Foto: Assis Ramalho/BlogAR
Será sem o abraço e apertos de mão entre fiéis que as igrejas, templos, terreiros e demais espaços de cultos religiosos retomarão o funcionamento a partir da próxima segunda-feira em Pernambuco. A quarta etapa do Plano de Convivência com a Covid-19, elaborado pelo governo do estado foi divulgado ontem e será estendido por todo território, exceto para aquelas 85 cidades das regiões de Palmares, Goiana, Caruaru e Garanhuns, que não avançaram para esta etapa. O retorno após o três meses, entretanto, só poderá ser realizado seguindo rígidos protocolos de segurança sanitária para os espaços religiosos e regras de distanciamento para os frequentadores.
Entre as orientações, só será permitida a ocupação de 30% do espaço físico e os assentos devem preservar a distância mínima de 1,5 metro entre os fiéis. De preferência, devem ser disponibilizadas cadeiras e bancos individuais. Para locais com bancos coletivos, estes devem ser reorganizados e demarcados para garantir o afastamento exigido. Há limite de 50 pessoas nos templos com capacidade até mil lugares e 300 pessoas, nos locais com capacidade acima de mil lugares.
Haverá controle no fluxo de entrada e saída e restrição para idosos e crianças menores de 10 anos, que não devem comparecer às missas e cultos. O protocolo pede, ainda, ser evitadas práticas de aproximação entre as pessoas e demais formas de contato físico. De acordo com o governador Paulo Câmara, as atividades religiosas têm um papel fundamental para a sociedade e asseguram o conforto espiritual. “As práticas religiosas são muito importantes, sobretudo em um momento tão difícil como o que estamos atravessando. Mas precisam ocorrer com consciência e a colaboração de todos. A pandemia não acabou e precisamos continuar com os cuidados necessários”, ressalta.
A Arquidiocese de Olinda e Recife, que corresponde a 143 paróquias em 19 municípios, retomará as celebrações presenciais apenas no dia 27 de junho, quando será realizada a vigília da solenidade de São Pedro e São Paulo. A data foi escolhida também pensando no período de adaptação para a nova forma de receber os fiéis. “A população está precisando se reencontrar para celebrar e receber a eucaristia. Vamos reiniciar com muito amor e respeito, tomando todos os cuidados possíveis para evitar qualquer tipo de contaminação”, afirma o arcebispo dom Fernando Saburido.
Para o arcebispo, o retorno foi oportuno. “Acho que foi bom, os dados já mostram uma diminuição de casos e nós não podemos parar por conta da pandemia, precisamos nos adaptar a viver esse novo normal”, pontua. Apesar da possibilidade do retorno, as dificuldades estarão presentes. “Será muito diferente, os fiéis estavam acostumados a assistir as missas quando podiam e agora estarão sujeitos a limite de ho- O decreto do governo estadual restringe a ida de idosos e crianças menores de 10 anos a cultos e missas rário, não poderão ter contato uns com os outros”, destaca.
A orientação da arquidiocese para os sacerdotes é multiplicar as celebrações e encurtar o tempo das missas, evitando aglomerações. Também é preciso fiscalizar as medidas de distanciamento, uso de máscaras e a entrada de fiéis. Quem não puder estar presente, poderá assistir às missas on-line. No período em que esteve fechada, a Igreja passou a explorar as possibilidades digitais e transmitir cerimônias ao vivo.
Igrejas evangélicas com número reduzido de cultos
O retorno também é bastante esperado para os frequentadores da Igreja Batista. As atividades retornam normalmente na próxima segunda-feira nas nove instituições ligadas à Igreja Batista de Jardim São Paulo – Igreja da Família (IBJSP), distribuídas em Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista e Recife. “Poderíamos manter a programação exclusivamente online, mas sentimos a necessidade do encontro. Só o fato das pessoas poderem irem ao local, assistir ao culto, elas já voltam esperançosas para casa. Sabemos que não vai ser da mesma forma, mas temos que estabelecer um novo normal daqui pra frente”, afirma o bispo Paulo Ortêncio Filho.
De acordo com o líder religioso da IBJSP, a retomada será feita com muita cautela. “Entendemos que é um momento crítico e por isso vamos seguir todos os protocolos e normas recomendadas pelo governo estadual. Vamos ter muita cautela e retomar, a princípio, com menos da capacidade permitida”, destaca. Uma empresa de sanitização foi contratada especialmente para o retorno e será responsável pela higienização do salão antes e depois de cada culto. A Igreja também adquiriu EPIs e termômetros digitais. Os horários dos cultos também foram ajustados. “Tínhamos cultos mais longos, de 1h30, agora será de 40 a 60 minutos”, detalha o bispo.
“A igreja é também um hospital religioso que trata da alma, é tão essencial quanto qualquer outro estabelecimento. Nós, líderes evangélicos, estávamos a lmeja ndo essa volta e pedíamos ao governo que liberasse os cultos. A pandemia tem causado pânico nas pessoas e a procura têm sido muito grande. A retomada é essencial para a sociedade, nós acreditamos no poder da oração”, afirma o vice-presidente da Assembleia de Deus Ebenézer em Pernambuco, pastor Robenildo Lins, responsável por nove igrejas evangélicas na Região Metropolitana do Recife. Elas retomarão as atividades na próxima segunda, seguindo as recomendações do decreto estadual.
Espíritas sem data para retomar encontros
Apesar da permissão, os centros espírita não têm data para retomar as celebrações, reuniões, palestras e atendimentos presenciais. “A princípio não vamos voltar, são muitas restrições e muitos de nossos centros têm capacidades muito pequenas para receber o público, de uma forma que seria difícil manter todos as pessoas em segurança e evitar o contágio com o novo coronavírus. São medidas que precisamos para colocar em prática para fazer o retorno de forma prudente”, explica a presidente da Federação Espírita Pernambucana (FEP), Cristina Pires. A FEP é responsável por 220 centros espíritas, dos 430 em atividade em Pernambuco.
A presidente ressalta, contudo, que a federação não é soberana e a decisão de retorno cabe ao líder de cada instituição. “Nós compartilhamos decisões, sugerimos o que pode ser feito para o movimento espírita, mas deixamos que cada diretoria avalie as condições de cumprir o protocolo”, conta. De toda forma, segundo Cristina, nenhum centro sinalizou a reabertura. Durante os três meses que estiveram fechados, os centros realizaram suas atividades de forma remota.
“Nos adaptamos, seguimos realizando atendimentos fraternos e espirituais por telefone. As palestras doutrinárias, reuniões mediúnicas e vibrações estão sendo realizadas por vídeo. Também continuamos com assistência social e entrega de material e suprimentos para idosos e gestantes”, destaca. Mas, segundo ela, “as pessoas estão sofrendo muito com o isolamento, percebemos no atendimentos e tratamentos que fazemos de forma on-line, mas não podemos colocar em risco a vida de cada um deles”.
Fiéis divididos
O anúncio da reabertura dos templos animou a autônoma Maria do Socorro Cavalcanti. Sem ir aos cultos presenciais desde março, ele comemorou a decisão do governo estadual. “Oh, glória! Jesus é lindo! Obrigado por poder voltar à minha igreja”, escreveu em seu perfil nas redes sociais. Ela integra a Assembleia de Deus, na cidade de São Lourenço da Mata. Apesar da retomada dos serviços presenciais, Maria do Socorro diz que “a liberação foi feita, mas o coronavírus não passou”. E ressalta: “Vigiar vamos de máscara”.
Católica e frequentadora das igrejas da Praça de Casa Forte e da Rua Harmonia, no Recife, Patrícia Fátima prefere ficar em casa mesmo com a reabertura. “Não acho viável ou seguro ir à igreja na atualidade”, disse ao comentar a postagem do protocolo divulgado pela Arquidiocese de Olinda e Recife. Ela disse que continuará assistindo as missas pelo YouTube, pois mora com a mãe, de 80 anos. No geral, entretanto, os católicos aprovaram a reabertura gradual. A reabertura vinha sendo discutida entre o governo do estado e denominações religiosas.
Na Câmara de Vereadores do Recife, a Bancada Evangélica chegou a aprovar um requerimento pedindo ao Executivo a retomado dos serviços nos templos. Isso no dia 9 deste mês, quando liderança da Convenção Batista Nacional, que reúne mais de 800 igrejas, apresentou um protocolo para a retomada dos templos ao governador Paulo Câmara.
Integrante da Bancada Evangélica, Luiz Eustáquio (PSB) disse que a articulação para a reabertura dos templos sempre se fundamentou no respeito às regras de distanciamento social e de higiene e da orientação para pessoas com comorbidades não irem aos cultos. “Vemos que a vida não pode ser como antes e que o governo está entendendo a importância desse setor para o lado social e espiritual da população", afirmou o socialista, ligado à Igreja Evangélica Assembleia de Deus. (Jailson da Paz)
Por Diário de Pernambuco
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