"Peço desculpas a todos. Agradeço a todo mundo que esteve ao meu lado na minha vida. Sempre lamentei por minha família que apenas teve um período difícil comigo. Por favor, façam a cremação e espalhem as cinzas no túmulo dos meus pais. Adeus a todos", diz a mensagem deixada por Park.
Foi estabelecido cinco dias de luto em Seul pela morte do prefeito. No entanto, as opiniões no país estão divididas sobre a forma como ele deve ser lembrado.
Park Won-soon construiu uma reputação de advogado humanista e feminista. Ele era bem visto pela sociedade e atuou no primeiro caso de assédio sexual da Coreia do Sul, em 1993. Tratou-se de um processo contra um professor da Universidade Nacional de Seul, que acabou sendo condenado. A partir deste momento, o termo para assédio sexual foi introduzido na legislação sul-coreana, tornando-se um marco para as vítimas.
A percepção perante à imagem do prefeito começou a se modificar na quarta-feira, dia 8, quando uma ex-secretária registrou uma acusação por assédio sexual contra ele. Embora não tenha sido comprovada a relação entre este episódio e a morte de Park, ele cancelou seus compromissos pouco depois. Não tardou a policiais iniciarem uma operação para localizá-lo. A filha dele contou ter recebido um telefone estranho, que lhe soou como um "testamento". Cerca de 7 horas mais tarde, o corpo foi encontrado.
A imprensa local especula que, por ter sido acusado de assédio sexual no dia anterior, Park Won-soon pode não ter suportado a contradição que a denúncia estabeleceu com sua reputação. A principal hipótese considerada neste caso é que ele tenha cometido suicídio.
Com a morte de Park, as investigações de assédio contra ele foram encerradas. E não se sabe sobre o que ocorreu de fato. A família dele anunciou que entrará com medidas legais contra pessoas e instituições que divulgarem informações difamatórias e caluniosas contra o advogado. Os parentes explicaram que planejam, dessa forma, preservar sua imagem de um profissional íntegro e responsável.
De forma semelhante é a reação do partido democrata, do qual Park fazia parte. Há outras partes da sociedade, contudo, que reforçam a necessidade de se proteger a autora da acusação, bem como permitir que o assunto seja debatido e que a verdade seja esclarecida. Entre essas pessoas, está a idol Park Ye-eun, conhecida pelo nome artístico Ha:tfelt. Ela ficou famosa por ter integrado o grupo de K-pop Wonder Girls, que debutou em 2007. Hoje com 31 anos, ela mantém carreira solo iniciada em 2014. Após a morte do prefeito de Seul, Ha:tfelt se manifestou nas redes sociais para apoiar o movimento #MeToo, que ficou conhecido mundialmente a partir de casos de assédio sexual entre as estrelas de Hollywood, nos EUA.
"Mesmo se o caso tenha sido fechado devido à falta do direito de prosseguir com o processo, como outra instituição onde agressão sexual por hierarquia acontece, eu peço a Prefeitura de Seul que assuma a responsabilidade, proteja as vítimas, e alivie os danos infligidos", diz o post que a cantora curtiu.
A professora CedarBough Saeji, doutora em Estudos Asiáticos pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, explicou ao EXTRA que a Coreia do Sul ainda adota comportamentos conservadores, principalmente por meio das gerações anteriores aos millenials. Como exemplo, ela citou o grupo ilbe, que prega valores do movimento MRA. Essa sigla refere-se à expressão em inglês "men's right activist", que significa algo como "ativismo pelo direito dos homens". De acordo com a professora, esse grupo "cria um ambiente online muito desconfortável para os idols que apoiam abertamente o feminismo".
— É triste, mas agora é difícil para os idols enfrentarem esses cruéis valentões online — disse Saeji, que leciona no departamento de Línguas e Culturas Asiáticas da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.
Duas idols que eram nomes expoentes do feminismo na Coreia do Sul cometeram suicídio no ano passado, Sulli e Goo Hara, aos 25 e 28 anos, respectivamente. Elas inclusive eram amigas. Ambas eram alvo de comentários maliciosos nas redes sociais.
Extra-RJ
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