. Não deu tempo pegar nada, só os documentos", lembrou.

O comerciante José Adalto, que se abrigou em uma residência junto com Oliveira e família, disse que chegou a ver uma casa sendo levada pela força da água.

"Foi horrível, nunca vi na minha vida uma coisa assim. Era todo mundo correndo, dizendo que ia morrer, mandando correr para as áreas altas. Era mulher, menino, moto, exagero muito. Era muita água, era coisa feia. Tinha uma casinha embaixo, a água levou a casa, levou o poste, levou tudo. O pessoal deve ter saído na hora", afirmou o morador.

Ele também lamentou o ocorrido e disse que está dividindo um abrigo com familiares, amigos e outros moradores do entorno da barragem. "Nunca imaginei que ia acontecer. Eu pensei que essa barragem era coisa boa pra gente, mas foi coisa ruim. Foi coisa horrível".

Vazamento

Por volta das 17 horas de sexta-feira (21) um ponto do duto do Eixo Norte que transporta água da barragem de Jati estourou e gerou um imenso jato d'água que danificou a parede da barragem.

O vazamento foi contido horas depois, mas, durante a noite e a madrugada havia dificuldade de avaliação técnica da estrutura pela falta de iluminação.

No sábado (22), o ministro Marinho informou que a barragem estava "íntegra'', mas seriam necessárias 72 horas para estabilizá-la plenamente.

G1 CE

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