Foto: Lúcia Xavier/Arquivo BlogAR
O estudo foi feito pelo pesquisador Wayner Vieira, do Instituto Aggeu Magalhães, braço da Fiocruz em Pernambuco. O levantamento avaliou quatro períodos distintos. O primeiro leva em consideração o acumulado até o dia 4 de abril. Nesta parte, dos 195 casos detectados, 71,3% (139) estavam no Recife, 20,5% (40) nas demais cidades metropolitanas e 8,2% (16) no interior. Na segunda parte, que vai de 5 a 25 de abril, 55,1% (2.583) dos novos registros foram na capital, enquanto que 34,5% (1.615) foram dos outros municípios metropolitanos e 10,4% (487) no resto do estado.
O crescimento no interior, de forma mais robusta, começa na terceira parte, que analisa o período de 26 de abril a 16 de maio. Foram 2.444 (16,8%) novos casos em cidades do interior, enquanto no Recife surgiam 7.050 (48,6%) e nas 13 cidades metropolitanas 5.022 (34,6%). Por fim, a quarta e última parte - 17 de maio a 6 de junho - atesta a interiorização do coronavírus: 7.785 (37,5%) novos registros no interior, enquanto na capital foram 7.137 (34,4%) e nos demais municípios metropolitanos 5.844 (28,1%).
O crescimento, de certa forma, já era esperado. “Isso preocupa porque mostra a pandemia começando a atingir regiões e pessoas que estão em locais com menos disponibilidade de leitos. Um caso emergencial que vem do interior terá tempo suficiente para chegar no Recife?”, questiona Wayner. “Uma coisa é ter uma situação de emergência quando mora na capital. Outra é quando você está no interior”, salienta.
A quantidade de mortes acumuladas no estado também reflete a interiorização do vírus. Até 6 de junho, 37,8% (1.242) dos óbitos foram de moradores do Recife e 62,2% (2.047) dos demais municípios, sendo 35,8% (1.178) nas 13 cidades da RMR e 26,4% (869) no interior. O pesquisador alerta que essa distribuição também vai crescer no interior com o passar do tempo.
Alerta reforçado
O resultado do levantamento da Fiocruz corrobora outra pesquisa feita em abril, pelo Instituto de Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD-PE). Na ocasião, foi analisado o salto de casos entre 1 e 20 de abril. No dia 1, o novo coronavírus estava presente em 12 cidades. Já no dia 20, esse número aumentou passou de 80. As rodovias foram vistas como rotas de proliferação para essas regiões, do mesmo modo que o vírus chegou no estado através dos aeroportos.
“A proliferação vem pelos mecanismos de interconexão física entre as pessoas, como terminais de ônibus, coletivos, aeroportos, rodovias. Isso começou pelo Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, e desceu para as vias de acesso, como a BR-232, para o Agreste e Sertão, a BR-423, para a região de Garanhuns, e a BR-101, para a Zona da Mata. O Aeroporto de Petrolina também, porque perceba que antes dos casos aumentarem pelo estado, o vírus já estava por lá”, conta o pesquisador Jones Albuquerque, vice-coordenador do IRRD.
Esse cenário de interiorização do vírus vem sendo levado em consideração pelo governo de Pernambuco. No último dia 10 de junho, durante uma coletiva virtual, o secretário estadual de Saúde, André Longo, manifestou preocupação com essa questão, quando declarou que o Agreste tinha se tornado uma área preocupante. Tanto é que 53 das 85 cidades barradas de avançar no Plano de Convivência do estado, nesta semana, integram o Agreste - regiões de Caruaru e Garanhuns.
"Estamos olhando os indicadores por região. Se houver tendência de reversão dos atuais índices, seja no estado como um todo ou em regiões específicas, o plano de convivência prevê a reversão de etapas ou o cancelamento. Também podemos endurecer as regras em algumas áreas”, disse André, na ocasião.
De março até junho, a Secretaria Estadual de Saúde abriu 1.678 leitos em hospitais administrados pela pasta em todo o estado. No entanto, apenas 31,7% deles (532) estão em unidades do interior. O número é ainda menor quando se considera apenas leitos de UTI - apenas 184. Entretanto, a SES afirma que tem uma "programação diária de abertura de novas vagas", que faz parte da "maior operação sanitária, logística e de mobilização de recursos humanos da história da saúde pública do estado".
"É importante destacar que, desde o dia 7 de junho, o Estado zerou a fila de espera por vagas de terapia intensiva. Desde então, as solicitações ativas de pacientes com a doença têm disponibilização imediata de leito, já que a oferta é maior que a demanda", pontua a pasta.
Diário de Pernambuco
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